Maurício Moraes - Da BBC Brasil
Governo alemão anunciou fechamento de todas as usinas nucleares até 2022, após acidente no Japão
Ativistas antinucleares convocaram um protesto nesta quarta-feira em Berlim contra os planos do governo alemão de subsidiar indiretamente a construção da usina nuclear de Angra 3, no litoral do Rio de Janeiro.
Os manifestantes, que realizarão o protesto em frente à sede do governo, dizem ter reunido um abaixo-assinado com 125 mil assinaturas pedindo o fim do financiamento.
Programa nuclear Angra 3 vai custar quase R$ 10 bilhões e ficará pronta em 2015. Apesar dos apelos por revisão, Brasil mantém estratégia nuclear. O Governo planeja erguer entre 4 e 6 usinas nucleares até 2030
Há pouco menos de quatro meses do acidente na central nuclear de Fukushima, no Japão, que levou a Alemanha a anunciar o fechamento de todas as suas usinas até 2022, os ativistas querem que o governo Merkel desista de subsidiar a empresa francesa Areva, que irá fornecer equipamentos para Angra 3.
Em entrevista à BBC Brasil, Barbara Happe, porta-voz da ONG Urgewald, disse que "não faz sentido o governo anunciar que fechará todas as usinas alemãs e continuar investindo na construção de plantas em outros países".
Em entrevista à BBC Brasil, Barbara Happe, porta-voz da ONG Urgewald, disse que "não faz sentido o governo anunciar que fechará todas as usinas alemãs e continuar investindo na construção de plantas em outros países".
Segundo a ONG, o governo alemão planeja investir 1,3 bilhão de euros (cerca de R$ 2,9 bilhões) na companhia francesa Areva, que irá produzir os equipamentos de Angra 3 em uma linha de produção alemã. Este tipo de subsídio funciona como uma espécie de seguro para proteger as empresas alemãs caso um empreendimento em outro país fracasse.
A Areva foi contatada pela BBC Brasil para comentar se está considerando alguma mudança nos seus planos em relação a Angra 3, mas não respondeu à reportagem.
"Não faz sentido o governo anunciar que fechará todas as usinas alemãs e continuar investindo na construção de plantas em outros países"
Barbara Happe, da ONG Urgewald
Segundo Happe, o projeto de subsídios à exportação, que esteve suspenso em 2001 e 2009, foi aprovado no último ano pelo Parlamento. Vários países são beneficiários, mas ao Brasil foi destinado o maior montante – 1,3 bilhão de euros, contra um total de 35 milhões de euros (cerca de R$ 55 milhões) para os outros 11 projetos, de acordo com a ONG.
O projeto brasileiro também é o único que contempla a construção de uma nova usina.
Em 2010, a Alemanha reafirmou seu compromisso com Angra 3, mas nenhum contrato de financiamento nem de fornecimento de materiais por parte do governo chegou a ser assinado.
O projeto nuclear brasileiro é fruto de um acordo de cooperação assinado em 1975 com a antiga Alemanha Ocidental.
ELETRONUCLEAR DEFENDE ANGRA
Em abril deste ano, diversas organizações, entre elas a Urgewald, enviaram uma carta à chanceler Merkel, pedindo que o governo não levasse à frente os planos de financiamento da Areva.
Os ativistas argumentam que a situação da usina Angra 2, que funciona há dez anos sem uma licença ambiental permanente e que também foi resultado de uma parceria com a Alemanha, comprova que o Brasil é um país com "baixos padrões de segurança e sem uma fiscalização nuclear independente".
A ONG diz ainda que o projeto brasileiro emprega tecnologia obsoleta, menciona a falta de um plano de evacuação eficiente em caso de eventual emergência e diz que falta um sistema independente de fiscalização.
ENERGIA NUCLEAR
PELO BEM DO BRASIL
Em nota à BBC Brasil, a Eletronuclear disse as usinas de Angra “foram projetadas e construídas dentro dos mais rigorosos critérios de segurança adotados internacionalmente”.A empresa estatal disse ainda que os equipamentos já comprados “não estão obsoletos” e se “encontram em ótimas condições para uma operação confiável e segura da planta”.
Segundo a Eletronuclear, as usinas são vistoriadas periodicamente por organismos como a AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica). A empresa cita que nunca houve um acidente no complexo, mas ressalta que “num ambiente de tolerância zero, sempre é possível melhorar a segurança”.
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