Os Estados Unidos expandem a guerra global
através de veículos aéreos não tripulados
Por Thomas Gaist
30 de agosto de 2013
Pelo que o Washington Post descreve como a "próxima fase da guerra de "drones", a administração Obama está decidida a "estender a densa rede de vigilância do Pentágono muito além das áreas tradicionais, fora, portanto, das zonas de combate declaradas".
De acordo com o Post, Washington resolveu destacar sua esquadrilha de drones mundo afora, onde será usada para monitorar o tráfico de drogas, piratas e "outros alvos que preocupem os meios oficiais dos Estados Unidos".
Uma porta-voz do Departamento de Defesa afirmou que as forças armadas "estão incumbidas de ampliar" as atividades dos drones através da Ásia e do Pacífico. O Post também cita a Colômbia como um teatro de guerra provavelmente acrescido com o emprego de drones, embora os americanos já os tenham empregado em operações contra os "narcoterroristas" em colaboração com forças militares colombianas.
"A vigilância dos drones podem realmente ajudar-nos a evitar o emprego de alguns de nossos aviões tripulados", declarou em março o oficial do Comando Meridional da marinha John F. Kelly, Enquanto Obama tem alegado que "a onda de guerra está recuando", na realidade o governo dos Estados Unidos intensificam as operações militares em todo o mundo. No decorrer da última década, formaram esquadrilhas de centenas de "veículos aéreos de grandes altitudes, não tripulados" (UAVs), que agora executam missões diárias para fins estratégicos de interesse do imperialismo americano. Só a série de drones "Predator" executou pelo menos 80.000 sortidas em áreas de conflito, abrangendo o Afeganistão, o Paquistão, a Bósnia, a Sérvia, o Iraque, o Iêmen, a Líbia e a Somália.
Em seu artigo de 2013, intitulado "Quantas guerras os Estados travam hoje?", de Linda Bilmes, da Harvard School of Government e Michel Intriligator, da Universidade da Califórnia (Los Angeles), asseguram que os Estados Unidos estão empenhados em pelo menos cinco "guerras não reconhecidas e não declaradas" com o emprego de sistemas de armas robóticas.
Como acentua o documento, estes conflitos fazem parte de uma longa "tradição de muitas incursões militares americanas anteriores e encobertas", inclusive as do Chile, de Cuba e da Nicarágua e em muitos outros países. Tecnologias militares de ponta têm facilitado a extensão massiva de tais operações bélicas secretas. Afirmam os autores, que a "emergência de operações por meio de instrumentos robóticos está possibilitando o envolvimento dos Estados Unidos cada vez em mais em conflitos em diferentes partes do mundo".
O relato afirma: "Hoje os Estados Unidos estão envolvidos em dezenas de operações nos cinco continentes. O poderio militar dos Estados Unidos constitui o mais amplo fautor bélico, com significativas instalações militares em mumdiais e com expressiva presença no Bahrein, no Djibuti, na Turquia, no Qatar, na Arábia Saudita, no Kuait, no Iraque, no Afeganistão, no Cosovo e no Quirguistão, além das bases há muito tempo estabelecidas na Alemanha, no Japão, na Coreia do Sul e no Reino Unido".
Acrescente-se que os Estados Unidos dispõem de "algum tipo de presença militar" na Colômbia, no Egito, no Irã, na Jordânia, no Cazaquistão, na Líbia, em Omã, no Paquistão, nas Filipinas, na Síria, no Tadjiquistão, no Turcomenistão, na Arábia Saudita e no Iêmen.
Bilmes e Interligator afirmam que "a criação de aviões-robôs seguros, precisos e operados por controle remoto tem possibilitado aos Estados Unidos expandir dramaticamente o numero de ataques sorrateiros e extra-oficiais sem a necessidade de fornecer informações ao público sobre os lugares onde operam, como são escolhidos os alvos, ou quantas pessoas mataram, inclusive espectadores civis".
Estatísticas da New American Foundation revelam que ataques de drones têm se estendido em razão exponencial. O Paquistão foi atingido por pelos menos nove ataques desse tipo de 2004 a 2007, elevando-se para 118 em 2010.
Muitas operações militares menores com o emprego de drones, na África e no Oriente Médio, aumentam sua frequência. O anterior chefe do Comando dos Estados Unidos para a África (AFRICOM), general Cartet Ham, declarou em fevereiro que suas forças necessitavam de um aumento da capacidade de supervisão e vigilância para o continente.
Os drones americanos têm efetuado sortidas na África do Norte, e os Estados Unidos já operam esses aparelhos a partir de bases no Djibuti, na Abissínia e nas Seychelles.
Como parte da "Operation Nomad Shadow" (Operação Sombra Nômade), programa secreto americano de vigilância militar, as forças dos Estados Unidos estão presentemente lançando drones destacados na base aérea de Inkirk (Turquia) com o objetivo de fornecer informações para os militares desse país em sua campanha contra o separatista Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK). Os drones penetram no Iraque setentrional a fim de coletar dados posteriormente transmitidos para uma "célula de fusão", onde são analisados.
As operações com drones suscitam crescente hostilidade popular na Turquia. Protestos surgiram em 2012 como reação a um ataque aéreo dirigido por pilotos turcos guiados por drone americano, que matou 34 civis. Um drone estadunidense alvejou incorretamente um comboio de civis na suposição de que fosse constituído de guerrilheiros do PKK. Documento divulgado na quinta-feira pelo Pew Research Center constatou que 82% dos turcos se opõem às operações da guerra global de Obama.
Simultaneamente às operações externas, a administração Obama acelera as operações de drones nos Estados Unidos. O Office of National Sanctuaries (ONMS), por exemplo, tem adquirido drones Puma que os baseia próximos de Los Angeles, e são empregados pela marinha.
O ONMES no momento trata de expandir seus vôos em outras regiões, inclusive o Havaí, a Flórida e Washington. Planeja-se agora a construção de novo hangar, orçado em 100 milhões de dólares, em Fort Riley (Kansas); ao mesmo tempo outro hangar e um campo de pouso são construídos em Fort Hood (Texas).
As operações bélicas por meio de aviões robóticos pesam seriamente nas vidas dos cidadãos. O ano passado o Bureau of Investigative Journalism - BIJ - (Departamento de Jornalismo Investigativo) divulgou informações de que os ataques alvejam os grupos de socorro, cortejos fúnebres e todos aqueles que retornem aos cenários dos ataques de drones após as explosões iniciais, tática conhecida como "segunda pancada". A assim chamada assinatura dos ataques de drones é frequentemente decidida por análises de "comportamentos padrões", de indivíduos em reuniões supostamente suspeitas e movimentos classificados como alvos.
De acordo com o BIJ, os ataques de drones americanos foram responsáveis por no mínimo 3.500 mortes, inclusive de cidadãos norte-americanos, pessoalmente selecionados para extermínio pelo presidente Obama. O BIJ assevera que ao menos 555 das mortes são de civis, em contraposição ao que alega a senadora Dianne Feinstein de que as baixas giravam em torno de "dígitos únicos".
O governo paquistanês calcula, segundo documento interno que vazou, sob o título "Detalhes de Ataques de forças da NATO e Predators in FATA" demonstram que pelo menos 147 das 746 pessoas mortas pelos drones estadunidenses entre 2006 e 2009 eram civís, entre as quais 94 crianças. Um relatório divulgado pelas faculdades de direito Stanford e a NYU no ano passado afirma que 50 civis são mortos para cada "insurgente" eliminado pelos ataques.
A administração Obama, como observou o Post, "estendeu ampla cortina de silêncio em torno de seu programa mundial de drones", operando em segredo e firmado em dispositivos secretos elaborados com o objetivo de institucionalizar assassinatos em todo o mundo.
Em maio, Obama fez um discurso negando firmemente o emprego de ataques por drones em sua administração, e anunciando simultaneamente a adoção de uma política consubstanciada na "Diretriz Política Presidencial". Obama afirmou, "pela mesma razão do progresso humano que nos proporciona tecnologia para atacar meio mundo, também é obrigatório que se adote disciplina para refrear esse poder - ou riscos de abusos dele decorrente. É por esse motivo que, nos últimos quatro anos, meu governo tem trabalhado seriamente no emprego de força contra terroristas, persistindo na aplicação de diretrizes claras, supervisão e confiabilidade, agora incluídas na Diretriz Política Presidencial que ontem assinei".
O documento denominado Diretriz Política Presidencial (DPP) é um dos mais de 20 dispositivos políticos baixados por Obama e dos quais o público não tomou conhecimento. Consoante o www.allgov.com/, a DPP é uma "declaração pelo Presidente dirigida ao executivo, que "se torna parte da estrutura particular e legal em torno de algum estatuto ou programa".
A DPP institucionaliza e proporciona um falso verniz de legalidade para a campanha de alcance mundial de assassinatos direcionados. O que Obama apresenta como contenção de poder é, na realidade, uma medida que priva todo e qualquer indivíduo, em qualquer parte do mundo, do direito de não ser assassinado arbitrariamente por mera decisão de algum burocrata americano.
A guerra mundial de drones é um instrumento primário da política externa estadunidense. É travada sob o manto fraudulento da "Guerra Global contra o Terrorismo", não com o propósito de defender os Estados Unidos contra terroristas, mas como parte da expansão de sua agenda militarista que visa à manutenção do domínio estratégico imperialista em franca erosão.
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