Aldo da Silva Arantes: É preciso “que o povo entenda o que está em jogo” para evitar que a história se repita!Povo na rua. Se não tiver mobilização popular a democracia brasileira sofrerá um profundo golpe.
O povo na rua significa a coleta de 1 milhão e 500 mil assinaturas, mas não só isso. Mas o mais importante é o povo na rua com uma proposta alternativa para que o Congresso Nacional sinta o que o povo brasileiro quer em termos de Reforma Política.
A eleição do Cunha tornou isso mais importante e revelou essa aliança política que alguns setores fazem no Congresso. Se não fizer nada, a gente pode ter uma Reforma altamente conservadora.
É bom dizer que esse projeto de iniciativa popular é um projeto de transitação simples, ele pode ser aprovado por maioria simples. A proposta conservadora exige emenda Constitucional.
Então, uma pressão popular e eu vivi essa experiência na Constituinte, em que no primeiro momento se formou o centrão, que está se formando novamente.
Para acabar com o centrão, foi o povo na rua, pressão popular que terminou deslocando setores de centro para uma aliança.
Essa luta é muito importante. O resultado eu não posso saber, mas depende da intensidade da mobilização e da capacidade do povo entender o que está em jogo, o que isso afeta no futuro da democracia e no futuro das outras reformas. Porque, se consegue uma Reforma Política que torne o Congresso mais representativo das aspirações da sociedade, isso coloca na ordem um conjunto de outras reformas.
Nós temos outras questões, como a democratização dos meios de comunicação, a reforma tributária, a reforma urbana, e outras. Mas consideramos a mãe das reformas a Reforma Política.
Colocar o povo na rua são as entidades. É necessário que elas se convençam que vivemos um momento de emergência política no país. A democracia está em risco. Ou a sociedade se mobiliza e temos condições para fazer isso ou nós estaremos em uma situação difícil.
Qual é o maior risco que a sociedade brasileira corre hoje?
De um retrocesso econômico, político, social e democrático. Nesse sentido, quem conhece a história sabe que os avanços da sociedade só são possíveis na medida em que a sociedade se mobilize.
Nós já vivemos momentos tensos, importantes da história política brasileira, vivemos um golpe militar quando houve uma ofensiva da direita. Hoje, você não tem golpe militar, mas tem golpe político.
Só a sociedade mobilizada pode impedir que isso ocorra e de colocar na ordem do dia um processo de aprofundamento da nossa democracia.
Mais de 100 instituições brasileiras, entre elas a OAB, a CUT e a CNBB, firmaram uma Coalizão que propõe uma Reforma Política no Brasil a partir de inciativa popular.
Trata-se da Coalização pela Reforma Política Democratica, organizada por um grupo da Ordem dos Advogados do Brasil que conta com o ex-deputado constituinte Aldo Arantes, além de Cesar Britto, Claudio Pereira de Sousa Neto e Marcelo Lavenère.
É uma articulação da sociedade brasileira composta por 101 entidades e movimentos e organizações sociais, entre as quais a própria OAB, a CNBB, o Movimento de Combate a Corrupção Eleitoral, UNE, CUT, UBN, Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação, UBS, INESP, entre outros.
Aldo da Silva Arantes iniciou suas atividades políticas no movimento estudantil secundarista. Estudante de direito da Pontifícia Universidade Católica, do Rio de Janeiro, foi eleito presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) em julho de 1961. Iniciou a sua gestão no mês seguinte, em meio a uma grave crise nacional, gerada pela renúncia do presidente Jânio Quadros. Como presidente da UNE, viajou para o Rio Grande do Sul a fim de participar, ao lado do governador Leonel Brizola, da campanha da legalidade que visava garantir a posse do vice-presidente João Goulart, vetada pelos ministros militares. Na ocasião, a UNE organizou uma greve estudantil de repúdio à tentativa golpista dos militares.
Em março de 1962, Aldo Arantes comandou a luta da UNE pela participação dos estudantes nos órgãos colegiados da administração das universidades, na proporção de um terço, com direito a voz e voto. Essa luta, levada a todo país através do Centro Popular de Cultura, criado durante sua gestão, e da caravana da UNE volante, desembocou na greve nacional do 1/3, decretada em junho e encerrada em agosto. Durante a greve, a entidade organizou grandes manifestações públicas, entre as quais a ocupação por três dias do prédio do Ministério da Educação e Cultura, no Rio.
Sua gestão marcou a ascensão, dentro do movimento estudantil, do grupo católico Ação Popular (AP), criado em maio de 1962. Em julho de 1962, ao final de seu mandato, deixou a presidência da UNE, sendo substituído por Vinícius Caldeira Brant, também da AP. Já formado, após o golpe militar de 31 de março de 1964, que derrubou o presidente Goulart, exilou-se em Montevidéu.
De volta ao Brasil em 1965, passou a viver na clandestinidade. Em 1968, foi preso em Alagoas. Libertado seis meses depois, continuou clandestino. Em 1972, juntamente com a maior parte dos militantes da AP, ingressou no Partido Comunista do Brasil (PCdoB), cujo comitê central passou a integrar.
Em dezembro de 1976 foi novamente preso, durante o desmantelamento da célula partidária que se reunia no bairro da Lapa, em São Paulo. Em julho de 1977, foi condenado a cinco anos de prisão. Permaneceu preso até agosto de 1979, quando foi beneficiado pela anistia decretada pelo presidente João Figueiredo.
Como deputado federal, exerceu o mandato por quatro vezes. Foi constituinte em 1988.
Atuou como secretário estadual do meio ambiente e dos recursos hídricos no governo do estado de Goiás. Hoje, ele é o representante do Conselho Federal da OAB na Coalizão.
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