Desigualdade não pára de aumentar
Os ricos cada vez mais ricos
«É chocante que no século 21 metade da população mundial não tenha mais do que uma ínfima elite que cabe confortavelmente num carro de dois andares».
As palavras são de Winnie Byanyima, diretora-executiva da Organização Não-Governamental Oxfam, que esta segunda-feira apresentou um relatório com o sugestivo título «Trabalhar para poucos». O documento constata não apenas a desigualdade na posse da riqueza ao nível mundial, mas o aprofundamento do fosso entre ricos e pobres nas últimas décadas.
De acordo com o texto, 85 super-ricos acumulam uma fortuna superior aos rendimentos detidos pela metade mais pobre da população. Visto de outro ângulo, um por cento dos habitantes da Terra possui o equivalente a 65 vezes a riqueza total dos 50 por cento mais pobres.
Iniquidade obscena e imoral que, acrescenta-se no estudo, tem vindo a se agravar nos últimos 30 anos. Entre 1980 e 2012, os um por cento mais ricos viram as respectivas fortunas crescerem em 24 dos 26 países sobre os quais a Oxfam conseguiu dados. 70 por cento da população vive em territórios onde a desigualdade aumentou nas últimas três décadas, estima também.
Na esmagadora maioria dos países considerados, diz ainda a organização, os impostos sobre as fortunas caíram sempre desde o final da década de 70. E o fosso pode ainda ser maior, já que, afirma a Oxfam, pelo menos 13,6 bilhões de euros estão colocados em paraísos fiscais e ao abrigo de qualquer escrutínio.
Em 2013, acrescenta-se, 210 pessoas juntaram-se ao clube dos multimilionários, que era até então formado por 1426 indivíduos com uma riqueza concentrada na ordem dos quatro biliões de euros.
Recorde-se que, no início de Janeiro, o portal Bloomberg noticiou que, o ano passado, os mais ricos do planeta ganharam 383 mil milhões euros. 300 multimilionários acumulam um total de 2,7 biliões de euros em fortunas pessoais, calculou a mesma fonte
Ameaça ao progresso
Para a Oxfam, este cenário constitui uma ameaça ao progresso da população mundial, cada vez mais separada pelo poder económico e político.
Por isso, a poucos dias do início do Fórum Económico Mundial, em Davos, na Suíça, insta os governantes a fazerem frente ao problema e a usarem os recursos públicos para proporcionarem acesso universal à Saúde e Educação, bem como proteção social aos seus cidadãos. A Oxfam fala mesmo em atalhar a «cascata de privilégios e desvantagens» que, de outro modo, «perpetuar-se-á por gerações».
Na antevisão do Fórum que decorre entre 22 e 25 de Janeiro, um outro relatório indica precisamente a desigualdade entre ricos e pobres como o factor que maior risco pode causar à ordem mundial na próxima década. Segundo informações citadas pela Europa Press, os cerca de 700 peritos que contribuíram para o estudo chamado de «Risco Global 2014», consideram que a disparidade de rendimentos supera mesmo os episódios meteorológicos extremos na escala de perigos sistémicos à escala global.
O estudo alerta ainda para a perigosidade das apelidadas «crises fiscais», do desemprego e subemprego juvenil estruturais.
Capital financeiro
No topo da cadeia de acumulação de capital, encontram-se as instituições financeiras.
Ha pouco tempo, foram conhecidos os resultados de 2013 de duas grandes entidades dos EUA, onde, aliás, se concentra boa parte das corporações sorvedoras da riqueza criada no planeta.
CitiGroup e Goldman Sachs obtiveram, respectivamente lucros líquidos de 1,97 bilhões de euros (o dobro de 2012), e de 5,9 bilhões de euros (mais oito por cento face a 2012 e o valor mais elevado em três anos).
Na Europa, os resultados finais ainda não são cabalmente conhecidos, mas um estudo conduzido por um investigador alemão e um académico norte-americano sobre 109 dos 124 bancos que o BCE vai colocar sobre «testes de stress» já este ano,
citado pelas agências de noticias europeias, já advertiu que os bancos de «países periféricos e do centro», necessitam de injecção de capital.
Os bancos franceses (285 bilhões de euros) e alemães (199 bilhões de euros) lideram o rol de «necessitados», mas entre estes contam-se igualmente a «carenciada» bancaria espanhola (92 bilhões de euros) e italiana (45 bilhões), e as «debilitadas» entidades da Bélgica, Chipre e Grécia.
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