Neoliberalismo: Exagerado?
Neoliberalism: Oversold? |
por Edu Montesanti
Em sua revista deste mês de junho, o próprio Fundo Monetário Internacional criticou, não tão abertamente, as políticas neoliberais através de alguns de seus principais economistas, Jonathan D. Ostry, Prakash Loungani, and Davide Furceri. “Ao invés de produzir crescimento, algumas políticas neoliberais têm aumentado a desigualdade, por sua vez colocando em risco a expansão duradoura”, observam eles.
É interessante notar que o propalado neoliberalismo foi aplicado exatamente por governos autoritários e profundamente corruptos – casos de América Latina sob ditadura militar, Estados Unidos sob os Bush e Reagan, e Reino Unido nos anos de Margaret Tatcher, conhecida como Dama de Ferro. Tal fato pode causar surpresa inicial, mas não nenhuma contradição dada a natureza excludente do modelo econômico em questão.
Nas palavras da jornalista canadense Naomi Klein, “se olharmos para a história dos primeiros lugares onde o neoliberalismo foi imposto, ele foi imposto exatamente no oposto [do que nos é dito]: foi necessária uma derrubada da democracia para que ele se desenvolvesse”.
Por outro lado, políticas sociais são aplicadas exatamente como socorro às crises profundas geradas pela maximização do livre-mercado. Casos emblemáticos são o New Deal norte-americano do presidente Franklin Delano Roosevelt, pós-Grande Depressão iniciada pela quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque em 1929, e os Estados de Bem-Estar Social europeus pós-Segunda Guerra Mundial.
Os países nórdicos, berço da social-democracia, sempre foram exemplos neste sentido, nos dias de hoje abrindo-se ao Consenso de Washington ao diminuir a influência estatal, e, como sempre ocorreu na história, tornar as economias mais vulneráveis.
Enquanto tal modelo gera horror em setores reacionários pautados pela mídia predominante defensora dos interesses das grandes corporações que a sustentam, que chegam a ponto (não raras vezes) de qualificá-lo de “comunismo diabólico”, por outro lado a intervenção estatal de Bush filho em 208, maior da história destinada ao socorro aos bancos criminosos, exatamente os geradores da depressão econômica de então (não sanada até hoje), o qual ultrapassou 1,8 trilhão de dólares, e dois anos depois o plano de salvação de Barack Obama à indústria automobilística acima da casa dos 60 bilhões de dólares, acomodam os espíritos mais conservadores das sociedades.
Vale apontar que no atual festival da despolitização tupiniquim que tirou da Presidência uma das únicas políticas sem acusação nem sequer sendo investigada por corrupção, para colocar no poder, nas palavras de Noam Chomsky (intelectual mais respeitado do mundo) “uma corja de ladrões” sob forte influência e aplausos midiáticos, as classes média e alta brasileiras têm apoiado agora e historicamente o model neoliberal, com a típica raiva caçadoras de bruxas anti-comunistas presente na ridícula votação pelo impedimento da presidente Dilma Rousseff (assim observado por todos os meios de comunicação mundiais), e nestas semanas subsequentes.
Apontado neste sentido, da excessiva ignorância baseada na ditadura do mercado que relega todo o aparato do Estado e a própria sociedade à lógica do lucro (que é ilógica) e da profunda despolitização, baseadas em desenfreada competitividade, no ódio às diferenças e nos preconceitos étnicos, regionais, sociais, sexistas e de gênero, é a cara perfeita da sociedade brasileira, de seu estilo e de sua estatura moral e intelectual, este público ataque gospel-reacionário da jurista Janaína Paschoal na Faculdade de Direito da USP, no início de abril capaz de gerar desconforto até em seus colegas e alunos reacionários – portanto, nada dotados de grande senso do ridículo e de consideráveis capacidades intelectuais.
Famosas internacionalmente pela essência corrupta, pela fortíssima discriminação, pela agressividade e pela incapacidade organizacional que, no país do carnaval e do futebol decadente, dia a dia se superam, que se creem sábias ao mesmo tempo que, na ausência de autonomia reflexiva, são capazes de caírem no engodo de personagens como Temer, Sarney, Calheiros, Eduardo Cunha e da mesma mídia sabidamente manipuladora e historicamente golpista, bem como devota das própria retórica de “liberdade” baseada na lei do mercado, as mentalidades elitistas brasileiras (que não escolhem classe social) podem ter a condição de prostração intelectual e de falência moral refletida com perfeição nas palavras de Johann Wolfgang von Goethe: “Ninguém está mais desesperadamente escravizado, que aquele que falsamente acredita ser livre”.
E em não raros casos, certamente, é ainda mais sofrível ter-se consciência da escravidão econômica, social e política passivamente por medo, por interesse ou por uma patética combinação de ambos. Para os setores reacionários nacionais, imbecilizados pela grande mídia oligárquica pertencente a cinco famílias e financiada diretamente por Washington (fato comprovado documentalmente por WikiLeaks), pode o FMI e todas as evidências, atuais e históricas, apontar contrariamente a suas ideias pré-concebidas que tudo será em vão e tudo seguirá como está. A história mostra isso, e hoje e só esperar para ver.
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