Um clamor percorre a América:
Ao longo da semana passada multiplicaram-se em todas as grandes cidades dos EUA as manifestações de repúdio a uma agressão imperialista contra a Síria.
Em São Francisco, Seattle, Chicago, Nova Iorque, Washington, Albuquerque, Tallahassee e Boston, dezenas de milhares de estado-unidenses saíram à rua para exigir um ponto final na perigosa escalada de tensão bélica que marca os nossos dias. Che Guevara dizia que invejava os americanos do Norte porque, vivendo no «coração da besta», lutavam a mais importante das batalhas anti-imperialistas. Sondagens recentes estimam que 95% do povo dos EUA se opõe a esta nova guerra e mesmo dentro das forças armadas crescem os apelos à deserção e à desobediência caso um ataque contra a Síria se materialize.
A oposição maciça dos norte-americanos à guerra, fator decisivo na prevenção desta imponderável loucura, assume também uma natureza de classe: é cada vez mais claro para os trabalhadores americanos que as aventuras do imperialismo só prejudicam os que vivem do seu trabalho. São os trabalhadores que vão para a guerra e pagam no final a conta; são eles que perdem os seus filhos sem saber porquê e são eles que vêem as suas escolas públicas encerradas para, com o dinheiro poupado, inaugurar porta-aviões. «Não teremos botas no chão», afiançou Obama aos seus compatriotas, em jeito de promessa de que só correrá sangue sírio. Mas nem assim os americanos se demoveram da sua incredibilidade. Afinal, quantas vezes se pode enganar o mesmo povo com as mesmas mentiras?
Os EUA falam de novo numa guerra humanitária, como aquela que semeou a destruição e a morte na ex- -Jugoslávia. Aí está de novo Obama, na esteira de Bush e Nobel da paz ao peito, a agitar o fantasma das armas químicas embora use diariamente urânio empobrecido e fósforo branco contra todo o Médio Oriente.
Uma vez mais, ouvimos falar do «fardo do homem branco»: civilizar com napalm e chumbo os povos que se permitem ser governados por psicopatas e ditadores. Nas ruas, nas empresas e nas escolas, são cada vez mais os estado--unidenses que questionam a investidura do seu Governo como polícia do mundo.
Como podem os EUA, com o maior arsenal nuclear do planeta e único país que alguma vez usou armas nucleares contra civis querer livrar o mundo de armamentos perigosos noutras terras?
Que moral tem para falar de armas químicas, quem pulverizou o Vietnam com mais de 80 milhões de litros de agente laranja e outros herbicidas letais, afetando mais de cinco milhões de civis? E o que valem as provas de Obama, se também Dick Cheney um dia perante a ONU acenou com um frasquinho de pó branco, afirmando ter provas irrefutáveis de que Saddam tinha armas de destruição em massa?
A preenchida agenda do imperialismo O cepticismo vem dos próprios generais norte-americanos. Wesley Clark, general de quatro estrelas do Exército, contou em entrevista a Amy Goodman no Democracy Now! a conversa que teve em 2001 com outros generais: «Desci as escadas para dizer olá a algumas pessoas do Estado Maior que tinham trabalhado para mim e eis que um dos generais me chama. Agarrou num pedaço de papel e disse-me “acabei de receber isto lá de cima” referindo-se ao Secretário da Defesa. (…) Era um memorando que descrevia como vamos derrubar sete países em cinco anos, começando com o Iraque e depois a Síria, o Líbano, a Líbia, a Somália, o Sudão e, por fim, o Irã.»
O povo dos EUA de estúpido só tem a fama. Neste momento de incerteza, o clamor de toda a humanidade encontra eco combativo nas gargantas dos norte-americanos, que já reservaram as ruas durante toda esta semana para assegurar ao mundo que Obama não fala em nome dos americanos. Fala sim em nome do capitalismo, sinónimo universal de guerra que não conhece pátria nem nacionalidade.
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