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MULTINACIONAIS DITANDO AS LEIS NOS EUA

O que cinco motoristas podem fazer

Esta é uma das leis inabaláveis da história: não é possível pôr fim à luta de classes enquanto elas existirem. 
Mesmo nos EUA, onde a correlação de forças é avassaladoramente favorável ao capital, a luta dos trabalhadores freme, abre fendas no cimento e insiste em voltar a florescer. Após mais de um século de chumbo contra todas as organizações e a ideologia da classe operária, continuam a despontar e a resistir inspiradores exemplos de abnegação e consciência de classe.
O Steelworkers Local 8751 é o sindicato dos motoristas do transporte escolar de Boston e conta com um património de décadas de luta, de solidariedade com outros trabalhadores e dedicação a temas como a paz e o anti-racismo. 
Ao contrário da maioria dos sindicatos norte-americanos, o Steelworkers Local 8751 não é uma correia de transmissão do Partido Democrata e nunca renunciou à luta de massas como instrumento. Talvez por isso os motoristas se possam orgulhar de contar com um contrato coletivo de trabalho que lhes confere o direito a um emprego estável, com um salário decente e uma reforma segura. Pelo menos até no passado mês de Junho o serviço ser privatizado e oferecido de bandeja à Veolia, uma das mais sinistras multinacionais de que há memória.
A Veolia emprega mais de 300 mil trabalhadores em 48 países e dedica-se a actividades como o perigosíssimofracking na América Latina, a recolha de lixo de cidadãos não-árabes no Estado de Israel, a privatização da água na Europa ou o transporte de crianças em Boston. Desde que pôs mãos ao trabalho, a Veolia violou literalmente todos os artigos do convénio de trabalho coletivo, reduziu brutalmente os salários e impôs trajetos perigosos ou irrealizáveis.
Primeiro, o sindicato exigiu uma reunião à administração para discutir estes problemas, pedido que a Veolia decidiu peremptoriamente ignorar. 
Então, no dia 8 de Outubro, os trabalhadores responderam com astúcia: como no Estado de Massachusetts a greve é ilegal para a maioria dos trabalhadores, os motoristas picaram o ponto e declararam formalmente o seu interesse em trabalhar depois de falar com a administração sobre assuntos urgentes. Nesse dia, mais de 600 trabalhadores aderiram ao protesto e não trabalharam porque a Veolia se recusou a ouvi-los. Preferiu pedir uma ordem de tribunal para obrigar os trabalhadores a pôr fim à greve e regressar ao trabalho. Também não resultou: o juiz que analisou o caso concluiu que os moldes do protesto não configuravam, tecnicamente, uma greve.
Como não foi possível calar os trabalhadores com a lei, experimentaram os cassetetes: no dia seguinte, o mayor de Boston decretava o lockout da empresa privada e enviava a polícia para impedir os trabalhadores de regressar ao trabalho. Os trabalhadores responderam com um caudal de luta que parecia engrossar a cada novo dia. Para a administração, tornou-se então claro que para derrotar o sindicato havia que começar pelos seus dirigentes.
Assim, a Veolia escolheu os cinco dirigentes sindicais mais destacados e decidiu fazer deles um exemplo. Impôs um processo disciplinar contra os cinco e ameaçou com despedimento. Os «School Bus Union 5», como ficaram conhecidos, eram os responsáveis pela gestão das pensões e das reformas, dos conflitos laborais e pela representação legal dos trabalhadores. Contra o seu injusto despedimento, ergueu-se uma muralha de indignação e protesto que até hoje não se calou. E a prova de que o exemplo heróico dos «School Bus Union 5» é eficaz é que a Veolia ainda não conseguiu reunir condições políticas para os despedir.

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