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O CACHORRO NORTEAMERICANO NA AFRICA

O longo braço de Israel na África
 
Forças de elite israelitas participaram na operação militar de resgate de reféns capturados por um comando islamita somali num centro comercial em Nairobi
«Assessores» dos serviços de inteligência norte-americanos e britânicos enquadraram também as tropas quenianas.
O ataque ao luxuoso «Westgate Mall» foi desencadeado no sábado à tarde e só foi dado como reprimido na terça-feira. Provocou dezenas de mortos e centenas de feridos quenianos e estrangeiros.
Trata-se do atentado mais mortífero em Nairobi desde a acção suicida, em 1998, contra a embaixada dos Estados Unidos, reivindicada pela Al Qaeda e que causou mais de 200 vítimas.
A autoria do ataque deste fim-de-semana foi atribuída pelas autoridades do Quénia ao grupo Al Shabab, uma milícia islâmica da vizinha Somália, como represália pela presença de tropas quenianas naquele país do Corno de África. Os militares quenianos integram a Amisom, a missão de paz da União Africana na Somália, cujo Estado entrou em colapso desde 1991 e é disputado por diferentes milícias armadas rivais.
Quanto à Al Shabab, que controla uma parte do território somali e já tinha levado a cabo ações contra interesses quenianos, é considerada pela CIA uma organização terrorista e com ligações à Al Qaeda.
O que significa pouco: sabe-se que a agência norte-americana criou, financiou e armou vários grupos terroristas – desde o Afeganistão e o Iraque até à Síria, passando pela Líbia, Mali ou Somália –, manipulando-os como uma autêntica «tropa de choque» ao serviço dos interesses imperialistas e da sua estratégia de divisão dos povos para mais facilmente os dominar e pilhar as suas riquezas.
Na Somália, a Al Shabab e outras milícias dos senhores da guerra são financiadas pelo tráfico de droga, pelos resgates obtidos com raptos de estrangeiros, pela pirataria marítima (desencadeada pela chegada à costa somali de frotas pesqueiras ocidentais) e até pela «gestão», em parceria com a camorra napolitana, do negócio de resíduos tóxicos lançados nessa zona do Índico…
Discretamente noticiada no Ocidente, a intervenção da unidade de elite da polícia israelita (trata-se da Yamam, especializada na «luta anti-terrorista») em Nairobi não surpreende e confirma as boas relações Israel-Quénia e a crescente influência da diplomacia israelita na África subsahariana.
Não surpreende porque o «Westgate Mall» é propriedade de um homem de negócios judeu, Alex Trachtenberg, radicado na capital queniana há décadas.
E não surpreende pela vasta «experiência» de Telavive em operações militares no estrangeiro e pelos laços políticos e económicos que mantém com dezenas de governos africanos.
Desde há muito que Nairobi e Telavive estabeleceram relações diplomáticas, económicas e de segurança. O Quénia é um velho aliado de Israel na África Oriental e, por exemplo, em 1976, apoiou a ação israelita contra os palestinianos, no aeroporto de Entebe, no Uganda. Atualmente, os dois países cooperam nas áreas militar, de segurança e agrícola. 

Relações com 40 países
 
 
Um artigo de Gilles Munier publicado em finais de Agosto na edição on-line da revista «Afrique-Asie» desvenda a evolução da política africana do Estado hebraico.
Na década de 70, depois das guerras de agressão de Israel contra os palestinos e outros povos árabes (1967 e 1973) e quando as Nações Unidas aprovaram que «o sionismo é uma forma de racismo e discriminação racial», apenas alguns países em África mantinham relações diplomáticas com Israel.  Após os acordos de Camp David (1978) e de Oslo (1993), coroados pelo aperto de mão entre Yasser Arafat e Yitzhak Rabin na Casa Branca, muitos estados africanos estabeleceram ligações com Telavive. Justificaram então que «não tinham que ser mais árabes do que os árabes».
A ofensiva israelita em África foi apoiada politicamente e financiada por Washington. Já nos anos 60 e 70, o orçamento destinado pela CIA às operações secretas da Mossad a Sul do Sahara – nomeadamente em Angola, Congo-Kinshasa Sudão e Uganda – aproximava-se dos 20 milhões de dólares anuais.
Desde então, e de forma discreta e paciente, Israel multiplicou as formas de «cooperação» com os países africanos. Acolhe estudantes, forma técnicos na área agrícola, treina militares – o que lhe permitiu implantar redes de influência e de informações em boa parte do continente.
A venda de armas (em 2012, Israel era o 8.º exportador mundial de armas) e, sobretudo, a formação de agentes dos serviços de segurança e de corpos policiais de elite, ocupam hoje um lugar privilegiado nas relações entre Israel e cerca de 40 países africanos – entre os quais os mais ricos, como a África do Sul e a Nigéria.
Assim, Israel não só desempenha o papel de polícia dos Estados Unidos no Médio Oriente como é um dos longos braços do imperialismo norte-americano em África.

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