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A DIALÉTICA DO DECLÍNIO DO IMPERIALISMO NORTE-AMERICANO

A China aproveitou o grande desfile militar de 3 de setembro, comemorativo dos 70 anos de sua vitória sobre o Japão e do fim da Segunda Guerra Mundial, para mostrar ao mundo que, além de sua pujança econômico-financeira, está suficientemente preparada para responder a quaisquer eventuais confrontos internacionais.



O professor de Estratégia Internacional e Geopolítica da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, Antônio Gelis, comenta que, “ao expor o seu poderio militar, a China mostra aos parceiros internacionais o quanto está preparada para enfrentar qualquer situação”. O especialista diz que “desta forma a China está pondo fim a uma longa hegemonia, detida por muito tempo por um único protagonista. Com a ascensão da China, a era desta hegemonia está chegando ao fim”. 

Segundo fontes oficiais, aproximadamente 12.000 soldados participaram na parada, inclusive 11 divisões de infantaria, uma coluna mecanizada de 27 destacamentos e 10 escalões de aviação.


Sputnik: Analistas políticos e econômicos traçam uma imagem da China em que o seu Governo dividiu a projeção do país em duas etapas: a primeira demonstrando ao mundo sua projeção econômica e financeira e a segunda um perfil menos conhecido da China, que é o seu perfil militar. O senhor concorda com esta avaliação de que a China dividiu em duas etapas sua projeção mundial?

Antônio Gelis: Eu concordo. O desenvolvimento econômico da China nas últimas três décadas é um forte candidato a ser considerado o maior fenômeno de desenvolvimento econômico da história da humanidade. Deng Xiaoping sempre alertou o povo chinês para a necessidade de ser discreto na sua ascensão, tanto quanto possível. Era um país periférico, um país que, embora com uma história muito longa, era uma economia muito atrasada – estamos falando do final dos anos 1970. Então, iniciou um processo de expansão assombroso e obviamente enfrentou resistência especialmente dos EUA e do Ocidente, como centros de hegemonia mundial, o que é natural no jogo das políticas. Sempre foi o jogo da China bastante prudente fortalecer-se economicamente para apenas posteriormente mostrar seu poderio militar, que é o poderio necessário a toda potência. Se você me permite, eu só acrescentaria que existe uma terceira etapa: a transmissão simbólica do poder hegemônico mundial.

AG: Após a crise financeira de 2008, no ano seguinte, em abril de 2009, houve uma reunião do G20, dos 20 países geopoliticamente mais importantes do mundo, incluindo Brasil, China e uma série de outros países emergentes. Foi em Londres, e algo bem interessante aconteceu: a maior parte da atenção estava voltada não ao Presidente Obama, mas sim aos líderes da China. Foi um sinal de que o mundo começava a perceber que o fenômeno chinês não era algo apenas temporário, mas que a China era um novo membro do clube das superpotências.

A Segunda Guerra Fria




O Congresso Nacional Africano, partido político dominante no país, preparou o relatório intitulado “A África Melhor em um Mundo Melhor e Justo” ("A Better Africa in a Better and Just World") para uma conferência política. Os políticos sul-africanos consideram que o conflito ucraniano é uma parte da estratégia de Washington contra a Rússia.

“A guerra na Ucrânia não se realiza pela Ucrânia. O objetivo é a Rússia. Os vizinhos da Rússia são empurrados para tomar uma posição hostil para com a Rússia, tal como a China, e para aderir à UE e OTAN. São criados estados pró-ocidentais para cercar a Rússia; os seus territórios são usados para instalar o material bélico da OTAN dirigido contra a Rússia”, diz-se no relatório.




Apesar dos protestos da comunidade mundial, a China já completou a construção de uma série de ilhas artificiais e tudo indica que o país planeja iniciar a segunda etapa de trabalhos, disse uma fonte militar anônima. 

O Sydney Morning Herald divulga a declaração do ministro da Defesa dos EUA Ashton Carter feita em maio na qual ele exige que a China pare as construções no mar do Sul da China e anuncia planos americanos de “voar e navegar”através da zona de 12 milhas (20 quilômetros) estabelecida pela China em torno das ilhas construídas. 

Esta declaração séria recebeu apoio tanto do governo australiano, como dos outros Estados da região do mar do Sul da China e fora da região. O comandante da frota do Pacífico da marinha dos EUA, almirante Scott Swift,  executou um voo de patrulhamento na área das ilhas. O voo de Maio, acompanhado por um jornalista da CNN, atraiu a atenção em todo o mundo.  


A China efetiva  grandes operações (portos e infraestrutura)
 Foram construídos 800 hectares em 18 meses, estendendo assim sua soberania. Uma pista de voo e decolagem de 3km está sendo construída na ilha, grande o suficiente para lidar com um Boeing 747.  “Isso pode servir como base de operações para a frente da China, uma parada para reabastecimento de navios e aeronaves”, segundo porta-voz do Departamento de Defesa filipino, Peter Galvez.
Essa área marítima corresponde a um cruzamento de rotas importantes para o comércio internacional e possui grande potencial de reservas de hidrocarbonetos. O Pentágono pediu em 12 de junho, à China, que interrompa a militarização e construção de ilhas artificiais na região.
“A China tem soberania indiscutível sobre as ilhas Nansha e nós não precisamos provar isso”, comunicou o porta-voz do Ministério do Exterior da China, Lu Kang. O conjunto de ilhas também é conhecido como ‘Spratly Islands’.
A China anunciou  que suspenderia em breve seus projetos de construção de ilhas, mas que continuaria construindo instalações civis e militares nesses afloramentos.  Lu usou a palavra guarnição para descrever algumas das ilhas. Nos últimos meses, autoridades americanas disseram que a recuperação de terras pela China em sete locais na região supera em muito esforços semelhantes feitos por outros países. Os Estados Unidos dizem que a China construiu mais de 800 hectares de terras ao redor de recifes e bancos de areia nos últimos 18 meses. Autoridades americanas e líderes dos países do Sudeste Asiático começaram a criticar a atividade no início de 2014, mas isso fez pouco para impedir o grande avanço da China.

EUA imperialista: decadência e isolamento

Sergio Barroso *

O Secretário Assistente do Tesouro do governo Reagan, Paul Craig Roberts tem insistido sistematicamente sobre o que chama de passagem ao “subdesenvolvimento” dos Estados Unidos da América. Analisa o economista – como inúmeros pesquisadores – que o transportar da manufatura da grande empresa americana especialmente à Ásia (“outsourcing”) acelerou fortemente o fenômeno da desindustrialização do país.


Ironizando as fantasias de neoliberais das universidades de Harvard e do MIT (Centro Industrial e Tecnológico de Massachussets), Roberts reforça suas opiniões relembrando que os centros industriais dos EUA se tornaram “cascas” daquilo que simbolizavam: Detroit perdeu 25% da sua população, assim como Gary Indiana 22%, Flint Michigan 18%, e St. Louis 20% dela!

Noutro longo e veemente enfoque (“O futuro dos Estados Unidos será a ruína”) [1], Roberts afirma que os EUA instalaram um nível de corrupção e manipulação na sua economia, assim como sua política externa, atualmente, que simplesmente seriam impossíveis em outros tempos, quando a ambição e Washington era conter a União Soviética. “A ganância pelo poder hegemônico fez de Washington o governo mais corrupto do planeta”, diz.

Ao ser explícito em que nenhum outro país no mundo entrega a “um bando de vigaristas e crápulas de Wall Street” a direção de sua economia e sua política externa, bem como o domínio completo de seu Banco Central e de seu Tesouro – “a serviço de 1% da população” -, o economista vai bem além: todos deveriam agradecer ao presidente russo Vladimir Putin, pois ele tem o poder de destruir a OTAN e todo o sistema financeiro ocidental inteiro quando quiser.

Bastaria anunciar que, “como a OTAN declarou guerra econômica contra a Rússia, a Rússia não mais venderá energia para os membros da OTAN”. Isso porque – sublinha Roberts – imediatamente ocorreria “a dissolução da OTAN, pois a Europa não pode sobreviver sem os suprimentos energéticos da Rússia. Seria o fim do império de Washington” (Roberts, idem). E Putin não tem aceito as provocações da OTAN, complementa Roberts.

Pobreza cresce e se expande no império

Simultaneamente à desindustrialização escancarada, novos dados sobre a trágica decadência do império norte-americano revelam que no início deste ano já somavam 3,5 milhões de pessoas sem moradias, o que significa o triplo desse número desde 1983; estão sem teto 1,5 milhões de crianças das 15 milhões de crianças que passam fome. Igualmente triplicou nesse período para 18 milhões as casas-fantasmas (vazias e sem moradores!). A própria UNICEF (ONU) descreve atualmente os EUA como um país que menos protege suas crianças, em cuja lista aparece (inacreditavelmente) abaixo da Grécia e ficando apenas duas posições acima da Romênia. Eram 60 mil os sem tetos no último inverno, sendo a metade crianças. [2]

Já o cientista político e matemático Charles Ferguson, [3] entre 2001-2007, anos exatamente anteriores à detonação da crise financeira (das hipotecas subprime) de agosto de 2007, o 1% do topo da pirâmide das famílias americanas abocanhou metade do crescimento total da renda do país. Para o também autor do prestigiado documentário “Inside job” (“Trabalho interno”), no começo de 2014 a riqueza americana é ainda mais concentrada que a renda: 0,1% mais rico dos americanos possuem cerca de um terço de toda a riqueza líquida da população e mais de 40% de toda a riqueza financeira dos Estados Unidos. “Isso é mais que o dobro da parcela detida pela camada inferior de 80% da população” – assegura ele. 

Fundamentos econômicos da decadência X extensão militarista

Sendo sempre necessário revisitar formulações centrais de Paul Kennedy e seu clássico “Ascensão e queda das grandes potências” (Campus, 1989), lá se lê que a história dos últimos 500 anos de rivalidade internacional mostra que apenas segurança militar não é suficiente “jamais”: no curto prazo pode até “conter ou derrotar rivais”, porém ao se estender demais “geográfica e estrategicamente”, e mesmo isso ocorrendo num nível “menos imperial” volta-se à “proteção” e menos ao “investimento produtivo”, provavelmente verá a redução de seu poderio econômico “tristes implicações para a sua capacidade de manter a longo prazo o consumo de seus cidadãos e sua posição internacional” (p. 511). 

Noutras palavras, para Kennedy a história “sugere” claramente, “a longo prazo”, a ligação entre “a ascensão e queda econômica de uma grande potência militar (ou império mundial)” (idem, p.7-8). Ou como precisamente escreveu Eric Hobsbawm, acerca deste ponto, uma das fraquezas do império americano no século XXI é que “no mundo industrializado de hoje, a economia dos Estados Unidos já não é dominante com era antes”; além do que “o mundo é demasiado complexo para que um único país possa dominá-lo”, por óbvio ressaltando a proeminência militar deste imperialismo. [4] 

Ademais, o declínio do imperialismo norte-americano passa cada vez mais da aparência (imediata) à essência na dialética da agressão-regressão. Seu endividamento público passou de 65% do PIB em 2007 para 106% no início de 2014(US$ 18,1 trilhões em março de 2015); embora o endividamento seja apenas parte do declínio econômico-social norte-americano e se dê na própria moeda ainda reserva principal, o dólar, o problema não tem solução no horizonte. 

Por isso também, intitulando seu estudo sugestivamente de “A grande degeneração. A decadência do mundo ocidental”, o badalado conservador da Harvard Business School e da London Economics School, Niall Ferguson sentencia: “A dívida pública – declarada e implícita – tornou-se uma forma de a geração mais velha viver à custa dos jovens e dos que ainda estão por nascer”, o que tornou disfuncional a ponto de aumentar a fragilidade do sistema”. Ademais, “é remota” a perspectiva de que um avanço tecnológico comparável às “ferrovias poderia tirar os Estados Unidos da situação em que se encontra”.Taxativamente, para Ferguson a chamada “Grande recessão é meramente um sintoma de uma – mais profunda – Grande Degeneração”. [5]

Vão à mesma direção, quer dizer, a das razoes estruturais, as recentes interpretações acerca da situação da economia mundial, ainda epicentrada na hegemonia imperialista dos EUA. Um dos principais gurus da liberalização financeira, o ex-secretário do Tesouro Lawrence Summers, quando declarou (novembro de 2013) que os EUA correm o sério risco de submergirem numa “estagnação secular”, isto é, a ideia de que a depressão econômica passe a ser a norma. Ou de vivenciarmos uma “nova mediocridade” (Cristine Lagarde, atual diretora-gerente do FMI).
O profundo contra-ataque sino-russo (a Nova Rota da Seda)

Em recentíssima visita a Moscou, Wang Yi, Ministro de Relações Exteriores da China, declarou que a política russa de “Olhar para o Leste” e a política chinesa de “Rumo ao Oeste” (essencialmente incluindo o projeto portentoso de Nova(s) Rota(s) da Seda) “criaram oportunidades históricas para incorporar as estratégias de desenvolvimento dos dois países”. A estratégia da Rússia de “Olhar para o Leste” advoga também sobre a integração eurasiana, assim como Moscou precisa também da Ásia-Pacífico para desenvolver a Sibéria Oriental e o Extremo Oriente da Rússia.

A refinada análise é de Pepe Escobar [6], para quem a aliança estratégica vem evoluindo e não tem a ver só com energia – a possibilidade de investimentos controlados pela China em projetos russos cruciais de petróleo e gás ou como na indústria da defesa: “é cada vez mais assunto de investimentos, banking, finança e alta tecnologia”. 

O que envolve ainda a cooperação Rússia-China dentro da Organização de Cooperação de Xangai, até a participação Rússia-China no novo banco de desenvolvimento dos BRICS e o apoio russo ao Banco Asiático de Investimentos em Infraestrutura, BAII [orig. Asian Infrastructure Investment Bank (AIIB)] liderado pelos chineses, passando pelo apoio russo à Fundação Rota da Seda de controle chinês.

Conforme disse ainda Wang, a Nova Rota da Seda desenvolverá uma “nova plataforma”, um corredor econômico trilateral unindo Rússia, China e Mongólia: planeja-se o corredor de transporte eurasiano, ou seja, uma nova Estrada de Ferro Transiberiana, “moderníssima, de alta velocidade, ao preço de US$ 278 bilhões”, que conectará Moscou e Pequim, além de tudo que haja entre uma e outra, em apenas 48 horas.

Bem além, Pequim e Moscou, com outros países BRICS, estão andando rapidamente em direção ao comércio independentemente do dólar norte-americano, usando suas próprias moedas. Paralelamente, estão estudando a criação de sistema alternativo ao sistema SWIFT de compensações internacionais, ao qual as nações europeias terão necessariamente de aderir, agora que já se integraram ao AIIB.

Cegueira imperialista e isolamento

Afinal, como é possível que isto suceda a um presidente inteligente que se enreda numa guerra sem fim na Mesopotâmia, e que na Eurásia persegue um objetivo que não tem o menor impacto direto para os interesses vitais estadunidenses ao mesmo tempo em que, debaixo do seu nariz, se desenvolve uma reconfiguração fundamental da dramaturgia asiática? 

A certeira pergunta-resposta vem do ex-diplomata indiano M. Bhadrakumar. [7] O estrategista indiano revela ainda que a chanceler Angela Merkel afirmou (15 de Março de 2015), quando da inauguração da Feira de Hannover, que a economia alemã vê a China não apenas como parceira comercial, a mais importante fora da Europa, mas também como parceira no desenvolvimento de tecnologias complexas.

Noutras palavras, o amplo isolamento dos EUA é fato consumado e decorre de seu declínio relativo e cada vez mais acentuado, hoje!


Notas

[1] Original em: http://www.paulcraigroberts.org/2015/01/16/ruin-future-paul-craig-roberts/ , Institute of Political economy, 16/01/2015.

[2] Ver: “O capitalismo nos país das maravilhas”, Antonio Santos, Avante!, 19/03/2015.

[3] Ver: “O sequestro da América. Como as corporações financeiras corromperam os Estados Unidos”, Zahar, 2013.

[4] Ver: “O império se expande cada vez mais”, in: “Globalização, democracia e terrorismo”, Companhia das Letras, 2007 [2003], pp. 156 e 158.

[5] Cf. Planeta, 2013, pp. 114, 113 e 15 respectivamente.

[6] Ver o excelente artigo de Escobar, “A nova Rota de Seda encontra a União Eurasiana”, em: redecastorFhoto


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