“O exemplo do Brasil mostra a importância da democracia para mudanças sustentáveis” Prof. Rodrik. |
“Cada vez que venho ao Brasil acho ele um país mais normal. Neste atual contexto internacional onde tudo está cada vez menos normal, ser considerado um país normal é um grande elogio”, afirmou Dani Rodrik, professor de Política Econômica Internacional de Harvard. Ele contou que veio várias vezes ao país e que a cada vez encontra o país funcionando melhor.
A palestra de Rodrik aconteceu no seminário A Crise Econômica e o Futuro do Mundo, realizado pela Revista Carta Capital, e foi antecedida pela fala de Marcio Holland, secretário de política econômica do Ministério da Fazenda. O professor fez uma análise histórica do crescimento mundial e apontou as caminhos que podem ser seguidos daqui em diante.
Ele ressaltou que o final da década de 90 marca uma mudança na tendência de crescimento mundial: é o momento em que os países em desenvolvimento passam a crescer mais que os desenvolvidos. A questão que se coloca então é até quando isso seria sustentável já que havia uma grande dependência de um contexto internacional favorável para que isso acontecesse.
Falando do caso específico do Brasil, ele lembrou que o país teve dois grande momentos de avanço, nos quais se aproximou da renda per capita dos países mais ricos: um no final da década de 60 e início dos anos 70 e outro mais recente, a partir principalmente de 2004. Ele considera este segundo momento muito mais impressionante não apenas pela forma como foi feito, mas também pela conjuntura internacional desfavorável que enfrentou.
A pergunta que Rodrik se coloca neste momento é: “Os bons tempos continuarão?”. Ele próprio responde explicando que isso depende basicamente de dois fatores: a dinâmica de crescimento doméstico e a economia internacional. No caso brasileiro, Rodrik considera que três diferentes modelos de crescimento foram superados: o baseado nos empréstimos e na dívida externa elevada; aquele da transformação de atividades tradicionais em modernas; e o crescimento baseado nos altos preços das commodities. Estes três modelos seriam capazes de produzir crescimento rápido, mas não sustentável.
Adicionar legenda |
Ele considera que a época dos grandes crescimentos, acima de 7 ou 8% não voltará para o Brasil ou para outros países do mundo. Pelo menos não de maneira sustentável. Mas acredita que, para o Brasil, um patamar de 3 a 4% é factível com as medidas corretas. O Brasil teria chegado agora a uma fase onde o mais importante é o que ele chama de “investimento em fundamentos”, onde o foco estaria na valorização do capital humano e das instituições. Este modelo produz um crescimento lento, mas constante e duradouro, que pode levar o Brasil muito mais longe.
No cenário internacional, Rodrik ressaltou três preocupações principais: a desigualdade social nos Estados Unidos, o desemprego na Europa – que, segundo ele, precisaria de mais união política para resolver seus problemas – e o padrão de crescimento insustentável da China.
O professor de Harvard terminou falando da importância da democracia para desenvolvimento econômico. Ele afirma que sociedades democráticas lidam melhor com problemas e são mais previsíveis, produzindo mudanças mais sustentáveis. Rodrik considera que a experiência brasileira mostrou exatamente isso: “o exemplo do Brasil mostra a importância da democracia para mudanças sustentáveis”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário