Aumento de relações com emergentes, como China, Brasil e Índia, ajuda continente a 'virar a página' do pós-colonialismo, afirma relatório
África reduz dependência com países ricos
AMANDA ROSSI
da PrimaPagina
O crescimento das transações comerciais e financeiras entre a África e países emergentes, como China, Brasil e Índia, contribuiu para o continente integrar-se na economia global e entrar em uma nova fase nas relações internacionais, avalia o relatório African Economic Outlook 2011, lançado pelo Banco Africano de Desenvolvimento. “O reordenamento africano vira a página após 50 anos de uma superdependência do Ocidente, um período algumas vezes chamado de era pós-colonial. As ligações com os parceiros tradicionais enfrentam profundas mudanças", diz o documento.
Muito dependente de Estados Unidos e Europa para obter ajuda econômica, trocas comerciais e investimentos, a África aumentou seus negócios com países em desenvolvimento nos últimos dez anos. “A crise mundial [de 2008-2009] acelerou significativamente a mudança da riqueza global (...). A história da África e de seus parceiros emergentes é uma parte chave da recalibragem da economia global ao longo da última década”, afirma o estudo, divulgado em 6 de junho, em Lisboa.
As trocas comerciais do continente com os emergentes dobraram na última década e já somam 37% do total africano. Em 2009, a China ultrapassou os Estados Unidos e se tornou o maior parceiro comercial do continente. Já as exportações do Brasil para a África mais que triplicaram entre 2003 e 2010, chegando a cerca de US$ 9 bilhões. Os países em desenvolvimento também aumentaram sua ajuda aos africanos, por meio do financiamento de obras de infraestrutura, empréstimos com taxas de juros menores e concessão de créditos de exportação (o Brasil, por exemplo, forneceu US$ 1,75 bilhão para a Angola até 2010 através do BNDES).
Apesar disso, o papel dos parceiros tradicionais, como são chamados os membros da OCDE (Organização para Cooperação Econômica e Desenvolvimento), ainda é central. Eles são responsáveis por 62% das trocas comerciais, 80% do investimento e 90% da ajuda oficial ao desenvolvimento da África. Porém, o aumento da presença dos emergentes, principalmente a China, é um complemento importante que pode contribuir para melhorar a vida de milhões de africanos, avalia o relatório.
O African Economic Outlook considera que as relações com os novos e velhos parceiros são complementares e recomenda que a África se una para aumentar seu poder de barganha. “Para maximizar os benefícios do desenvolvimento das novas relações, as nações africanas podem extrair lições dos seus acordos com os parceiros tradicionais (...). A independência econômica que as economias africanas estão ganhando na globalização pode ser mantida se os países estabelecerem políticas de desenvolvimento próprias e criarem uma coordenação regional e continental para negociar melhor com os parceiros tradicionais e emergentes".
Revoltas no Norte da África
O relatório também faz uma previsão para a economia africana deste ano. A onda de protestos contra regimes ditatoriais que varreu o norte da África e o Oriente Médio no início deste ano, na chamada Primavera Árabe, abalou a economia do continente. O crescimento previsto para 2011 é de 3,7%, abaixo dos 4,9% de 2010. As revoltas dos últimos meses provocaram perdas na produção e prejudicaram o turismo, que é a maior fonte de renda de Egito e Tunísia. Outro fator para a queda no crescimento é a alta do preço dos alimentos, que esteve, inclusive, entre as motivações dos protestos.
A publicação é organizada por PNUD, OCDE, Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) e Comissão Econômica da ONU para a África. Desde sua primeira edição, em 2002, o African Economic Outlook faz análises econômicas sobre o continente e realiza estudos sobre desenvolvimento.
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