HISTÓRIA vai afirmar, justificadamente, o papel que Hugo Chávez desempenhou na integração da América Latina, e o significado de seu mandato de 14 anos para os pobres da Venezuela, onde morreu após uma longa luta contra o câncer.
No entanto, antes que a história seja permitida a ditar a nossa interpretação do passado, é preciso primeiro ter uma compreensão clara do significado de Chávez, em ambos os contextos políticos nacionais e internacionais. Só então os líderes e os povos da América do Sul, indiscutivelmente hoje o mais dinâmico continente do mundo, poderemos definir claramente as tarefas à frente de nós, para que possamos consolidar os avanços em direção de uma unidade internacional alcançad na última década. Essas tarefas ganharam importância renovada, agora que estamos sem a ajuda de energia ilimitada de Chávez, sua profunda crença no potencial para a integração dos países da América Latina, e seu compromisso com as transformações sociais necessárias para amenizar a miséria dos venezuelanos.
As campanhas sociaisde Chávez, especialmente nas áreas desaúde pública, habitação e educação, conseguiu melhoraro padrão de vidade dezenas de milhõesde venezuelanos.
Uma pessoa nãoprecisaconcordar com tudo oque Chávezdisse ou fez. Não há como negarque ele era umcontroverso,muitas vezespolarização, figura, aquele que nuncafugiu dodebatee para quemnãotemaera um tabu.Devo admitir quemuitas vezes sentique eu teriasido maisprudente queCháveznãoteria ditotudo o queele disse.Mas esta erauma característica pessoaldele quenão deve, mesmo de longe,desacreditarsuas qualidades.
Pode-setambém discordar coma ideologiade Chávez, e um estilo depolítica queseus críticoschama deautocrática. Ele não fezescolhas políticasfáceis eelenunca vacilouem suas decisões. No entanto, nenhuma pessoa remotamentehonesto, nem mesmo o seumais ferozadversáriopode negar o enorme nívelde camaradagem, de confiançae até mesmode amor queChávezsentiupara os pobresda Venezuelaeparaa causa daintegração latino-americana. Dos muitosdonos do podere líderes políticosque conhecina minha vida, poucos acreditavamtantona unidade donosso continente esua diversidade de povos- indígenas, descendentes de europeus e africanos, imigrantes recentes-como ele fez.
Chávezfoi fundamental parao tratadode 2008, queestabeleceu a UniãodeNações Sul-Americanas, uma organização intergovernamentalde 12 membrosque possamalgum dialevar o continenteem direção ao modeloda União Europeia. Em 2010, a Comunidade da América Latinae do Caribesaiuda teoria à prática, proporcionando um fórum políticojuntoà Organizaçãodos Estados Americanos.(Não inclui os Estados Unidose Canadá, assim como a OEA.) OBanco do Sul, uma nova instituição de crédito, independentedo BancoMundial e do BancoInteramericano de Desenvolvimento, tambémnãoteria sido possívelsem a liderança deChávez.Finalmente, eleera vitalmenteinteressados empromoverestreitamento dos laçosda América Latinacom a Áfricae o mundo árabe.
Seuma figura públicamorre sem deixaridéias, seu legadoe seu espíritochegaram ao fimtambém.Este não foio caso deChávez, uma figura forte, dinâmica e inesquecívelcujas idéiasserão discutidasao longo de décadasem universidades, sindicatos, partidos políticos e em qualquer lugar ondeas pessoas estão preocupadascoma justiça social,a redução damiséria edadistribuição mais justade poder entreos povos domundo.Talvezsuas idéiasvenham ainspirar os jovensno futuro, assim como a vida deSimónBolívar,ogrande libertadorda AméricaLatina,inspirou aChávez.
O legado deCháveznocampo das idéiasvaiprecisar de maistrabalho, seeles vão tornar-seuma realidadeno mundosujoda política,onde as idéiassão debatidase contestadas. Um mundosem eleexigiráoutros líderes demostrando o mesmo esforço eforça de vontadeque ele teve, para que seus sonhos nãosejam lembradosapenas no papel.
Para mantero seu legado, simpatizantesde Chávezna Venezuelatêm muito trabalhopela frentepara construir efortalecer as instituições democráticas. Eles vão ter queajudar a tornar osistema políticomais orgânicoe transparente, para tornar a participação políticamais acessível, para reforçar o diálogocomos partidos da oposição, e para fortaleceros sindicatos egrupos da sociedade civil. A unidadevenezuelana,e a sobrevivênciadas conquistasduramente conseguidas por Chávez, vai exigirisso.
É, sem dúvida, a aspiraçãode todos os venezuelanos-alinhados comou em oposição aChávez, seja ele civil ou militar, católicoouevangélico, rico ou pobre - de verem o potencialde uma naçãotão promissora quantoa deles.Sóa paz e a democraciapodem fazeressas aspirações uma realidade.
As instituições multilaterais que Chávezajudou a criartambémvão ajudar a garantira consagração daunidade sul-americana. Elenão estará maispresente nas reuniõesde cúpulada América do Sul, mas os seus ideais, e o governo venezuelano, continuará aser representado. Camaradagemdemocráticaentre os líderesda América Latinae do Caribeé a melhor garantiada unidadepolítica, econômica, social e culturalquenossos povosquerem e precisam.
Na passagempara uma unidade global, estamos em um pontode não retorno.Mas, mesmoconstanteestando,devemos estarainda mais atentos emnegociara participação dosnossos paísesem fórunsinternacionais, comoas Nações Unidas,o Fundo Monetário Internacionale o Banco Mundial. Essas instituições, nascidas das cinzasda Segunda Guerra Mundial, nãoforam suficientementesensíveis àsrealidades do mundomultipolarde hoje.
Carismático eidiossincrático, capaz de construir amizades, comunicarcom as massascomo poucos outroslíderes conseguiram, Chávez fará muita falta.Eu vou semprevalorizar a amizadeeparceria que, durante os oito anosem quetrabalhamosjuntos, comopresidentes,produzirambenefícios para o Brasile para aVenezuela e de nossospovos.
Luiz Inácio Lula da Silva, the president of Brazil from 2003 through 2010, is the honorary president of the Instituto Lula, which focuses on Brazil’s relations with Africa.
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