A divulgação, no último fim de semana pelo jornal O Globo, de que o Brasil está entre as maiores vítimas da “bisbilhotagem” – com 2,3 bilhões de telefonemas e mensagens (de e-mail) examinados, sem prévia permissão –, levou o deputado Alessandro Molon (PT-RJ), relator do projeto, a divulgar uma nota reforçando a necessidade da votação imediata da proposição para defender a privacidade dos internautas brasileiros.

A proposta aguarda votação desde novembro de 2012, no plenário da Câmara, mas a pressão do lobby empresarial conseguiu retirar a matéria de pauta sucessivas vezes, até ser deixada de lado. Em maio deste ano, o físico britânico Tim Berners-Lee, considerado o “pai” da web, esteve no Brasil e declarou apoio ao texto de Molon. Dentre as diretrizes do Marco Civil está a proibição de registrar as informações de navegação dos usuários - ou seja, os provedores não podem acessar o que o internauta escreve, visualiza ou clica. Desta forma, o Marco Civil inviabiliza que estas informações sejam compartilhadas com outras empresas ou nações.

O projeto começou a ser elaborado pelo Ministério da Justiça, com a ajuda de outros órgãos do governo e da sociedade civil, em 2009. Após extensa consulta pública, a proposição foi encaminhado ao Congresso Nacional pela presidente Dilma Rousseff em 2011 e o deputado Alessandro Molon foi designado seu relator em 2012. Para elaborar o seu relatório, Molon viajou o País em sete audiências públicas, nas quais ouviu representantes de 60 instituições, dos mais diversos setores, como acadêmicos, ativistas, órgãos de governo, operadoras telefônicas, artistas, empresas de tecnologia etc.

Na prática, o dispositivo tem a função de impedir que provedores de internet priorizem o acesso de clientes que pagam pacotes mais caros de banda larga e/ou o favorecimento de conteúdos de determinados sites em detrimento de outros. “A neutralidade da rede é importante para garantir que a internet continue sendo um espaço democrático e aberto. Sem ela, fica comprometida a liberdade de escolha do usuário, a livre concorrência na rede e a possibilidade de inovação”, garante Molon. Exceções à neutralidade

Observa-se que esta indicação impede a Anatel de assinar o regulamento, uma vez que, segundo o relator, a agência tem apenas a função de fiscalizar. Guarda de logs Os logs são os registros das atividades de um usuário em serviços on-line – são, por exemplo, as informações de acesso a um simples e-mail (de que computador, data e hora).
Os logs dividem-se em dois tipos: logs de conexão, registros de entrada e saída de um usuário na web; e logs de aplicação, dados sobre as atividades do usuário (o que ele fez na rede). Essa distinção orienta como as informações de cada internauta será arquivada.


Além disso, está expresso o direito à exclusão definitiva dos dados pessoais do usuário que os tiver fornecido a determinada aplicação de Internet, a seu requerimento, ao término da relação entre as partes. “A partir de agora, quando alguém encerrar um perfil em uma rede social, poderá pedir – e terá que ser atendido – a exclusão definitiva de seus dados pessoais, que não mais poderão ficar arquivados contra a sua vontade”, esclarece o deputado. Liberdade de expressão versus conteúdos ofensivos
O Marco Civil não prevê qualquer mecanismo que permita o controle da Internet pelo governo ou por qualquer pessoa. Ele cria um ambiente aberto, democrático e descentralizado, em que a liberdade de expressão é considerada um fundamento da internet. Entretanto, o projeto define que a remoção de conteúdos considerados ofensivos deverá ser feita apenas com determinação judicial. Atualmente, entidades ou usuários que se sentem prejudicados por alguma publicação solicitam a remoção diretamente ao provedor que hospeda o conteúdo.
Temendo ser condenado a pagar uma indenização, o provedor, em geral, retira imediatamente o conteúdo; o que pode ser considerado censura. Direitos autorais Considerado o segundo ponto de maior polêmica da proposição, os direitos autorais ficariam de fora do Marco Civil da Internet, por ser um assunto extremamente complexo e que vai além do aspecto da Internet.
Seguindo a recomendação dos ministros da Justiça, José Eduardo Cardozo, e da Cultura, Marta Suplicy: “qualquer mudança que diga respeito a direitos autorais será feita na reforma da Lei de Direitos Autorais [Lei 9.610/1998].”
(Catharine Rocha - PT no Senado - com informações da assessoria do deputado Alessandro Molon)
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