A presidente brasileira Dilma Roussef tenta, na tomada de posse do novo chefe de Estado paraguaio, Horacio Cartes, fazer regressar aquele país ao seio do Mercosul.
Não são muitos os chefes de Estado em Assunção na cerimónia de tomada de posse do novo presidente paraguaio Horacio Cartes. Um presidente que faz regressar ao poder o Partido Colorado, que sustentou a ditadura de Alfredo Stroessener. Ainda assim, a cerimónia contará com a presença de 80 delegações estrangeiras. O Uruguai será um dos que se fará representar ao mais alto nível, através do presidente José Alberto Mujica, bem como o Chile, com Sebastian Piñera e Taiwan, com Ma Ying-Jeou.
Mas será a presença da presidente brasileira Dilma Rousseff a que se reveste de maior importância. Dilma representa o país que mais relevância tem na economia paraguaia e, por outro lado, será também porta-voz de uma comunidade de países da América do Sul que integram a Mercosul e da qual depende 30% do PIB paraguaio.
É essa comunidade, que não esquece a destituição do presidente Fernando Lugo e a sua substituição pelo seu vice-presidente Frederico Franco, num processo polémico e de legalidade muito duvidosa, considerado por vários estados e organizações da região como um verdadeiro «golpe». Este processo, que suscitou discursos azedos por parte de Dilma Rousseff e também da chefe de Estado argentina, Cristina Kirshner, esteve na base da suspensão do Paraguai da Mercosul e da Unasul.
Nem Kirshner, nem Nicolás Maduro (Venezuela) vão estar presentes na posse de Horacio, e a expectativa de Rousseff é que o discurso agressivo de Franco seja agora apaziguado pelo novo presidente eleito.
Se a perspicácia diplomática de Dilma conseguir atenuar divergências profundas entre o Paraguai e praticamente toda a restante comunidade de estados da América do Sul, será uma razoável vitória, prestigiante para a presidente brasileira, até porque não são muito elevadas as expectativas.
O processo eleitoral de Abril de 2013 legitimou na presidência do paraguai Horacio Cartes, que receberá o poder das mãos de Frederico Franco, presidente interino fruto do processo de destituição do ex-bispo católico progressista, Fernando Lugo. Com Cartes, a direita do Partido Colorado regressará ao poder. E quem é afinal o presidente do Paraguai?
Talvez a circunstância deste banqueiro de 56 anos, separado e pai de três filhos, ser um dos homens mais ricos num país onde 40 por cento dos seus 6,6 milhões de habitantes vivem em estado de profunda pobreza, e a circunstância de ser também detentor de um clube de futebol, o Libertad, tenha justificado, para a AFP, a comparação de Horacio Cartes com o ex-primeiro-ministro italiano Sílvio Berlusconi. Porém, na verdade, as coincidências são mais evidentes.
Se o processo que esteve na origem do afastamento de Fernando Lugo e conduziu Horacio Cartes ao poder nas eleições de Abril está marcado por suspeitas de ilegalidade, também o próprio processo de selecção do candidato pelo Partido Colorado foi tudo menos democrático. Cartes, que nunca terá votado até 2009, altura em que se filiou naquele partido de direita com mais de 60 anos de história, 35 dos quais ligados à ditadura de Stroessener, obrigou o partido a proceder a uma alteração estatutária para legitimar a sua candidatura. Como Horacio Cartes só tinha quatro anos de militância no Colorado quando os estatutos obrigavam a que o seu candidato presidencial tivesse um mínimo de 10...mudaram-se os estatutos.
Este mecânico de aeronáutica, formado nos EUA, que detém mais de uma dezena de empresas nas áreas das carnes, tabaco, refrigerantes e indústria aeronáutica, terá no seu historial, segundo um dos seus adversários, o liberal Efrain Alegre, uma prisão por evasão de divisas. É também Efrain que o acusa de contrabando de cigarros para o Brasil, de tráfico de droga e de lavagem de dinheiro, tudo acusações que o então candidato negou.
O que «Scarface» não pode negar – epíteto colocada por ter uma cicatriz no rosto – é, segundo a BBC, a presença no seu aparelho de um indivíduo de nome Francisco Cuadra, que terá feito parte do governo do ditador chileno Augusto Pinochet.
O dia da tomada de posse de Horacio Cartes é ainda marcado por uma marcha de professores, em greve há duas semanas.
Nesta marcha que terá lugar em Assunção, no dia 15, os professores procuram garantir o aumento das pensões. Esta movimentação, que promete fechar ruas da capital em dia da tomada de posse do presidente, dura há pelo menos duas semanas com uma greve que será prolongada até dia 28 e que vem paralisando metade dos centros educativos do país.
A cerimónia, que durará dois dias, contará com um sistema de segurança composto por mais de 4500 policias e militares.
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