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BRITÂNICOS DE ESQUERDA DEFENDEM A FORMAÇÃO DE UM NOVO PARTIDO POLÍTICO QUE REPRESENTE VERDADEIRAMENTE OS ANSEIOS DA CLASSE TRABALHADORA

O ativista antinuclear Kate Hudson e o ensaísta Gilbert Achcar defendem a formação de um partido que represente a alternativa à austeridade dos trabalhistas britânicos.

O Partido Trabalhista deixou-nos ficar mal. Precisamos de um novo partido da esquerda.
No momento em que a época da austeridade morde mais forte e profundamente do que muitos previam, não é de admirar que o novo filme de Ken Loach The Spirit of '45, desenhando o mapa dos grandes avanços sociais do pós-guerra, diga muito a muita gente. Contudo, a promessa de oportunidades, dignidade, saúde e trabalho, que o Estado Social dos trabalhistas  cumpriu após 1945 já não é a que vemos no partido Trabalhista de hoje. Mas a Grã-Bretanha contemporânea - e a do futuro - é precisamente onde essas políticas são necessárias.
A austeridade está causando uma catástrofe econômica na Europa, mais recentemente sobre o povo de Chipre, mas George Osborne (ministro das Finanças do Governo conservador) continua com essas políticas desastrosas. Na semana passada o Orçamento não trouxe surpresas: Osborne anunciou ainda mais cortes na despesa e prolongou o bloqueio dos aumentos salariais no setor público, resultando num corte dos salários reais. Ele está enterrando  a economia num buraco fundo  como mostram as previsões para o crescimento do Gabinete para a Responsabilidade Orçamental - era de 1,2% e passou para 0,6%. Isto significa mais queda e não o prometido crescimento, e são os cidadãos comuns que vão pagar a conta.  A violência dos ataques econômicos do Governo não conhece limites: no apoio aos deficientes, subsídio de desemprego, impostos locais ou nos cortes nos apoios de renda em casas com quartos desocupados - são políticas punitivas  dirigidas aos mais vulneráveis na sociedade.
Avaliada pelos seus objetivos propostos, a política governamental não está  funcionando - o défice será à volta de 61.5 mil milhões de libras acima do que estava previsto. Claro que a verdade é que as políticas de austeridade são desenhadas para desmantelar o Estado Social, baixar salários e mercadorizar a economia por inteiro, destruindo todos os ganhos sociais e econômicos das pessoas desde a II Guerra Mundial. Por isso, do ponto de vista do Governo, estas políticas estão funcionando.
Por toda a sociedade assistimos hoje a uma compreensão cada vez maior da agenda real do Governo, o que resulta no crescimento da oposição e do debate sobre alternativas econômicas.  Ainda na semana passada, o Guardian publicou uma carta de 60 economistas avisarem que o pior ainda está para vir, com 80% dos cortes ainda por fazer. 
Mas enquanto se articulam essas alternativas econômicas  para onde nos podemos virar politicamente para vê-las expressas na política partidária? Quem estão ao nosso lado para lutar por uma alternativa? No passado muitos esperavam que o partido Trabalhista assumisse a nossa defesa e trabalhasse conosco, mas já não é assim. Subsídio de desemprego? Na semana passada os trabalhistas abstiveram-se na votação e agora o Governo pode excluir 250 mil desempregados. O imposto dos quartos desocupados? Irá um governo trabalhista revogá-lo?
Precisamos de políticas que rejeitem os cortes dos Conservadores, regenerem a economia e melhorem as vidas das pessoas comuns. E não estamos vendo nada disto nos trabalhistas. Não há dúvidas de que algumas das conquistas dos trabalhistas no passado foram notáveis - o Estado Social, o Serviço Nacional de Saúde; uma economia redistributiva que tornou possível termos indicadores inéditos na saúde e educação. Mas estas conquistas pertencem ao passado. Agora o partido Trabalhista abraça os cortes e as privatizações e desmantela o bom trabalho que fez. O partido Trabalhista deixou-nos ficar mal. Nada mostra isso de forma mais clara que o filme The Spirit of '45.
O partido Trabalhista não está sozinho na sua guinada à direita e na identificação com as políticas econômicas neoliberais. Os seus partidos-irmãos por toda a Europa seguiram esse caminho nas últimas duas décadas. Contudo, em alguns países europeus, há novos partidos e coligações - com o Syriza na Grécia ou o Die Linke na Alemanha - que começaram a ocupar esse espaço que ficou vazio à esquerda, oferecendo uma alternativa política, social e econômica.  Esta anomalia que deixou os britânicos sem uma alternativa política à esquerda - uma que defenda o Estado Social, que invista em empregos, habitação e educação, transformando a nossa economia - tem de acabar. 
É por isso que apelamos a toda a gente para que se junte ao debate sobre a formação de um novo partido na esquerda. A classe trabalhadora não pode continuar sem representação política, sem defesa, no momento em que todas as suas vitórias e avanços estão sendo destruídos. 

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