UE REVELA SUA VERDADEIRA INDENTIDADE
«Roaming»
A natureza assimétrica da União Europeia revela-se nas pequenas como nas grandes coisas.
Acabar com o «roaming» nas comunicações móveis na UE – a tarifa que se paga nas comunicações através do "telemóvel" (voz, torpedos e dados) entre países – é um objetivo que há muito vem sendo proclamado. Aparentemente consensual, o tema tem servido vastas vezes para fins de propaganda institucional, para ilustrar as vantagens que a UE pode trazer aos cidadãos-consumidores, na sequência de decisões anteriores que reduziram o montante dessas tarifas. Por cumprir ficou a promessa de lhe pôr fim, agora aprazada para 2017.
Como tantas vezes acontece, por detrás da aparente bondade da proposta existe o reverso da medalha.
As chamadas efetuadas em «roaming» acarretam mais custos do que os europeus associados a chamadas nacionais. A questão é inevitável: acabando as tarifas de «roaming», quem pagará esses custos? Acresce que os países/regiões receptores líquidos de fluxos turísticos terão aumentos sazonais de pressão sobre as respectivas redes, que em alguns casos podem ser significativos, o que pode causar problemas ao serviço e/ou exigir investimentos no reforço da rede. A mesma pergunta: quem paga esses investimentos?
As operadoras de comunicações móveis destes países já avisaram aos consumidores: se não for possível impor estes e outros custos, de operação e de investimento, nas tarifas de «roaming», então eles serão diluídos... nas tarifas domésticas! Ou seja, e para sermos claros: prefigura-se a possibilidade de virem a ser os consumidores dos países do Sul da Europa arcando com os custos do fim do «roaming» no conjunto da UE.
Eis a realidade capitalista do «mercado único das telecomunicações»! Neste como em outros setores, a liberalização e a conversinha do «livre concorrência» servem objetivos de concentração monopolista à escala europeia. Não servem nem os consumidores, nem o interesse nacional.
«Reindustrialização»
Têm marcado presença assídua no plenário do Parlamento Europeu os debates sobre a necessidade de «reindustrializar a Europa». Assim sucedeu este mês, mais uma vez, a pretexto dos recentes casos de encerramento de unidades produtivas da Caterpillar e da Alstom, nomeadamente em França e na Irlanda.
Nestes debates, o cinismo da maioria (social-democracia, liberais, conservadores e outros) é monumental. Começam por lamentar a situação dos trabalhadores desempregados. Pedir, chorando, a mobilização de apoios paliativos para fazer face à sua difícil situação. Mas nem por um momento põem em causa as políticas que estão na base da dita desindustrialização. Pelo contrário, submissos aos poder de Berlin e Washington, reafirmam-nas. As mesmas políticas que permitem às multinacionais deslocalizações sucessivas, sempre em busca de melhores condições de exploração dos trabalhadores, deixando atrás de si um rasto de miséria e destruição. Uma estratégia beduína que chega a ser incentivada pela própria UE, quando concede vultuosos apoios à instalação de multinacionais num Estado-membro, mesmo que estas venham deslocalizadas do outro Estado-membro.
Mas nestes debates vai-se muito além deste exercício de cinismo e de hipocrisia. Invariavelmente, a referida maioria acaba a desfiar todo um programa político.
Defendem mercados abertos à escala mundial, as liberalizações. Mas pedem aos estados e à UE que tenham atenção à «concorrência desleal» que os capitalistas da UE têm enfrentado no plano mundial. Ou seja, economia de mercado aberta sim. Desde que o poder de Estado – que em outras ocasiões se exige «mínimo» – seja todo usado na defesa dos interesses dos monopólios.
Defendem aumento de impostos e mais apoios públicos à «reindustrialização europeia», nomeadamente vindos do orçamento da UE. Mas, ao mesmo tempo, defendem uma «política industrial europeia» que dê um sentido global e uma coerência a esses investimentos. Uma política que preveja as necessárias «reestruturações» e que aposte «onde somos mais fortes». Traduzindo: uma «política industrial» que sirva os interesses das grandes potências e das suas multinacionais. Como? Ajudando-as a «ganhar escala» no plano europeu – através das ditas «reestruturações», um eufemismo que significa o aniquilar da indústria da periferia europeia – para melhor competirem no plano internacional, no tal mercado aberto global. Eis, aqui, o objetivo da reclamada «política industrial europeia»: promover a concentração monopolista à escala europeia, dando músculo ao grande capital europeu na concorrência inter-imperialista.
Pelo grande capitalista europeu, para os trabalhadores sobrará miséria. E mais algumas pungentes declarações numa qualquer futura sessão plenária...
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