Fez um ano que a Crimeia, península do leste da Ucrânia, foi oficialmente integrada à Rússia, uma integração que tornou mais prementes os questionamentos em volta do futuro das restantes zonas do leste da Ucrânia, palco de lutas renhidas entre Kiev e Moscovo. Um ano depois, como está o equilíbrio de forças naquela região? Foi a pergunta feita a Teresa Sierco Gomes, especialista dos países de leste ligada à Universidade da Beira Interior - Portugal, que considera a anexação da Crimeia à Rússia como sendo um processo irreversível.Os países ocidentais têm percebido que a crise na Ucrânia foi longe demais, e gostariam de melhorar as relações com a Rússia, mas a retórica belicosa de Kiev lhes dá grande preocupação. Quem afirma é o célebre jornalista britânico Neil Clark.
Em entrevista ao canal televisivo RT, o jornalista britânico acredita que o Ocidente está cansado da Ucrânia, cujas ações se tornam para os países ocidentais cada vez mais difíceis de justificar.
“Os países que têm contribuído para a revolução na Ucrânia agora estão recuando de sua posição e começando a agir de uma forma mais pragmática”, disse Neil Clark. Segundo ele, isto se comprova na mudança de tom dos EUA, o que preocupa Kiev, cuja retórica tornou-se mais agressiva.
"Os principais países europeus são os que provavelmente menos querem uma guerra em grande escala, e o conflito se tornará mais provável se a Ucrânia se tornar membro da OTAN, especialmente com o atual governo da Ucrânia e com sua retórica extremamente belicosa", afirmou o jornalista.
Ele ainda observou que existem perigos reais na Europa, pois “eles criaram este monstro Frankeinstein e estão preocupados onde isso levará”. "Entende-se que tudo foi tão longe quanto possível. As pessoas mais realistas na Europa estão claramente dispostas a levantar as sanções contra a Rússia, porque elas são prejudiciais para as principais economias europeias, como a Alemanha e a França", completou Neil Clark.
A Europa pode levantar as sanções antirrussas quando for alcançada uma solução pacífica do conflito ucraniano, disse o antigo comissário europeu Günter Verheugen acrescentando que os políticos europeus provavelmente não irão fazer depender o levantamento das sanções do problema da Crimeia.
Respondendo à pergunta sobre a possibilidade de abolição de sanções mesmo se a Crimeia permanecer como parte da Rússia, o político disse que não tem impressão de que os governos europeus liguem a normalização das relações com a Rússia à questão da Crimeia.
“Provavelmente os políticos europeus não irão pressionar Moscou para devolver a Crimeia porque é claro que isto é possível somente através da força militar. E sinceramente ninguém quer uma intervenção militar. A situação é bastante clara”, frisou Verheugen.
Segundo o político, a promoção da ideia da zona transatlântica de comércio livre não contradiz a discussão simultânea sobre a zona de comércio livre entre a União Europeia e a Rússia. Verheugen acha a ideia de uma zona econômica unida entre Lisboa e Vladivostok absolutamente realizável.
“A Rússia é um parceiro importante e forte. A Rússia é uma parte integrante da Europa. Ver por exemplo a questão do futuro abastecimento energético da Europa. Precisamos da Rússia como um parceiro econômico, como um parceiro para lidar com os desafios globais. Sim, precisamos da Rússia. Mas a Rússia também precisa de nós”, manifestou.
Anteriormente o ex-embaixador dos EUA na Rússia Michael McFaul, em entrevista ao periódico Ukrainskaya Pravda declarou que a integração da Crimeia à Rússia já é um fato histórico e as autoridades ucranianas precisam de ser realistas quanto a isso.Parece que, pouco a pouco, o
Ocidente começa a aceitar a ideia de que a Crimeia já faz parte da Rússia (a reintegração ocorreu de maneira democrática) e o processo já não pode ser virado. Se pelo menos os políticos ocidentais deixassem de acusar infundadamente a Rússia de participar no conflito no leste da Ucrânia! A posição russa neste assunto é clara:
“A posição russa é a seguinte: as regiões do Leste da Ucrânia são parte da Ucrânia, ao contrário da Crimeia, que foi uma vez entregue à Ucrânia como resultado de uma confusão histórica. Hoje, ninguém tem dúvidas de que as regiões orientais fazem parte do território ucraniano”, declarou Aleksei Pushkov, presidente do Comitê Internacional da Duma de Estado
A península da Crimeia e a cidade de Sevastopol tornaram-se territórios russos após o referendo de março de 2014, quando a maioria dos participantes do sufrágio votou em favor da reunificação com a Rússia (96,77% na Crimeia e 95,6% em Sevastopol).
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