OBJETIVO DO GOLPE - Beneficiar, em última instância, a desnacionalização da economia brasileira, a demolição da engenharia nacional e a privatização da Petrobrás.
A redução da capacidade do Brasil de ser alavanca apoiadora da integração da América Latina e de ter, com os países do BRICS, sobretudo Rússia e China, uma cooperação capaz de fazer frente ao crescente intervencionismo dos EUA em várias regiões, especialmente onde haja petróleo e riquezas estratégicas, das quais o Brasil é exemplo, conduzirá e condenará o povo brasileiro a miséria.
Lavajato quer tirar Brasil do BRICS e CELAC
.
Não deveria ficar em segundo plano os impactos internacionais que a Operação Lavajato pode trazer, com a possibilidades de alterar, sobremaneira, o xadrez geoestratégico mundial . Aliás, alguns destes impactos já estariam ocorrendo, na medida em que jornais especializados em economia, destinado a público empresarial, alertam para a “insegurança jurídica” que já teria desencorajado aos investidores que formam parte de projetos liderados pela Petrobrás e pelas grandes empresas de engenharia nacional, responsáveis por obras indispensáveis, tanto no Brasil como no exterior.
Durante muitos anos, a Petrobras e suas subsidiárias galgaram posições em numerosos projetos energéticos em países da América Latina, Oriente Médio e África. A ampliação da presença da maior estatal brasileira, um dos frutos principais da Era Vargas, foi acompanhada pela presença de empresas de engenharia brasileira, reconhecidas internacionalmente pela sua excelência, que também assumiram obras de grande porte em diversos países destas regiões citadas. Essa ampliação do raio de ação começou bem antes de Lula ter chegado à presidência, ainda no regime militar.
Petrobrás: presença do Brasil no mundo
As relações estratégicas do Brasil com determinados países sempre foi assunto de indisfarçável importância na geopolítica mundial. Jango expandiu significativamente as relações de cooperação entre Brasil e URSS, e também com a China, quando foi surpreendido pelo golpe cívico-militar organizado a partir da Casa Branca, com volumoso uso de recursos financeiros para interferir no Congresso Brasil e nos meios de comunicação. Com a instalação da ditadura, o afastamento entre Brasil e URSS e China foi uma imposição norte-americana, bem como a ruptura de relações com Cuba, só reatadas no Governo de José Sarney, em 1986.
Ainda no governo de Ernesto Geisel, o Brasil retoma um processo de reaproximação com a China , a URSS e outros países do Leste Europeu, ao mesmo tempo que a política externa brasileira vai colecionando áreas de conflitos com os EUA. Por exemplo, quando o governo brasileiro reconhece o governo de Agostinho Neto, em Angola, ainda no dia 11 de novembro de 1976. Kissinger veio ao Brasília e reclamou da posição brasileira em Angola, afirmando que o Brasil estaria fazendo o jogo de Cuba, impertinente admoestação que Ernesto Geisel respondeu afirmando que “a política externa brasileira não estava em discussão na agenda”.
Aquela política externa havia possibilitado a presença brasileira, sob a forma estatal ou de empresas de engenharia em numerosos projetos de infraestrutura decisiva em muitas regiões, especialmente em países com políticas de soberania nacional e resistência às interferências indevidas dos EUA. Assim, vimos como os bombardeios da Otan, chefiada pelos EUA, demoliram a infraestrutura do Iraque, em grande parte construída por empresas brasileiras, muitas delas alvo, hoje, da Operação Lavajato, tendo muitos de seus proprietários ou executivos, presos sem acusação definida, prisões que exorbitam toda a rotina judicial, colocando o direito de cabeça para baixo, no que adquire, portanto, inevitável significado político.
Agressão da Otan prejudicou engenharia brasileira
Após os bombardeios, o Iraque foi ocupado por empresas petroleiras norte-americanas, como a Halliburton, de propriedade do então vice-presidente dos EUA , Dick Cheyne. Ou seja, as empresas brasileiras de engenharia também foram vítimas de operação militar imperial. O mesmo se repetirá, anos depois, quando 166 dias de bombardeio da OTAN demoliu toda a infraestrutura da Líbia, em grande parte obra de empresas brasileiras, as mesmas que hoje encontram-se sob bloqueio da Operação Lavajato. A participação brasileira na economia da Líbia, havia colaborado para levar aquele país, então liderado por Moamar Kadafi, a se transformar na nação com os mais elevados indicadores de desenvolvimento humano de toda a África. Com a vitória militar da Otan, lastreada em sanguinária ilegalidade, e ocupado o país, as empresas brasileiras foram afastadas, substituídas por outras dos EUA e da França , e a Líbia regride a níveis de barbárie, além de ser alvo de rapina por parte de países que se consideram democráticos e humanitários.
Na medida em que operadores da Lavajato, Justiça Federal e Ministério Público Federal, levam informações estratégicas de Petrobrás a autoridades dos EUA, solicitando ajuda nas investigações, a dimensão geopolítica desta operação salta à vista. O quadro é mais complexo se atentarmos para o convênio operacional entre Polícia Federal e o FBI – convênio firmado no governo FHC e não questionado nos últimos anos – tendo em vista a forte influência exercida pela instituição norte-americana sobre a brasileira.
Apoio externo a manifestações no Brasil
As informações amplamente divulgadas dando conta de que organizadores das manifestações no Brasil, a partir de junho de 2013, recebem apoio, inclusive financeiro, de fundações e entidades sediadas nos EUA, remetem à conexão que deve ser destacada entre os objetivos geopolíticos estadunidenses , especialmente focalizados para países com ampla riqueza petroleira e peso econômico e político internacional, como é o caso do Brasil, e os resultados práticos da Operação Lavajato.
A orientação política implementada por Lula, fortalecendo a aliança estado e grandes empresas de infraestrutura, com capacidade de servir de alavanca na materialização de obras e projetos que viabilizam e reforçam a integração regional latino-americana e uma presença brasileira efetiva na África, despertou irritação imperial. Com o ingresso do Brasil nos BRICS, recuperando assim uma linha estratégica que estava em curso no governo Jango (abandonada na era FHC) , assume uma importância que projeta novo papel do Brasil no mundo, com destacado aliado de países que não se submetem a ditames de Washington.
Junte-se a este cenário o reforço que os governos Lula e Dilma conferiram ao papel das Forças Armadas e à indústria bélica, que, durante o governo FHC registrou um processo de demolição, e de raquitismo orçamentário, condizentes com o pensamento do presidente sociólogo de se submeter às ordens para implementar um desarmamento unilateral, reservando ao Brasil uma presença secundária e dependente na cena internacional. Pior ainda, dotado de amplo território e amplas riquezas energéticas, a política do ex-presidente FHC colocara o Brasil em posição temerária, pois o desarme unilateral e a desindustrialização, inclusive bélica, ocorria no mesmo momento em que os países intervencionistas imperiais ampliavam suas ações agressivas por via militar, expandindo sua presença para os quatro cantos do planeta, para o que multiplicaram seus orçamentos militares ameaçadores.
Querem retirar o Brasil do BRICS
Assim, retirar o Brasil dos BRICS, afastá-lo de países como Rússia , China, Índia e África do Sul, é evidentemente uma pretensão de Washington, razão pela qual não se pode descartar conexões entre a Operação Lavajato e aquela pretensão, sobretudo para reduzir a presença efetiva do Brasil, política, mas também produtiva, nas iniciativas estratégicas como Celac, Unasul e , como já mencionado, os BRICS. Somente analisando por esta lógica se pode compreender a excepcional e incompreensível punição de 19 anos de prisão, conferida pela Operação Lavajato ao presidente da Odebrecht, empresa que, em aliança operacional com o Estado Brasileiro, herdado da Era Vargas, realiza obras de enorme envergadura estratégica , entre elas a construção do Porto de Mariel , em Cuba, capaz de promover uma revolução produtiva dentro da Revolução Cubana. Com isto, projeta novo alcance estratégico para a economia da Ilha e para toda aquela região, bem como para pavimentar maior presença da China na América Latina.
Ao ter como alvo uma paralisação produtiva da Petrobras, trazendo desemprego nas obras desta estatal em parceria com empresas também alvo de investigações e de ações paralisantes, a Operação Lavajato, cria uma situação que favorece a presença de empresas estrangeiras em áreas estratégicas da economia brasileira. No Iraque e na Líbia, esta pavimentação das empresas dos EUA e de outros países imperiais deu-se por meio de bombardeio. Aqui no Brasil, este objetivo se pretende alcançar por meio de uma ação paralisante da economia de boa parte do PIB, representada pela Petrobrás e sua cadeia produtiva, bem como por um conjunto de ações visando desestabilizar as forças políticas, seletivamente o PT, que foram capazes de dar sustentação institucional a esta aliança estado-empresas que vem sustentado a realizando de obras fundamentais de infraestrutura, mas também na esfera social, como o Mais Médicos, Bolsa Família, Luz para Todos, financiados pelo aumento de arrecadação que aquela aliança estado-empresas possibilitou.
Lula, ministro
Lula deixou a presidência da república com 80 por cento de popularidade. Enquanto Bill Clinton é enaltecido pelas palestras que oferece em todo o mundo, inclusive aqui no Brasil, Lula, que é convidado a palestrar, em inúmeros países, sobre como reduziu a miséria em seu governo, passa a ser questionado e acusado de cometer irregularidades ao defender interesses brasileiros em escala internacional. Os meios de comunicação brasileiros se associam a interesses externos em detrimento do estado, das empresas e do mercado de trabalho brasileiros, dando preferência a empresas estrangeiras, inclusive sustentando campanhas para a desnacionalização da Petrobrás e do petróleo pré-sal.
Vale contar uma história de como, em 1980, a Odebrecht perdeu uma concorrência no Chile de Pinochet. Recém eleito, Ronald Reagen, telefonou diretamente a Pinochet para interferir numa licitação para uma obra de infraestrutura no país andino, para que ela não fosse vencida pela Odebrecht e sim por uma empresa dos EUA, tal como ocorreu. Reagan prometeu a Pinochet que desativaria a campanha de direitos humanos que o Presidente Carter vinha fazendo contra a sanguinária ditadura chilena.
Tanto a Operação Lavajato com a política dos meios de comunicação em sua sustentação, cúmplice de vazamentos seletivos de informações que deveriam estar em segredo de justiça, servem ao mesmo objetivo de beneficiar , em última instância, a desnacionalização da economia brasileira, a demolição da engenharia nacional, a privatização da Petrobrás, e, com isto, a redução da capacidade do Brasil de ser alavanca apoiadora da integração da América Latina e de ter, com os países do BRICS, sobretudo Rússia e China, uma cooperação capaz de fazer frente ao crescente intervencionismo dos EUA em várias regiões, especialmente onde haja petróleo e riquezas estratégicas, das quais o Brasil é exemplo.
Soberania
Sob este mesmo ângulo de análise, não deve ser esquecida a simbologia contida da controvertida prisão do Almirante Othon Pinheiro, uma das grandes cabeças do Programa Nuclear Brasileiro, presidente da Eletronuclear, valendo a lembrança de que o esforço nacional em matéria de energia atômica, iniciado também na Era Vargas, tendo à frente do Almirante Álvaro Alberto, sempre encontrou perseguição por parte dos EUA. Prova disso foi o sequestro de turbinas atômicas que o Brasil encomendou à Alemanha, em pleno Porto de Hamburgo, em 1952, ´praticado por militares dos EUA. Este objetivo, de impedir que o Brasil seja um protagonista também na indústria nuclear, sempre declarado pelos EUA, encontra, agora, um reforço na Operação Lavajato, que mantém preso, há vários meses, um almirante respeitado em todo o mundo por suas qualidades de inovação científica e tecnológica no setor. O alvo, sem dúvida, declarado ou não, é impedir que o Brasil conclua seu projeto de construção do submarino nuclear, tão apoiado por Lula e Dilma., indispensável para assegurar soberania brasileira sobre o petróleo pré-sal.
Em se transformando em Ministro, com presença diária na definição de políticas de estado, priorizando as ações de impacto popular de curtíssimo prazo, não uma linha de recuperação convencional de longo prazo como, de modo alienado, vem sendo defendido pelo Ministro da Fazenda, Nelson Barbosa. Lula ajudará com sua lucidez e visão geoestratégica na recuperação de condições políticas internas na recuperação da capacidade de iniciativas do governo para, com isto, dar continuidade a uma cooperação crescente do Brasil com os BRICS, a Celac e a Unasul, bem como uma presença efetiva na África, para onde os países imperiais só enviam contingentes militares. Assumindo o Ministério, Lula e o governo Dilma enviarão ao mundo democrático e progressista uma mensagem de esperança.
Beto Almeida
O golpe, “produto da mídia servil à elite da rapina”
.
O presidente do Ipea e professor de Ciência Política da Universidade Federal Fluminense (UFF) Jessé Souza faz uma análise histórica da política brasileira que alcança atualmente uma situação de grave retrocesso. O texto “Quem deu o golpe, e contra quem?” publicado neste domingo (24) na Folha de S. Paulo, faz uma análise crítica da disputa da “elite do dinheiro” que desde a década de 1930 “quer drenar o trabalho de todos e saquear as riquezas do país para o bolso de meia dúzia”.
No Brasil eles pertenciam ao topo da pirâmide social: a elite brasileiraNo Brasil eles pertenciam ao topo da pirâmide social: a elite brasileira Como ponderou em seu mais recente livro A Tolice da Inteligência Brasileira, o cientista político diz que é preciso analisar essa “crise”, como outras já vividas pelo Brasil, sob a premissa que a nossa elite – que domina o país constantemente desde a época “escravocrata” – construiu uma imagem distorcida do Brasil para disfarçar todo tipo de privilégio injusto e, para isso, a “elite do dinheiro” contou com grande apoio e manipulação da imprensa.
Em seu artigo, ele recorda o começo da disputa polarizada existente no país, que teve início pelos anos de 1930, com o governo de Getúlio Vargas. “O sonho era a transformação do Brasil em potência industrial com forte mercado interno e a classe trabalhadora protegida, com capacidade de consumo. Nossa elite do dinheiro jamais sequer ‘compreendeu’ esse sonho, posto que ‘afetivamente’ nunca sentiu compromisso com os destinos do país”, aponta.
Para Jessé de Souza, “desde então o Brasil é palco de uma disputa entre esses dois projetos: o sonho de um país grande e pujante para a maioria; e a realidade de uma elite da rapina que quer drenar o trabalho de todos e saquear as riquezas do país para o bolso de meia dúzia”.
O autor compara a “elite do dinheiro” do passado com a de hoje que desfila na mesma Avenida Paulista, sua máscara hipócrita e falsa. “É essa elite, cujo símbolo maior é a bela Avenida Paulista, que compra a elite intelectual de modo a construir, com o prestígio da ciência, a lorota da corrupção apenas do Estado, tornando invisível a corrupção legal e ilegal do mercado que ela domina; que compra a política via financiamento privado de eleições; e que compra a imprensa e as redes de TV, cujos próprios donos fazem parte da mesma elite da rapina.”
Governo popular
O cientista político aponta que é historicamente evidenciado que quando um governo progressista chega ao cargo mais alto do país, o tripé inimigo do povo – imprensa, oposição conservadora e elite endinheirada – arrisca-se de todas as artimanhas para tirá-lo do poder por meio de um golpe, seja pelas Forças Armadas, seja “pelo complexo jurídico-policial de hoje”, avalia.
“A história do Brasil desde 1930 é um movimento pendular entre esses dois polos. Getúlio caiu, como o desafeto histórico maior desta elite, por um conluio entre Congresso comprado, imprensa manipuladora e Forças Armadas que se imaginavam pairar acima dos conflitos sociais”, destaca o professor no artigo.
E relembra ainda: “O suicídio do presidente adia em dez anos o golpe formal, que acontece em 1964 pela mesma articulação de interesses. O curioso, no entanto, é que dentro das Forças Armadas existia a mesma polarização que existia na sociedade”.
Para o autor, “ainda que o capital privado fosse muito bem-vindo, a condução do projeto de longo prazo era do Estado. Foi o bastante para que os jornais se lançassem em uma batalha ideológica contra a ‘república socialista do Brasil’ e os empresários descobrissem, de uma hora para outra, sua inabalável ‘vocação democrática’”.
Para o cientista, não houve por parte da sociedade uma análise mais profunda da conjuntura. “O público ficou sem saber por que o golpe tinha ocorrido e, depois, por que ele havia sido criticado. Criou-se uma anistia do ‘esquecimento’ no mesmo sentido da queima dos papéis da escravidão por Rui Barbosa: para que jamais saibamos quem somos e a quem obedecemos.”
Já com o governo FHC, diz Jessé no artigo, “essa elite da rapina de curto prazo se insere, enfim, não apenas no mercado, mas também, com todas as mãos, no Estado e no Executivo”.
“A festa da privatização para o bolso da meia dúzia de sempre, da riqueza acumulada pela sociedade durante gerações, se deu a céu aberto. A maior eficiência dos serviços, prometida à sociedade e alardeada pela imprensa, sempre solícita e sócia de todo saque, se deixa esperar até hoje”, conta.
Ascensão do povo
Jessé acredita que a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, um torneiro mecânico representante do povo, como presidente da República se deu porque a “imprensa a serviço do saque e do dinheiro não pode fazer todo mundo de tolo durante todo o tempo, e como ainda existem sonhos que o dinheiro não pode comprar, o Executivo mudou de mãos em 2002”.
Segundo o cientista, “o novo governo tentou o mesmo projeto desenvolvimentista anterior, de apoio à indústria e à inteligência nacional. Mas seu crime maior foi a ascensão dos setores populares via, antes de tudo, a valorização real do salário mínimo. Os mais pobres passaram a ocupar espaços antes exclusivos às classes do privilégio”.
Com parte da classe média incomodada com a diminuição na desigualdade social e econômica, com a proximidade entre classes, a classe média, segundo o autor, “temia que essa classe ascendente pudesse vir a disputar os seus privilégios e os seus empregos”.
Para tanto, o discurso da “corrupção”, mesmo que seletiva, manipulado pela grande mídia permitiu-se enfrentar “o medo mais mesquinho com um discurso moralizador e uma atitude de pretenso ‘campeão da moralidade’ da elite brasileira”. “O que antes se dizia a boca pequena entre amigos agora pode ser dito com a camisa do Brasil e empunhando a bandeira nacional. Está criada a ‘base popular’, produto da mídia servil à elite da rapina”, esclarece.
A luta contra os juros altos
Para Jessé Souza, a luta contra os juros, desencadeada pela presidenta Dilma em 2012, provoca na elite, que já mama na teta dos juros altos, uma reação unificada de parte da sociedade contra a presidenta, que se desencadeia nas manifestações de 2013.
“Quando em abril de 2013 as taxas de juros voltam a subir, a elite está armada e unida contra a presidenta. As ‘jornadas de junho’ daquele ano vêm bem a calhar e, por força de bem urdida campanha midiática, transformam protestos localizados em uma recém-formada coalizão entre a elite endinheirada e a classe média ‘campeã da moralidade e da decência’ contra o projeto inclusivo e desenvolvimentista da esquerda.”
Difícil, mas vitoriosa reeleição
“Como os votos dos pobres recém-incluídos são mais numerosos, no entanto, perde-se a campanha de 2014. Mas a aliança entre endinheirados e moralistas de ocasião se mantém e se fortalece com um novo aliado: o aparato jurídico-policial do Estado.”
Segundo analisa Jessé, “os altos salários e demanda crescente por privilégios de todo tipo, associados ao ‘sentimento de casta’ que os concursos dirigidos aos filhos das classes do privilégio ensejam, transformam esses aparelhos que tudo controlam, mas não são controlados por ninguém, em verdadeiros ‘partidos corporativos’ lutando por interesses próprios dentro do aparelho de Estado”.
Elemento novo do velho golpe surrado de sempre
Para o analista, o diferencial desta nova tentativa de golpe da elite, agora contra a presidenta, foi a manipulação da informação sobre corrupção, seletivamente divulgada pela imprensa – “discurso ideal para travestir os mais mesquinhos interesses corporativos em suposto ‘bem comum’ e a disputa pelo ‘troféu de campeão da moralidade pública’ que passa a ser disputado por todas as corporações”.
Jessé Souza acredita que o passo seguinte da conjuntura brasileira seja o perigoso acirramento da criminalização da esquerda. “Muita injustiça será cometida em nome da Justiça”, aponta. “Mas existe também a oportunidade. Nem toda classe média é o aprendiz de fascista que transforma seu medo irracional em ódio contra os mais fracos, travestindo-o de ‘coragem cívica’.”
O analista conclui que “ainda que nossa classe média esteja longe de ser refletida e inteligente como ela se imagina, quem conseguir escapar ‘do bombardeio diário de veneno midiático’ não deixará de estranhar o mundo que ajudou a criar: uma sociedade condenada à miséria material e à pobreza espiritual. Esse golpe precisa ser compreendido por todos. Ele é o espelho do que nos tornamos”, aponta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário