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A FOME MATA O SONHO AMERICANO

Guerra económica
contra os pobres
O Governo dos EUA cortou dia 1 de Novembro o valor da ajuda alimentar a 47 milhões de pessoas. 
A nova medida de austeridade, inserida no quadro da prescrição do programa de estímulo federal de 2009, traduz-se num corte de mais de 30 dólares por mês para a maioria das famílias carenciadas, o que se reveste de especial gravidade tendo em conta que desde o princípio da crise capitalista o número de trabalhadores dependentes de ajuda alimentar mais do que duplicou.

Agora, nos corredores do Congresso, democratas e republicanos buscam um consenso que permita cortes adicionais. 
O jogo é o mesmo de costume: os republicanos assumem o papel de «polícial mau» e propõem um exorbitante corte adicional de quatro bilhões de dólares. Instala-se o nervosismo, sabe-se lá o que é que o polícial mau nos pode fazer mais. Mas nesse momento, o temível agente da autoridade sai de cena e cede o lugar de interrogador a um simpático e democrata «polícial bom» que garante ao detido que é seu amigo e que afinal só pretende um corte adicional de 400 milhões.
Na verdade, o «polícial bom» democrata é responsável por alguns dos mais graves atos de guerra de classe da história recente dos EUA: ainda não há muito tempo, em 1996, o presidente Bill Clinton instituía o Personal Responsability and Work Opportinity Act, uma lei que limitava monstruosamente os subsídios de desemprego, invalidez e deficiência ao mesmo tempo que chantageava os trabalhadores desempregados para que se submetessem a situações de exploração desumanas.


Segundo as estatísticas oficiais do Governo dos EUA, cerca de 50 milhões de americanos vivem em situação de «insegurança alimentar». 
Destes, 16 milhões são crianças. Mas os novos cortes não serão um drama para todos: Bill Simon é o CEO da Walmart, o maior empregador privado dos EUA e uma cadeia de supermercados conhecida pelas condições miseráveis em que explora os seus trabalhadores. No final de 2011, Simon levou para casa um prémio de 14 milhões de dólares, por garantir junto dos partidos republicano e democrata o crescimento dos lucros da sua empresa. Com efeito, os acionistas da Walmart já estão contando com a nova bonança dos cortes e prevêem que a maioria das famílias atingidas pelos cortes agora tenha que comprar comida no gigante dos supermercados.
Os EUA são o país do mundo que gasta mais dinheiro em armamento e guerras. Nem os gastos de defesa combinados de todos os outros países do mundo alcançam as fortunas que os EUA dedicam ao armamento. Com Obama, 57% do orçamento federal é dedicado ao exército e outros corpos militares. A educação, por seu turno, corresponde a 6% e a saúde a 5%. Os verdadeiros problemas de segurança dos EUA, a fome e a miséria do seu povo, são considerados irrelevantes quando comparados às urgências políticas do império. Como é que 50 milhões de trabalhadores vão sobreviver sem este subsídio, não é uma emergência.
A gana canibal da grande burguesia gera também consequências inesperadas. Uma onda grevista começa a ganhar momento e, como esperava Rosa Luxemburgo, contagia os trabalhadores como um fogo na pradaria. Importantes protestos dos trabalhadores dos correios, dos restaurantes de comida rápida, dos professores, dos condutores de onibus e das grandes superfícies comerciais, conquistam agora uma importância política que há cinco anos seria imponderável. E mesmo a nível eleitoral, notam-se importantes sinais de mudança. 
Em cidades como Mineápolis ou Seattle, candidatos que se assumem abertamente como socialistas conquistam estes dias entre 30 e 50% dos votos.

Há pouco tempo, um amigo norte-americano dizia-me que nascer nos EUA é como entrar a meio para um jogo de monopólio: todas as propriedades já estão compradas e onde só temos o dinheiro com que começámos. Como um elefante na sala, torna-se óbvio que a dificuldade crescente do povo estado-unidense em sobreviver não pode ser ultrapassada com as regras deste jogo.

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