A Ucrânia vive uma situação de instabilidade e uma escalada de conflitos internos provocados pela intervenção externa, que agravou-se desde o golpe de Estado de 22 de fevereiro, promovido pela direita e pela ultra-direita do pais e apoiado pelos Estados Unidos.
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Ucrânia : A autópsia de um golpe de estado
O movimento de protesto (batizado « Euromaïdan ») recentemente vivido pela Ucrânia, é interessante de várias maneiras. Ele mostra como um golpe de estado civil, contra um governo democráticamente eleito, pode ter sucesso através de um apoio estrangeiro, e sem intervenção militar. Ele revela a flagrante parcialidade e a falta de integridade das principais mídias ocidentais que, com uma argumentação falsa, apoiam cegamente o intervencionismo ocidental e, com uma visão dictômica da situação, qualifica então uns de bons e outros de máus. Ainda mais grave, esse movimento de protesto redesenha os contornos, até os fazerem evaporar, numa renascença da guerra fria que se acreditava enterrada com o desmoronar do muro de Berlim. Finalmente, ele também nos oferece uma provável imagem da situação dos paises árabes « primaverís ». Ness medida a Ucraina também teve a sua « primavera » em 2004, primavera essa que ficou conhecida como a « Revolução cor de laranja ».
Para se compreender a situação ucraniana atual é necessário que se passe em revista alguns dados importantes, assim como os nomes dos maiores atores da política ucraniana depois da era soviética.
1991 A Ucrânia se separa da USRS
1991-1994 Leonid Kravtchouk (ex dirigente da época soviética) é o presidente da Ucrânia.
1991 YuliaTimochenko cria a « Companhia de petróleo ucraniano »
1992-1993 Leonid Koutchma (pro-russo) é Primeiro ministro na presidência Kravtchouk. Ele se demissiona en 1993 para se candidatar as eleições presidencias do ano seguinte.
1994-1999 Leonid Koutchma é o 2o presidente da Ukraina.
1995 Yulia Timochenko reorganiza sua sociedade para fundar, com a ajuda de Pavlo Lazarenko, a companhia de distribuição de hydrocarbon « Sistemas Energéticos Unidoss da Ukraina » (SEUU).
1995 Pavlo Lazarenko é nomeado vice-Primeiro Ministro encarregado da energia.
1996 A SEUU faz 10 bilhões de dolares em negócios e declara 4 bilhões em lucros.
1996-1997 Pavlo Lazarenko é Primeiro ministro na presidência Koutchma.
1997 Pavlo Lazarenko é demissionado pelo presidente Koutchma.
1998 Lazarenko é detido pela policia suiça na fronteira franco-helvética e acusado pelas autoridades de Berne de lavagem de dinheiro.
1999 Lazarenko é detido no aeroporto JFK de New-York. Ele é condenado en 2004 por lavagem de dinheiro (114 bilhões de dolares), corrupção e fraude.
1999-2005 Leonid Koutchma é presidente da Ucraina depois da sua reeleição.
1999-2001 Viktor Iouchtchenko é Primeiro ministro na presidência Koutchma.
Júlia Timochenko é vice-Primeira Ministra encarregada da energia (posto que ja tinha sido ocupado por Lazarenko).
2001 Yulia Timochenko é demissionada pelo presidente Koutchma em janeiro de 2001. Ela é acusada de « contrabando e de falsificação de documentos », por ter fraudulentamente importado gás russo em 1996, de quando presidente da SEUU.
Timochenko foi detida e fará 41 dias de prisão. A justiça investiga sua atividade no sector da energia durante os anos 1990 e sobre sua ligação com Lazarenko.
2002-2005 Dauphin de Koutchma, Viktor Ianoukovytch (pro-russo) e Primeiro ministro na sua presidência.
2004 A eleição presidencial tem-se entre o Primeiro Ministro em posto, Viktor Ianoukovytch e o ex-Primeiro Ministro e líder da oposição Viktor Iouchtchenko (pro-ocidente). O 2o turno é vencido por Ianoukovytch (49,46 contre 46,61) %. O resultado é contestado porque, de acordo com a oposição, as eleições teriam sido fraudulentas.
Revolução Laranja : Movimento de protesto popular pro-ocidental largamente sustentado por organismos ocidentais de « exportação » da democracia, particularmente as americanas. Yulia Timochenko é considerada como a musa desse movimento. Principal resultado dessa « revolução » : anulação do segundo turno das presidenciais.
Um terceiro turno das eleições presidenciais é organizado : Iouchtchenko é eleito (51,99 contre 44,19%)
2005-2010 Viktor Iouchtchenko é o 3o presidente da Ucrânia.
2005 (7 mois) Júlia Timochenko é Primeira Ministra na presidência Iouchtchenko
2006-2007 Viktor Ianoukovytch é Primeiro Ministro na presidencia Iouchtchenko.
2007-2010 YuliaTimochenko é uma segunda vez Primeira Ministra na presidência Iouchtchenko.
2010 Eleições presidenciais. Resultados do primeiero turno : 1o - Ianoukovytch (35,32%); 2o - Timochenko (25,05%) et 5o -Iouchtchenko (5,45%).Segundo turno : Ianoukovytch vence Timochenko (48,95% contra 45,47%).
2010-2014 Viktor Ianoukovytch é o 4o presidente da Ukraina.
2011 Yulia Timochenko é condenada a sete anos de prisão por abuso de poder no cenário de contratos de gás assinados entre a Ucrânia e a Russia em 2009.
Leonid Kravtchouk
Leonid Koutchma
Viktor Iouchtchenko
Yulia Timochenko
Pavlo Lazarenko Viktor Ianoukovytch
Um golpe de estado apoiado pela grande maioria do mundo ocidental
O que se passou na Ucrânia nesses últimos dias foi um verdadeiro Golpe de Estado. Em efeito, o presidente Viktor Ianoukovytch tinha sido democraticamente eleito, em 7 de fevereiro de 2010, tendo vencido Yulia Timochenko no segundo turno das eleições presidenciais (48,95 % des voix contre 45,47 %).
Evidentemente, Timochenko não aceitou imediatamente o veredicto das urnas [1]. Deveria certamente de haver qualquer fraude, em qualquer parte, já que ela era, de quando das eleições, a Primeira Ministra en exercício e Viktor Iouchtchenko era então o presidente do país. As duas figuras emblemáticas da Revolução orange, muito amplamente sustentadas pelos países ocidentais, eram as supostas de levar a Ucrânia a uma era nova, a uma era da democracia e de prosperidade, mas a eleição tinha sido vencida, com grande margem, por um candidato pro-russo. E que candidato! Ianoukovytch! Ele que tinha sido « buado » pelos ativistas da onda orange de 2004. Em menos de seis anos então, os ucranianos tinham compreendido que essa « Revolução» colorida não era uma revolução de verdade.
Em 8 de fevereiro de 2010, João Soares, o presidente da Assembléia parlamentar da Organização para Segurança e Cooperação na Europe (OSCE) declarava : « A eleição ofereceu uma demonstração impressionante de democracia. Essa, na Ucrânia, é uma vitória para todo o mundo. Já está na hora dos dirigentes políticos escutarem o veredicto do povo e deixar o poder de maneira que uma transição democrática seja pacífica e construtiva » [2].
Sem muita convicção, mas colocada frente a evidência do veredicto dos observadores internacionais, Timochenko acabou por retirar seus recursos na justiça, os quais tentavam invalidar os resultados da eleição [3].
Os « revoltosos » da praça Maïdan reprovavam Ianoukovytch de ter decidido suspender um acordo entre seu país e a União Européia (UE). Aqui uma questão fundamental se apresenta : numa democracia, e dentro do quadro de suas prerrogativas, na sua função como presidente em exercício, teria ele o direito de assinar os acordos que julgasse mais benéficos para seu país? A resposta é sim, ainda mais porque muitos especialistas avaliavam que esse acordo seria nefasto para a economia da Ucrânia.
Segundo David Teurtrie, pesquisador do Instituto Nacional de Línguas e Civilizações Orientais (INALCO, Paris) tem-se que: « A proposta feita à Ucrânia era, como eu gostaria de dizer, uma estratégia perda-perda. Porque? O acordo corresponderia a colocação de uma zona livre de comércio entre a UE e a Ucrânia. Mas essa zona de livre-comércio seria muito desfavorável para a Ucrânia, porque ela abria completamente o mercado ucraniano aos produtos europeus, enquanto só entreabrindo o mercado europeu aos produtos ucranianos, que não seriam, na sua maior parte, reais concorrentes no mercado ocidental. Nós vemos portanto que as vantagens não eram muito razoáveis para a Ucrânia. Para simplificar, a Ucrânia teria todas as desvantagens dessa liberalização de comércio com a UE, não recebendo em princípio nenhuma vantagem » [4].
O economista russo Sergueï Glaziev é também da mesma opinião : « Todas as estimações, incluindo as dos analistas europeus, prevêem uma diminuição inevitável na produção de bens ucranianos nos primeiros anos depois da assinatura do acordo de associação, porque eles são condenados a uma perda de competitividade, em relação aos produtos europeus » [5].
Não obstante a inclinação pro-russa de Ianoukovytch, está claro que a proposta russa era muito mais interessante para a Ucrânia do que aquela avançada pelos europeus. « A UE não promete a lua aos manifestantes… só e justamente a Grécia » intitulou ironicamente o jornal l’Humanité [6].
Depois das desordens sangrentas de Kiev, numerosos países ocidentais tiveram curiosamente muita pressa em declarar que eles estavam prontos a apoiar « um novo governo » na Ucrânia [7], isso quer dizer, de reconhecer implicitamente um golpe de estado. Não é verdade que em vez de atiçar a violência, e de financiar barricadas, esses países deveriam mais era oferecer seus serviços para acalmar os espíritos, para que as pessoas pudessem esperar as próximas eleições, como prescrito pelos fundamentos da democracia, que eles tentam exportar à Ucrânia e para todo o mundo?
Pequenas especificações sobre a « Revolução » Laranja
A « Revolução » Laranja faz parte de uma série de revoltas batizadas como « revoluções coloridas », que se desenrolaram nos países do Leste, e principalmente então, nas ex-Republicas soviéticas durante os anos 2000. Essas desembocaram numa mudança de governo. Tem-se aqui então a Serbia (2000), a Geórgia (2003), a Ucrânia (2004) e Quirguistão (2005).
Num artigo extensivo e muito detalhado sobre o papel dos Estados-Unidos nas revoluções coloridas, G. Sussman e S. Krader, da Portland State University, mencionou-se no sumário: « Entre 2000 e 2005, os governos aliados da Russia na Serbia, Geórgia, Ucrânia e Quirguistão foram revertidos por revoltas sem derramamento de sangue. Se bem que a imprensa ocidental de maneira geral pretendesse que essas erupções fossem espontâneas, indígenas, e populares (poder do povo), as « revoluções coloridas » são em facto o resultado de uma ampla planificação. Os Estados-Unidos, especialmente, e seus aliados, exerceram sobre os países post-comunistas um impressionante número de pressões, tendo utilizado financiamentos e technologias em serviço de ajuda à democracia » [8].
Uma dissecação das técnicas utilizadas de quando dessas « revoluções » mostra que elas todas tem o mesmo tipo de modus operandi (maneira de agir). Vários movimentos foram introduzidos para conduzir essas revoltas: Otpor (« Resistência ») na Serbia, Kmara (« Basta! ») na Geórgia, Pora (« Está na hora ») na Ucrânia, e KelKel (« Renascença ») no Quirguistão. A primeira entre essas, Otpor, foi a que causou a queda do regime de Slobodan Milosevic, na Iugoslávia. Depois desse sucesso, o movimento Otpor ajudou, aconselhou e formou, todos os outros movimentos através do intermédio de uma organização especialmente concebida para essa tarefa, o Centro para Estratégia e Ação Aplicada Não-Violenta (CANVAS), que está localizado na capital da Serbia. CANVAS forma os dissidentes através do mundo, para que esses possam aplicar a resistência individual, não violenta, que é uma ideologia concebida pelo filósofo e politólogo americano Gene Sharp, em sua obra « From Dictatorship to Democracy » (Da dictadura a democracia) a qual esteve na base de todas as revoluções coloridas.
Manifestantes da “Revolução” Laranja
Assim como CANVAS, outros movimentos dissidentes também se beneficiaram da ajuda de numerosas organizações americanas de « exportação » da democracia, como a United States Agency for International Development (USAID), a National Endowment for Democracy (NED), o International Republican Institute (IRI), o National Democratic Institute for International Affairs (NDI), a Freedom House (FH), a Albert Einstein Institution, e o Open Society Institute (OSI). Esses organismos são financiados pelo orçamento americano, ou pelo capital particular americano. Por exemplo, a NED é financiada através de um orçamento votado pelo Congresso e os fundos administrados por um conselho de administração, onde estão representados o Partido Republicano, o Partido Democrata, a Câmara do Comércio dos Estados-Unidos e o sindicato American Federation of Labor-Congress of Industrial Organization (AFL-CIO). Tem-se aqui então que a OSI faz parte da Fundação Soros, a qual tomou o nome de seu fundador, George Soros, o bilionário americano, o conhecido especulante financeiro. É também interessante notar que o Conselho de Administração da IRI é presidido pelo senador John McCain, o candidato derrotado nas presidenciais americanas de 2008. A implicação de McCain nas revoluções coloridas foi claramente estabelecida num excelente documentário que a reporter francesa Manon Loizeau consagrou as revoluções coloridas [9]. Comprende-se então facilmente porque o senador recentemente se precipitou a Kiev para apoiar aos amotinados ucranianos. Comprende-se também, porque a Russia tomou uma atitude mais dura a respeito das ONG [organizações não governamentais] estrangeiras, presentes no país, assim também como a razão que então motivou a expulsão da USAID do território russo [10].
A relação entre o movimento ucraniano « Pora » [Está na Hora!] e as organizações americanas foi apresentada explicitamente por Ian Traynor num remarcável artigo publicado pelo The Guardian em novembro de 2004 [11].
« Oficialmente, o governo americano despendeu, durante um ano, 41 milhões de dolares para a organização e o financiamento da operação que permitiu o se desfazer de Milosevic […]. Na Ucrânia, a cifra correspondente deverá ficar por volta de 14 milhões de dólares », explicou ele.
Yulia Timochenko e Viktor Iouchtchenko são considerados como as figuras de proa da revolução orange, na Ucrânia. Apoiado pelo ocidente, esse movimento obteu a anulação do segundo turno da eleição presidencial de 2004, inicialmente vencida por Viktor Ianoukovytch contra Viktor Iouchtchenko. O « terceiro » turno dá finalmente a vitória a Iouchtchenko que vem a ser então o 3o presidente da Ucraina, para grande alegria dos americanos, e dos europeus.
Orgulhoso de seus êxitos « revolucionários » coloridos, o belicoso senador McCain disse que ele iria propor a candidatura de Viktor Iouchtchenko e de seu homólogo georgiano pro-ocidental Mikhail Saakashvili para o prêmio Nobel da Paz [12]. Ele foi então a Kiev em fevereiro 2005 [13] para felicitar seu « filhote » e talvez também para lhe mostrar que ele teria qualquer coisa a ver com essa sua eleição.
Logo que nominado presidente, Iouchtchenko apressou-se a nomear Timochenko ao posto de Primeira Ministra, mas a « lua de mel » entre os companheiros da revolução não manteu o fogo por muito tempo. Ainda que incensados pelo ocidente, a dupla Iouchtchenko-Timochenko não vingou, e os resultados foram muito decepcionantes.
Justin Raimondo descreveu a balança do mandato Iouchtchenko (2005-2010) da seguinte maneira: « Presentemente o brilho cor de laranja dessa revolução já está desbotado, mas isso já vem de a muito tempo, seu regime se mostra hoje tão incompetente e fazendo tanto uso de cartuchões como seus predecessores corruptos e interesseiros. Uma grande parte da ” ajuda ” monetária ocidental desapareceu […]. Ainda por cima, a economia ficou paralizada pela imposição de controles de preços, corrupção, e por um tráfico descarado de influência. Abaixo do acorde de divisão de poder entre o Sr. Iouchtchenko e a volátil Yulia Timochenko, a « princesa do gaz » e oligarca amazonas, o país foi desintegrado, não só economicamente como também socialmente […]. A radical baixa da economia, e os escândalos provenientes de acontecimentos quotidianos, durante a administração do Sr. Iouchtchenko, conduziram a completa marginalização da venerada revolução orange: no primeiro turno da eleição presidencial [2010], ele obteve um humilhante 5% dos votos. Descartado, e sem ter mais necessidade de fingir, o Sr. Iouchtchenko lançou uma veritábel bomba na arena política através de honrar Stepan Bandera, o nacionalista ucraniano, colaborador dos nazistas, como um ” Herói da Ucrânia “ » [14].
Note-se enfim que as organizações americanas de « exportação » da democracia estiveram muito implicadas no que se denomina a « primavera » árabe. Os jovens ativistas árabes foram formados à la resistência individual, não-violenta através da CANVAS, e à la ciber-dissidência por orgãos americanos, como a Alliance of Youth Movements (AYM) [Aliança Movimento Jovem] ela mesma financiada pelo Departemento do Estado, assim como pelos gigantes americanos de novas tecnologias, como Google, Facebook ou Twitter [15].
Os « gentís » amotinados da praça Maïdan
Apesar da grande diversidade da « fauna » revolucionária que ocupou a praça Maïdan em Kiev, os observadores concordam em reconhecer que a dissidência estava composta de quatro diferentes grupos posicionados num espectro político indo da direita à extrema-direita.
Em primeiro lugar, tem-se « Batkivshina » ou União pan-ucraniana « Pátria » que é um partido político liderado por Júlia Timochenko, tendo como vice Olexandre Tourtchinov, um amigo de longa data, considerado como seu « fiel escudeiro » [16]. Foi ele que recentemente foi nomeado presidente interim da Ukraina, depois da saída de Ianoukovytch.
Olexandre Tourtchinov e Yulia Timochenko
Fundado em 1999, Batkivshina é um partido liberal pro-europeu. Ele é um membro observador do (PPE), semelhante aos principais partidos de direita europeus como o CDU (Union Cristã-Democrata da Alemanha) da chancelière alemã Angela Merkel. Note-se que a Fundação Konrado Adenauer (Konrad Adenauer Stiftung), grupo de discussões do CDU, é também afiliado ao PPE. De outra parte, o PPE tem relações estreitas com o International Republican Institute(IRI). Wilfried Martens, o presidente do PPE da época, foi um apoiante de John McCain de quando da eleição presidencial americana de 2008 [17]. Naturalmente, como apontado anteriormente, John McCain é também, e principalmente, presidente do CA e do IRI.
Segundo um dos responsáveis do « Mejlis of the Crimean Tatar People », movimento associado ao partido « Pátria », IRI é activo na Ucrânia a mais de 10 anos, isso quer dizer que ele nunca saiu do território ucraniano depois da revolução orange [18].
Arseni Iatseniouk, um ator de primeiro plano pro-ocidente da vida política ucraniana, é considerado como um « líder- estrela dos protestos na Ucraina » [19]. Como produto da Revolução Laranja (ele ocupou postos ministeriais na presidência de Iouchtchenko), ele primeiro criou seu próprio partido (Frente para Mudança) antes de reunir-se as alas do Batkivshina e de se aproximar de Timochenko. Iatseniouk, que foi designado primeiro ministro, foi o escolhido pelos amotinados da praça Maïdan. A sua missão era a de dirigir um governo de união national antes da eleição presidencial antecipada, prevista então para 25 de maio de 2014 [20].
Arseni Iatseniouk
O segundo partido implicado no violento protesto ucraniano foi o UDAR (Aliança Democrática Ucraniana para a Reforma). Esse partido, liberal e pro-europeu também, foi criado em 2010 para a fusão de dois partidos, onde um é o partido Pora, surgido do movimento dos jovens que estiveram na vanguarda da revolução laranja o qual já foi discutido aqui anteriormente. UDAR (que significa « soco/golpe/murro » na Ucrânia) é dirigido pelo boxeador e ex-campeão do mundo em peso-pesado, Vitali Klitschko. Nascido no Kirguizistão, Klitschko é ucraniano mas viveu em Hamburgo e Los Angeles, durante vários anos, tendo seus três filhos nascidos nos Estados Unidos, sendo então de nacionalidade americana. [21].
Vitali Klitschko
Uma rápida navegação no site do partido permite que se entenda que UDAR conta entre seus sócios estrangeiros com : IRI (de McCain), o NDI (presidido por Madeleine K. Albright, ex secretária de Estado dos Estados Unidos) assim como CDU (de Merkel). Note-se aqui que o IRI e o NDI são duas das quatro organizações satélites da NED.
Os parceiros do UDAR (Foto da página publicada no site oficial do partido)
Num relatório do German Foreign Policy intitulado « Nosso Homem em Kiev » datado de dezembro de 2013, se pode ler a respeito de Klitschko e de seu partido : « Segundo os relatórios da imprensa, o governo alemão gostaria que o campeão de boxe Vitali Klitschko aspirasse a presidência para levá-lo ao poder na Ucraina. Ele deseja melhorar a popularidade da política da oposição organizando, por exemplo, aparições públicas conjuntas com o ministro alemão dos negócios estrangeiros. Nesse sentido, uma reunião também está igualmente prevista para Klitschko com a chancelière Merkel, de quando do próximo summit da UE nos meados de dezembro. A Fundação Konrado Adenauer esteve, para esse efeito, não só apoiando massivamente Klitschko, e seu partido UDAR, mas segundo um político da CDU, o partido UDAR tinha sido fundado em 2010 por ordens diretas da fundação do CDU. Os relatórios sobre as atividades da Fundação para o desenvolvimento do partido de Klitschko dá uma indicação da maneira através da qual os alemães influenciam os negócios internos da Ucraina via UDAR » [22]. Assim, UDAR seria uma criação do CDU, o que explicaria a forte implicação da diplomacia alemã no « atoladeiro » ucraniano, atolando-se então alí. Essa informação é confirmada por numerosos outros artigos [23].
Um terceiro movimento participou na insurreição ucraniana pro-ocidental. Trata-se de « Svoboda » (liberdade em ucraniano) o qual é um partido de extrema-direita ultra-nacionalista dirigido por Oleh Tyahnybok. Svoboda fez rolar muita tinta na imprensa por causa de sua posição xenófoba, anti-semita, homofóbica, antirussa e anticommunista [24]. Esse partido, que está aberto só para ucranianos « pura lã », glorifica personagens históricas ucranianas abertamente fascistas, e pro-nazistas como o tristemente célebre Stepan Bandera. Durante a segunda guerra mundial, Stepan Bandeira combateu os soviéticos sempre em ligação com a Alemanha nazista de então [25]. Ajunte-se a isso que Svoboda está estreitamente ligada a uma organização paramilitar, os « Patriotas da Ucrânia » [26]. Considerado como néo-nazi, ela esteve muito ativa durante os recentes acontecimentos que ensanguentaram as ruas de Kiev.
Oleh Tyahnybok
Os tres partidos citados então acima formaram uma aliança denominada « Grupo de Ação para a Resistência National » para levar a destabilização ao governo Ianoukovytch. Depois mostrou-se que uma nova coalizão tinha sido criada no parlamento ucraniano post-Ianoukovytch. Denominada “Escolha Européia ”, ela reúne 250 deputados de diferentes grupos parlamentares e entre esses então Batkivtchina, UDAR et Svoboda [27].
Os líderes do “Grupo de ação para a resistência nacional” Klitschko, Tyahnubok, Iatseniouk
E para completar a força do novo poder sobre as instituições ucranianas, Oleg Mahnitsky foi nomeado Procurador Geral da Ucrânia, posto de importância capital nesse período de sobressaltos « revolucionários » e de evidentes regulamentos « democráticos ». Pequena especificação: Mahnitsky é membro do partido Svoboda [28]. O chantilly sobre a calda? No novo governo post-Euromaïdan, muito dominado pelo partido Batkivshina de Timochenko, três pastas ministeriais foram dadas a membros do Svoboda : Oleksandr Sych, vice-Primeiro ministro; Andriy Mokhnyk, Ministro do Meio-Ambiente e Oleksandr Myrnyi, Ministro da Agricultura [29].
Oleg Mahnitsky
Oleksandr Sych | Andriy Mokhnyk | Oleksandr Myrnyi |
Uma outra nomeação não passou desapercebida nesse governo : foi a de Pavel Sheremeta que, de 1995 à 1997, foi diretor de programa na Open Society Institute de Budapest [30].
Pavel Sheremeta
O quarto grupo da revolta oposicional presente na praça Maïdan era provavelmente o mais violento de todos. Conhecido pelo nome « Pravy Sektor » (Sector de Direita), ele representa a coalizão de uma multidão de grupúsculos de extrema-direita, radicais, e fascistas, que consideram que Svoboda é « muito liberal » (sic) [31]. Criado em novembro 2013 [32], essa organização tem como líder Dmitro, o chefe de uma organização de extrema-direita denominada « Trizub » (Tridente) que tem uma reputação de ser o núcleo duro da brutal dissidência [33]. Além do Trizub, também lá se encontram, especialmente, os « Patriotas da Ucrânia », a « Ukrainska Natsionalna Asambleya – Ukrainska Narodna Sambooborunu – UNA-UNSO » (Assembléia National Ucraniana – Autodefesa National Ucraniana), Bilyi Molot (Martelo Branco) assim como a ala radical do Svoboda [Liberdade][34].
Dmitro Yarosh
Numa entrevista para o magazine TIME, publicada em 4 de fevereiro de 2014, Yarosh declarou que « seus grupos antigovernamentais em Kiev estariam prontos à luta armada » [35]. « Nós não somos políticos, nós somos soldados da revolução nacional », ele ajuntou. É aqui necessário dizer que o líder do Pravy Sektor passou alguns anos no exército soviético e que, por ele, a « “revolução nacional” é impossível sem violência, e que ela deveria conduzir a um estado “puramente ucraniano” com a capital em Kiev » [36]. Ele também revelou nessa sua entrevista que a sua coalizão tinha providenciado um arsenal de armas letais. E para precisar melhor : « Justamente para defender a Ucrânia dos ocupantes internos [ou seja, os membros do governo] ».
Em efeito, inúmeras fotos e vídeos mostram os militantes do Pravy Sektor en uniformes paramilitaires a caminho de treinar publicamente na praça Maïdan [37], assim como envolvidos em confrontações de extrema violência com as forças da ordem constituida, ou utilizando armas de fogo contra os « Berkut » (policia antimotim) [38].
Actions illégales des manifestants "pacifiques" à Kiev
Numa reportagem vindo de Kiev, o journalista britânico David Blair nos apresenta o seu ponto de vista sobre a organização do Pravy Sektor: « O que fica claro, é que eles são muito organizados. Um provisão de máscaras de gaz vindo regularmente, assim como também de alimentação e de excedentes de camuflagem do exército, chegam também regularmente aos voluntários nas barricadas. Ex-soldados oferecem aqui uma formação de combate, a mão desarmada, fora da tenda que serve como uma pequena base do Pravy Sektor na praça da Independência em Kiev. Os voluntários descreveram um sistema de comando com vários dirigentes os quais comandam esse grupo de luta heteróclito nas barricadas principais da rua Grushevskogo em Kiev. A questão que vem a mente de muitas pessoas é o que um grupo desse tipo, energético e cheio de potência, fora do controle dos meios da política tradicional, irá fazer se a revolução suceder em derrubar o governo » [39].
Milices d’autodéfense montées par le groupe d’extrême-droite Pravy Sektor (Source: Le Monde)
Um manifestante com arma na mão durante uma confrontação com a polícia, praça da Independência, à Kiev, em 22 de janeiro (Fonte: Libération)
Ninguém pode dizer se a revolução venceu, e nem mesmo se essa insurreição pode em princípio ser considerada como uma revolução. Mas do que se pode estar certo, é que o governo foi realmente derrubado, e que Dmitro Yarosh foi denominado como adjunto do presidente do Conselho de Segurança e da Defesa Nacional da Ucrânia [40], organismo consultativo do estado encarregado da segurança nacional que depende do presidente do país. E quem é o presidente desse conselho? Nenhum outro do que Andriy Parubiy, « o commndante da Maïdan » [41], « o chefe do estado-maior da revolução ucraniana » [42] que, no tempo da « revolução », guardous seus ternos de deputado do partido Batkivshchyna para vestir aquela de « generalissimo » do « exército » dos revoltosos da Euromaïdan. Mas, o mais interessante seria saber que Parubiy pertencia primeiramente ao partido Svoboda. En efeito, ele é, com Oleh Tyahnybok, co-fundador em 1991 do Partido Social-Nationalista da Ukraine (SNPU), rebaptizado Svoboda en 2004 [43]. Como se percebe as barricadas, os motins, a desobediência civíl, a violência e o fascismo podem levar ao topo na Ucrânia.
Andriy Parubiy
Tem que se reconhecer que os acontecimentos de Kiev fizeram salivar um grande amante de guerras « sem as amar ». Assim, como um tubarão atraido pelo sangue, Bernard-Henri Levy (BHL), o famoso « rouxinol dos ossários», foi a Kiev rencontrar os revoltosos. Com toda a humilhação de ser buado depois do fiasco líbio e mentindo pelos dentes, ele exclama : « Eu não vi nenhum néo-nazista, eu não percebi nada que fosse antisemita » [44].
BHL em Kiev: ”Eu não vi néo-nazis, eu não percebi nada de antisemitismo”
Para contradizer o « dandy » de camisas brancas aberta ao peito, veja-se o que diz a ucraniana Natalia Vitrenko, presidente do Partido socialista progressista da Ucrânia : « No começo, [os amutinados] eram os deputados da oposição Iatseniouk, Klitschko et Tyahnybok. Essas três pessoas dirigiam o Maïdan. Mas, logo, foi o Pravy Sektor que teve a mão na direção. Depois, nos meados de dezembro, a política do Maïdan foi ditada pelo Pravy Sektor, que é uma aliança de diferentes partidos e movimentos néo-nazis. Esses são grupos paramilitares de terroristas muito bem treinados » [45].
BHL fazendo uma pose em Kiev
Caricatura ”do acontecimento”
Mas a melhor resposta, a que corresponde melhor ao nível da declaração de BHL, veio da journalist Irina Lebedeva : « Ele [BHL] tem sorte, os militantes do Svoboda e do Pravy Sector, organizações que exigem a pureza racial, certamente que receberam claras instruções de nem tocar no assunto» [46].
Timochenko: loira ou morena?
A figura política ucraniana mais medializada pelos órgãos da imprensa ocidental é incontestavelmente Júlia Timochenko. Tratada como uma personagem histórica, maior que a natureza, ela beneficia de denominações elogiosas, mas sobretudo pomposas : a « Mariana em tranças », a « Princesa da gás », a « Joana d’Arc ucraniana » ou a « Dama de ferro ». Mas caso se observa bem uma estatueta de Joana d’Arc ou as memórias de Margaret Thatcher [47], compreende-se que a sua trajetória está longe de ser virtuosa. Em fato, sua prática política tem mais a ver com romances e novelas de escândalos político-financeiros (ou talvez até mafiosos) do que com a abnegação pela pátria e o povo ucraniano. Julgue por si mesmo.
A respeito de romances, comecemos por Olexandre Tourtchinov que é, assim parece, um verdadeiro romancista especializado no genro ciência de ficção « science-fiction ». Sim, é ele mesmo que atualmente é o presidente da Ucrânia, o mesmo que foi qualificado como « escudeiro fiel » de Timochenko e o qual nasceu, como ela também, em Dnipropetrovsk.
Timochenko morena
En 1994, Tourtchinov criou com Pavlo Lazarenko, um notável de Dnipropetrovsk, o partido Hromada do qual Timochenko viria a ser a presidenta em 1997. Um ano mais tarde, em 1995 , a « Mariana de tranças » que tinha humidelmente começado sua carreira de chefe de empresa com um empréstimo de 5000$, reorganizou sua modesta « Companhia de Petróleo Ucraniano » (criada em 1991) para fundar, com a ajuda de Lazarenko, a companhia de distribuição de hydrocarbonos « Sistemas Energéticos Unidos daUcraina » (SEUU). Nesse mesm ano, Lazarenko foi nominado vice-Primeiro Ministro encarregado da energia. Certamente muito favorizada pelas alavancas políticas inerentes ao posto de Lazarenko, os resultados da SEUU explodiram: 10 bilhões de dólares do total dos negócios, e 4 bilhões de lucros para o ano 1996! E tudo isso graças a contratos muito lucrativos ligados a venda na Ucraina do gás natural russo [48]. Os anos gordos continuaram com a promoção de Lazarenko ao posto de Primeiro Ministro em maio de 1996, se bem que ele tenha escapado de um atentado com uma bomba apenas 2 meses mais tarde [49]. No começo do ano 1997, a SEUU controlava já diversos bancos, tinha participação em dezenas de empresas de metalurgia, e de construção mecânica, era co-proprietária da terceira maior companhia aérea da Ucraina, e de seu segundo maior aeroporto, o de Dnipropetrovsk, além da participação no desenvolvimento de gasoductos turcos e bolivianos, assim como que o controle de diversos journais locais e nacionais [50].
Lazarenko e Timochenko
Como o enriquecimento « exponencial » é muitas vezes sinônimo de negócios suspeitos, as suspeitas começaram a pesar sobre Lazarenko e a SEUU. En abril de 1997, o New York Times escrevia que Lazarenko possuia parte nessa companhia. Outros negócios vieram a tona e, em julho do mesmo ano, o presidente Koutchma caçou o mandato de Lazarenko. A continuação é rocambolesca. Em 1998, Lazarenko foi detido pela polícia suiça na fronteira franco-helvética e acusado pelas autoridades de Berne de lavagem de dinheiro, mas ele foi liberado depois de pagar uma alta multa. Num artigo publicado en 2000 e intitulado « As contas fantasticas do Sr.Lazarenko », Gilles Gaetner fala de um desvio de dinheiro público ucraniano na ordem de 800 milhões de dólares, « sem dúvida um negócio de maior importância quanto a lavagem de dinheiro no após-guerra» [51]. Lazarenko foi então aos Estados Unidos onde tentou obter asilo político, mas foi detido em 1999.
Ainda que tenham sido eleitos como membros do Hromada, Timochenko e Tourtchinov saem desse partido em 1999, depois dos acontecimentos com Lazarenko para então criar, juntos, o partido Batkivshina [52].
Depois de ser julgado pela justiça americana, Lazarenko foi condenado em 2006 a nove anos de prisão por extorsão de fundos, lavagem de dinheiro por bancos americanos, e fraudes [53]. Um relatório de 2004 da « Transparency International Global Corruption » classifica Lazarenko entre os 10 líderes políticos mais corruptos do mundo [54]. A justiça ucraniana entretanto procura Lazarenko pelo assassinato do deputado Evguen Scherban, e de sua mulher, em 1996. Segundo a acusação, o grupo de Scherban era concorrente da SEUU, e acanhava suas atividades.
Evguen Scherban
Lazarenko foi libertado em novembro de 2013, mas foi colocado num centro de detenção para migrantes por causa da expiração de seu visto [55].
A prisão de Lazarenko não diminuiu em nada o oportunismo político de Timochenko. De quando Viktor Iouchtchenko acede ao posto de Primeiro Ministro em 1999, ela foi nomeada vice-Primeira Ministra encarregada da energia, posto ocupado por Lazarenko, alguns anos antes. Finalmente ela foi afetada pelas sobras do escândalo Lazarenko e acusada em 2001 de « contrabando e falsificação de documentos », por ter fraudulentamente importado gás russo, em 1996, de quando ela era presidente da SEUU [56]. Timochenko foi detida e esteve algumas semanas na prisão [57]. Em 2002, ela foi vítima de um grave acidente de automóvel o que a ela lhe pareceu como uma tentativa de assassinato [58].
Timochenko blonde, mas sem tranças.
É nesse período que ela muda de estilo. De morena, ela se transforma em loira. « Júlia troca o estilo de mulher de negócios sexy, com cabelos soltos, e tailleurs colantes por um estilo mais recatado, de parlamentária, com aspecto colegial, usando blusas soltas, muitas vezes com babados. Ela adopta o seu penteado atual, as famosas tranças loiras colocadas como um diadema sobre sua cabeça» [59].
Timochenko e seu estilo atual
En 2004, a « Revolução » Laranja brilha e Timochenko torna-se em sua musa. Iouchtchenko acede a magistratura suprema em 2005 com ela no posto de Primeira Ministra, por duas vezes. Todas as acusações são, como por mágica, esquecidas.
A dupla Iouchtchenko – Timochenko
Divulgado por Wikileaks, um relatório do congresso americano, datado de 2005, descreve assim a « princesa do gás » : « Timochenko é uma líder enérgica e carismática com um estilo político as vezes combativo, tendo feita uma campanha eficiente para o Sr. Iouchtchenko. Ao mesmo tempo ela é uma personagem controversal por causa de suas ligações, nos meados dos anos 1990, com elites oligarquias, onde o ex- Primeiro Ministro Pavlo Lazarenko, que cumpre atualmente uma pena numa prisão americana por fraude, lavagem de dinheiro e extorção, era uma parte. Timochenko exerceu os postos de chefe de uma empresa de gás e de vice-Primeira Ministra no governo notoriamente corrompido de Lazarenko. Diz-se que ela é extremamente rica […]. Ela depois foi objeto de uma investigação por corrupção e lavagem de dinheiro, e esteve então brevemente presa. Todas as acusações foram oficialmente abandonadas depois da eleição de Viktor Iouchtchenko. A Rússia também igualmente tirou as acusações de corrupção contra ela, pouco tempo antes da campanha eleitoral » [60].
O aceso ao poder da dupla Iouchtchenko – Timochenko (graças a onda laranja), permitiu também a Tourtchinov de ocupar o posto de chefe dos Serviços Secretos ucranianos (SBU) em fevereiro de 2005. Mas, em 2006, tanto ela como seu adjunto são objetos de uma investigação. Ele foi acusado de ter destruído o fichário de um perigoso padrinho do crime organizado ucraniano, Semyon Mogilevich [61]. Esse mafioso é suspeito de dirigir um vasto criminoso império e ele foi descrito pelo FBI, em 1998, como « o gangster mais perigoso do mundo » [62]. As acusações foram surpreendentemente abandonadas alguns meses mais tarde. Ele até obteve uma excelente promoção. Em efeito, em seu segundo mandato como Primeira Ministra (2007), Timochenko lhe outorgou o posto de vice-Primeiro Ministro, função que ele ocupou até 2010, data na qual ela perde as eleições presidenciais contra Ianoukovytch.
As relações conflituosas da dupla Iouchtchenko – Timochenko dá um golpe de graça as miragens da « revolução » laranja. Timochenko é acusada de ter traido o interesse nacional para preservar suas ambições pessoais [63].
A entrada de Ianoukovytch ao poder põe fim a impunidade da candidata derrotada pelas urnas, e seu fichário judicial é tirado das prateleiras com seus novos e velhos « casos ». Timochenko se vê envolvida em numerosos processos judiciais: má utilização de fundos obtidos em 2009 pela venda de quotas de emissão de CO2, abuso de poder de quando da assinatura em 2009 de contratos sobre gás com a Rússia – considerados desfavoráveis a seu país, fraude fiscal, e desvio de fundos relativos ao caso Lazarenko e sua responsabilidade de quando da gerência da SEUU [64].
Ainda mais grave, ela foi acusada de cumplicidade em morte (com Lazarenko) no caso Scherban (1996). Segundo o procurador geral adjunto, « a vítima estava em conflito com a Sra.Timochenko, que se ocupava então da distribuição do gás russo na Ucraina e tentava obrigar as empresas da região industrial de Donetsk (Leste) a comprar essa matéria prima de sua sociedade, Sistemas Energéticos Unidos da Ucraina (SEUU), graças ao apoio do Primeiro Ministro da época, Pavlo Lazarenko »; « Evguen Chtcherban, um homem forte da região, do qual o seu grupo era um concorrente da sociedade da Sra.Timochenko, opos-se publicamente a expansão da SEUU, o que ele pagou com a sua vida » [65]. Ele ajunta a isso « que ele tinha testemunhos que ela e o ex- Primeiro Ministro Pavlo Lazarenko teriam pago pelos assassinatos ». Essas acusações são sustentadas por Ruslan, o filho do Sr. Shcherban, que sobreviveu ao assassinato de seus pais. Numa conferênccia de imprensa, ele declarou ter remitido uns documentos ao serviço do procurador geral os quais implicavam os dois ex-primeiros ministros (Lazarenko et Timochenko) nos assassinatos [66].
A repartição do procurador geral da Ucraina publicou um documento explicativo do papel de Timochenko no assassinato de M. Shcherban.- Click aqui abaixo para a ler. Information on the homicide of people’s deputy of Ukraine Y. Shcherban and the financing of this crime |
Alexander Momot Vadym Hetman
A cumplicidade de Timochenko é também suspeitada em dois outros assassinatos: do homem de negócios Alexander Momot (assassinado em 1996, alguns meses antes de Shcherban) e do ex governador do Banco Nacional da Ucraina, Vadym Hetman (assassinado em 1998) [67].
Timochenko foi condenada a sete anos de prisão, em otubro de 2011, e emprisionada por seu envolvimento nos casos dos contratos de gás [68].
“o apogeu e a queda de Júlia Timoshenko”
Os acontecimentos inesperados do Euromaïdan vieram a tirar « a princesa do gás » de sua gaiola. E de que maneira! No sábado em 22 de fevereiro de 2014, as 12h08, Tourtchinov, o braço direito de Timochenko, foi eleito presidente do Parlemento ucraniano. Trinta minutos mais tarde, como se tratasse de um caso da maior urgência a regular, num país em plena insurreição, o parlemento vota para a libertação « imediata » de Timochenko. Em comparação, não foi antes das 16h19 que esse mesmo parlamento votou para a destituição de Ianoukovytch [69].
Com a nominação do militante de extrema-direita Oleg Mahnitsky como procurador geral, assim como as nomeações de um muito grande número de membros do partido Batkivshina a postos-chaves no seio do aparelho do estado, se pode fácilmente predizer que Timochenko não precisará mais, pelo menos durante um certo tempo, de se inquietar por seus problemas judiciais. Tem que ser reconhecido que em duas reprises Timochenko foi arrancada das mãos da justiça graças a amotinações populares de grande amplitude : a « revolução » laranja em 2004 e, agora, o Euromaïdan. Além do seu talento como romancista, parece que o presidente Tourtchinov é também pastor evangélico. Seria nesse título que ele teria « salvo » sua amiga de sempre?
Mas « Kiev vale bem uma missa », não vale?
O desavergonhado envolvimento ocidental
A Euromaïdan pode ser considerada como uma « revolução » colorida, revista e corrigida ao molho « primavera » árabe, com aroma sírio. En efeito, ainda que numerosas semelhanças possam ser encontradas entre a « revolução » laranja e a Euromaïdan, duas diferenças fundamentais podem ser notadas. A primeira, já foi discutida anteriormente, essa se relata a violência dos revoltosos que essencialmente se deve a omnipresença de manifestantes da extrema-direita, fascista e neo-nazista. Por comparação, a « revolução » laranja estava baseada em teorias não-violentas de Gene Sharp. A segunda diferença releva a insolente presença física de personalidades ocidentais, políticas e civís, na praça Maïdan, fazendo discursos incendiários para as massas, e incitando a desobediência civil, em completa contradição com os princípios fundamentais de não-envolvimento nos negócios internos de um país soberano onde os dirigentes foram democraticamente eleitos.
Comecemos por John McCain, presidente do conselho da administration do IRI que, em Kiev, estava em terreno conhecido. Efetivamente, depois (e não durante) a « revolução » laranja, ele já tinha estado na Ucraina (em fevereiro de 2005) para se encontrar com os seus « filhotes » os quais ele tinha generosamente financiado.
Iouchtchenko e McCain (fevereiro de 2005)
O senador americano também esteve nos países árabes « em primavera » : Tunísia (21 de fevereiro de 2011), Egito (27 de fevereiro de 2011), Líbia (22 de abril de 2011) e Síria (27 de maio de 2013). Quando das duas primeiras viagens, os governos já tinham sido derrubados. Nas duas últimas, a batalha estava no auge (isso ele o fez também na Síria).
Em Kiev, McCain se dirigiu aos revoltosos de Maïdan em 4 de dezembro de 2013. « Nós estamos aqui para apoiar essa sua causa justa, o direito soberano da Ucrânia de escolher seu próprio destino, livre e independentemente. E o destino que vocês desejam, esse se encontra na Europa », trombeteou ele [70].
Ele se reencontra com o « triunvirato do Maïdan », ou seja, com Iatseniouk, Klitschko e Tyahnybok. Ele não se embaraçou de se deixar fotografar com Tyahnybok, apesar de que esse tinha sido interditado, o ano anterior, de entrar nos Estados-Unidos por causa de seus discursos anti-semitas [71]. Não, nada o constrangiu quanto a se relacionar com o líder do Svoboda [liberdade], um partido abertamente ultra-nacionaliste xenófobo, e predicante de valores neo-nazistas, assim como também nada o tinha detido de quando de seu apoio a terroristas sanguinários na Líbia ou na Síria. Para ele os fins justificam os meios: o que importava era tirar a Ucrânia do lado da Rússia.
McCain rencontra Klitschko, Iatseniouk e Tyahnybok (dezembro de 2013)
O envolvimento americano é ilustrado pelo « escândalo Nyland » que mostrava que o vocabulário diplomático utilizado por alguns altos funcionários americanos não tinha nada a ficar devendo aos brutalizados, a beira cais « Fuck the UE! », era o que ela exclamava. Isso diz muito a respeito da luta para a influência que opõe os Estados Unidos ao velho continente.
E como é que Victoria Nyland, a sub-secretária do Estado para a Europe e a Eurasia, chama os líderes do Euromaïdan? « Yats » et « Klitsch » [72]? Isso seria como « Jon » e « Ponch » da popular série americana « CHiPs »? Utilizar uma linguagem assim familiar supõe uma evidente proximidade e uma incontestável conivência entre os membros do triunvirato e a administração americana, e isso é o mínimo que se pode dizer.
Tyahnybok, Victoria Nulan, Klitschko, e Iatseniouk
Ainda mais, o IRI, e a NED também se apresentaram em Kiev. Para que se entenda não é necessário mais do que acompanhar as apresentações de Nadia Diuk que escrevia de Kiev tendo seus artigos sido publicados em « Kiyv Post » e outros jornais famosos. Os títulos de seus artigos são idílicos : « A revolução auto-organizada da Ucraina » [73], « As visões do futuro da Ucrânia » [74], etc. Já de quando em 2004, em plena « revolução » laranja, ela escrevia « Na Ucrânia, uma liberdade indígena » [75] para provar que a « revolução » era espontânea, o que contradiz todos os estudo (ocidentais) que foram publicados subsequentemente. É necessário aqui aceitar as evidências de que o teor desses artigos não mudaram com o tempo. E note-se bem, Mme Diuk é a vice-presidente da NED, encarregada dos programas para a Europa, a Eurasia, a Africa, a América Latina e o Caribe [76].
Os relatórios anuais da NED mostram que, justamente para 2012, os montantes destinados a umas sessenta organizações ucranianas se elevam a mais de 3,4 milhões de dólares [77]. Nesses relatórios, indica-se que o IRI de McCain e a NDI de Albright teriam respectivemente beneficido de 380 000 e 345 000 $ para suas atividades na Ucrânia.
Esse evidente envolvimento americano na Ucrânia foi notado por Sergueï Glaziev que declarou que « os americanos despenderam 20 milhões de dólares por semana para financiar a oposição, e os rebeldes, assim como para os armar » [78].
O segundo país ocidental muito implicado no Euromaïdan é a Alemanha. Uns dez dias antes de McCain, Guido Westerwelle, o chefe da diplomacia alemã, se deu um banho de massas entre os manifestantes da praça Maïdan em companhia de seus « protegidos » « Yats » e « Klitsch » ou, mais polidamente, Iatseniouk e Klitschko. Depois de ter se encontrado com eles, atrás de portas fechadas então, ele declarou que: « Nós não estamos aqui para apoiar um partido, mas para apoiar os valores europeus. E quando nós nos engajamos para esses valores europeus, é naturalmente agradável de saber que uma grande maioria dos ucranianos partilham esses valores, desejando os partilhar assim como seguir a vida européia » [79]. De quando falando de maiorias, Westerwelle certamente que não tinha ainda consultado as recentes sondagens que mostravam que só 37% da população ucraniana seria favorável a uma adesão de seu país a União Européia [80]. Do outro lado, os cidadãos europeus o seriam? Que não se esteja tão certo. Por exemplo, uma sondagem muito recente mostrava que 65% dos franceses se opunham a idéia de uma ajuda financeira da França e da União Européia a Ucrânia, e que 67% seriam contra uma entrada dela na UE [81].
Klitschko, Guido Westerwelle e Iatseniouk
Pelo outro lado, a chancelière alemã, também como seu ministro, recebeu Iatseniouk e Klitschko em 17 de fevereiro em Berlim. O candidado no qual Merkel, CDU e seu grupo de discussões a Fundação Konrad Adenauer apostam, é Klitschko [82]. Também não menos, o partido de Timochenko é considerado como um aliado do PPE e da CDU, assim como o confirmou o Sr.Martens num discurso do Clube da Fundação Konrado Adenauer em 2011 : « Júlia Timochenko é uma amiga de confiança e seu partido é um importante membro da nossa família política». Nesse mesmo discurso, ele depois declarou que sua posição era similar aquela de McCain quanto ao apoiar a Timochenko (para sua libertação de quando ela ainda estava na prisão) [83].
Klitschko, Merkel e Iatseniouk
Ressalta-se que essa convergência de pontos de vista entre o IRI e a Fundação Konrado Adenauer não seria por acaso, ou recente. Na realidade, ela vem desde a criação da NED como nos explicou Philip Agee, ex-agente da CIA que deixou a agência para ir viver em Cuba [84]. Para começar deve ser compreendido que a NED foi criada para se encarregar de certas tarefas que originalmente eram feitas pela CIA, de quando da sua gestão de programas secretos de financiamento de sociedades civís estrangeiras. Depois de ter consultado um vasto número de organizações nacionais e estrangeiras, as autoridades americanas ficaram interessadas pelas fundações dos principais partidos da Alemanha do Oeste, que eram financiadas pelo governo alemão : a Friedrich Ebert Stiftung, dos social-democratas, e a Konrado Adenauer Stiftung, dos democrata-cristãos. Nós encontramos atualmente uma estrutura análoga no cenário politico americano. A IRI e o NDI, os dois satélites da NED, são respectivamente alinhados ao partido republicano e democrata americanos e, como seus homólogos alemães, são financiados por fundos públicos. Como a CIA colaborava com essas fundações « Stiftungs » alemãs para financiar movimentos através do mundo bem antes da criação da NED, pelo presidente Reagan en 1983, essas relações se mantiveram sólidas até nossos dias.
Se bem que mais discreto que os dois precedentes, aqui acima comentados, o terceiro país implicado nos acontecimentos na Ucrânia é o Canadá. Esse interesse seria provavelmente porque o Canada abriga a maior diáspora ucraniana no mundo, depois da Rússia. Mais de 1,2 millions de canadenses são de origem ucraniana [85].
John Baird, o ministro dos negócios estrangeiros canadenses encontrou-se com o triunvirato ucraniano em 4 de dezembro de 2013 em Kiev e, como os outros, fez uma « peregrinação » a praça Maïdan. O chefe da diplomacia canadense voltou a Kiev em 28 de fevereiro de 2014 para encontrar as novas autoridades : o presidente Tourtchinov, o Primeiro ministro Iatseniouk e a « Jeanne d’Arc ucraniana ». Questionado sobre seu apoio « incondicional » a Ucraina e as consequências desse sobre as suas relações com a Rússia, ele respondeu : « Nós certamente que não iremos nos desculpar por ter apoiado o povo ucraniano nessa sua luta pela sua própria liberdade » [86]. Note-se que Paul Grod, o presidente do Congresso Ucranianos-Canadenses (UCC) acompanhou Baird nessas suas duas viagens. Suas posições tem ressonância nas da diplomacia canadense.
Tyahnybok, Iatseniouk, Baird, Klitschko e Grod
As posições e as reações de todos esses políticos nos deixam perplexos. Absolutamente certo é que a perda de vidas nesse conflito ensanguentado é deplorável. O que teriam esses líderes ocidentais feito se manifestantes violentos pertencendo a grupo de extremistas tivessem ocupado o centro de suas capitais, matado numerosos oficiais encarregados da ordem pública, sequestrado dezenas de policias, ocupado locais e organizações oficiais, e tornado impossível a ordem pública durante meses? Não tiveram esses líderes ocidentais parte da responsabilidade no aumento do número de vítimas de quando vindo jogar benzina no fogo do Maïdan?
Na França, por exemplo, o ministro do Intérieur Manuel Valls se levantou contra uma recente manifestação do Bloco Negro « Black Bloc » que tinha injuriado seis policiais, em 22 de fevereiro de 2014. Esses foram seus comentários: « Essa violência vem da extrema esquerda, desse Black Bloc, que são originários de nosso país mas também de países estrangeiros, isso é inadmissível e isso continuará a trazer uma resposta particularmente determinada por parte do Estado ». Depois de ter rendido homenagem «ao prefeito da Loire Atlantique, as forças da ordem, policiais e gendarmes, que com muito sangue frio e profissionalismo tinham contido essa manifestação », ele disse ainda: « Ninguém pode aceitar tais exaltações » [87].
E os ucranianos, deverão eles aceitá-las? E como teria reagido a classe política francesa e ocidental se esses « Blocos Negros » tivesse sido financiados, formados, e ou apoiados por organizações, e políticos estrangeiros russos, chineses, ou iranianos, vindos à França para os apoiar?
Je vous laisse le soin d’y répondre. – Deixo aos senhores de o responder.
Definitivamente, é necessário render-se a evidência que o Euromaïdan, assim como a « revolução » laranja, é um movimento amplamente apoiado pelos poderes ocidentais. Entretanto essa conclusão não deverá eclipsar a real corrupção de toda a classe política ucraniana. Querer nos apresentar, como o faz a imprensa ocidental, os « bons » com Timochenko e os « maus » com Ianoukovytch, representa uma visão distorcida da realidade. O governo Ianoukovytch foi democraticamente eleito. Os recentes acontecimentos são inequivocamente um Golpe de Estado.
Esse golpe de estado permitiu aos militantes da extrema-direita ucraniana, ultra-nacionalista, fascista e neo-nazista, de fazer parte do novo governo ucraniano. Essa presença, abertamente apoiada pelos governos ocidentais, é nefasta para o futuro e para a estabilidade do país. A apressada, controversial e incompreensível derrocada da lei « sobre as bases da política linguistica do Estado » é um exemplo patente [88].
Além disso, uma aproximação « forçada » da Ucrânia com a União Européia coroando-se com o afastamento desse país da Rússia, não é proveitoso para o povo ucraniano. Segundo especialistas ocidentais, e também não-ocidentais, a proposta russa era de longe mais interessante que, mesmo conjuntamente, a da União Européia e dos Estados Unidos, que não davam outra alternativa que a oferta da « medicina FMI » ao país [89].
Contrariamente as piedosas promessas de Timochenko, declamadas ao Maïdan, seria utópico pensar que a Ucrânia venha a fazer parte da União « num futuro próximo » [90], em vista da situação desastrosa de certos países europeus, como a Grécia, por exemplo. A « Mariana de tranças » provavelmente não entendeu o ministro francês de Negócios Europeus, Thierry Repentin. « Em todas as negociações para oferecer a Ucrânia um acordo de associação, nós fizemos o possível para retirar toda alusão a uma adesão a UE. Não há questão de se mudar de opinião » ele declarou num artigo publicado no 3 de fevereiro desse ano [91].
Se a Ucrânia não pode pretender a uma adesão a União Européia, e os defensores ocidentais dessa « revolução » não metem as mãos nos bolsos, tudo parece indicar que esse país não seria no caso mais do que um « cavalo de Tróia » para incomodar a Rússia, que está adquirindo muita influência na cena internacional, como de quando do seu papel no conflito siriano. Essa é uma maneira de se abrir uma nova guerra fria. Os problemas na Criméia e as ameaças de exclusão da Rússia do G8 [92] serão só o começo.
Os ucranianos deveriam saber que eles são condenados a viver em boa vizinhança com a Rússia, com a qual eles tem uma fronteira comum, assim como ligações históricas, comerciais, culturais e linguísticas.
Aqui uma coisa é no entanto certa: o acordar « post-revolucionario » será doloroso para os ucranianos.
Fonte: Ahmed Bensaada
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