Os Estados Unidos estão aumentando a presença militar na África, numa estratégia de controle das matérias-primas, em especial do petróleo.
Há notícias de que o Pentágono quer estabelecer uma «estação de monitorização» em Cabo Verde, ao mesmo tempo que, mais a Sul, no Golfo da Guiné, navios e militares norte-americanos patrulham as águas territoriais de S. Tomé e Príncipe.
Um artigo recente publicado por Nikolas Kozloff no portal The Huffington Post, intitulado «Washington e a batalha pelo mundo lusófono africano», explica que os EUA evitam a construção de grandes instalações militares, preferindo as pequenas bases, designadas «flores de nenúfar».
Em S. Tomé e Príncipe – onde existe, além de um potente retransmissor da «Voz da América», um sistema de modernos radares, único em África, e a guarda-costeira é «assistida» pela marinha dos EUA – poderá ser instalada uma base de vigilância marítima regional.
O objetivo do reforço militar dos EUA na África Ocidental é o controle das fontes de produção e das rotas do petróleo do Golfo da Guiné. Mesmo que o pretexto seja o combate ao «terrorismo islâmico» (a ação dos grupos radicais generalizou-se na região depois da agressão da NATO à Líbia e da intervenção francesa no Mali e no Níger) e a luta contra tráfico de droga (o exemplo mais conhecido é o da Guiné-Bissau, transformado em «narco-estado»).
O artigo cita o almirante Robert Moeller, antigo vice-chefe do Africom, para quem proteger «o livre fluxo dos recursos naturais de África para o mercado global» é mais importante do que entrar em guerras pelas fontes energéticas. Em 2015, um quarto do petróleo importado pelos EUA será proveniente de África, onde os norte-americanos enfrentam a forte concorrência da China.
Segundo Kozloff, em 2009, a Sinopec, uma empresa petrolífera chinesa, comprou a companhia suíça Addax, o que colocou nas mãos de Pequim o controle de quatro blocos de petróleo na zona de exploração conjunta S. Tomé e Príncipe-Nigéria. A entrada em cena da Sinopec nos negócios do Golfo da Guiné faz da China o principal parceiro do setor petrolífero santomense, embora a produção só comece dentro de alguns anos. Curiosamente, o governo de São Tomé não mantém relações com Pequim já que, há alguns anos, preferiu estabelecer laços económicos com a «República da China» sediada em Taiwan...
Um outro especialista de questões africanas, Mohamed Hassan, tem denunciado a tentativa de o Ocidente, a pretexto da luta contra o «terrorismo islâmico», submeter militarmente a África a fim de travar a influência económica da China e de outras economias emergentes como o Brasil ou a Índia.
«As guerras ocidentais em África multiplicam-se. Em 2008, os EUA criaram o Africom, um centro de comando único para todas as operações militares em África. Depois, houve a Costa do Marfim, a Líbia, o Mali... Sem contar com a Somália e o Congo, teatros de violentas guerras indiretas desde há anos», resume o investigador, sublinhando que, no continente africano, as agressões das potências capitalistas em plena crise têm como pano de fundo a competição com a China e o controlo das matérias-primas.
Autor de «A estratégia do caos», Hassan explica a importância crescente de África no atual contexto global, marcado pelo agravamento da crise do capitalismo e pela emergência de novas potências.
No subsolo africano encontram-se intactas grandes reservas de petróleo, de gás e de metais ordinários ou raros. Estima-se que o continente possua 40 por cento das matérias-primas minerais mundiais, o que lhe confere uma enorme importância estratégica.
O crescimento rápido da China e de outras economias exige enormes quantidades de recursos naturais. Ao mesmo tempo, estes países têm necessidade de exportar e a África surge como um mercado prometedor – a China é já o principal parceiro comercial dos países africanos, à frente dos EUA, ambos tendo ultrapassado a França e a Grã-Bretanha.
Por estas razões, segundo Hassan, conquistar o controle da África torna-se urgente para Washington e isso não se pode fazer unicamente pela concorrência dos atores económicos no mercado «livre». Para o bloco imperialista «trata-se acima de tudo de uma questão militar». E daí o papel decisivo dos EUA e da NATO desde 2011 nas guerras em África. E da crescente «cooperação militar» do Africom com 35 estados africanos.
Esta intervenção do Ocidente nas guerras em África, de forma direta ou por intermédio dos seus aliados indígenas, vai aumentar nos próximos anos.
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