duela
perverso
preservo
palavra
no verso
o servo
lavra
Ale Safra
Uma Companheira da Zona Norte.
Uma Escritora.
Uma poeta de prosa, sem versos fáceis e de palavras que vibram pela liberdade de ser mulher
crochê varal
perverso
preservo
palavra
no verso
o servo
lavra
Ale Safra
Uma Companheira da Zona Norte.
Uma Escritora.
Uma poeta de prosa, sem versos fáceis e de palavras que vibram pela liberdade de ser mulher
Alessandra Safra. Quem vai descrever? Quem vai falar de seu texto? São coisas jogadas, um mosaico que fala por si. Que fala do momento da vida vivida, do cotidiano interior. Que fala para perfurar a pele, penetrar no corpo e tocar a alma. Sem medo.
E que os hipócritas se revirem nas catacumbas da pequenez humana e que apontem seus dedos e que chorem feitos bebes de fraudas sujas, porque a verdade lhes estampará a cara hoje, agora. Nossa Alê encarna o espirito feminino, das mulheres que comem a maçã e oferecem para o mundo na dose certa, aquela que não transforma o remédio em veneno. Porque nada é proibido quando é verdadeiro. Ela experimenta cada letra, cada palavra, cada expressão, singrando os mistérios da carne e do sangue para revelar todos os segredos que angustiam nosso senso simplesmente por não saber. E ela o faz como mulher. Porque só as mulheres sabem tudo de tudo. Sabem do doce que pode amargar, do ódio de quem ama loucamente e da morte que dá vida a quem já perdeu a esperança.
Se você tem medo de enfrentar a si mesmo, fique longe!
Se você tem medo de enfrentar a si mesmo, fique longe!
Quem vai descrever? Quem vai falar de seu texto? Dedos não brocham mesmo! Ame, apaixone-se ou se desespere... A escolha e sua!
ALESSANDRA SAFRA
sua namorada apareceu na porta do meu prédio. de novo. feito ladra me roubou um susto, o tempo do banho, do jantar, da leitura, do seriado, do sono. borrada pelo choro fumava um cigarro aceso no outro. o que poderia lhe dizer? que tenho nojo de lágrimas? que não nos falamos em meses? que não lamento dizer sim para você toda vez que toca meu interfone? não me comovo com a angústia dela e não me culpo. aceito as coisas como são, dói menos. é o que é, evito dramas. disputar alguém com alguém é estúpido. não vejo mulheres como rivais ou inimigas, nem homens como troféus. ou é ou não. só o prazer me interessa.
sua namorada apareceu na porta do meu prédio. de novo. feito ladra me roubou um susto, o tempo do banho, do jantar, da leitura, do seriado, do sono. borrada pelo choro fumava um cigarro aceso no outro. o que poderia lhe dizer? que tenho nojo de lágrimas? que não nos falamos em meses? que não lamento dizer sim para você toda vez que toca meu interfone? não me comovo com a angústia dela e não me culpo. aceito as coisas como são, dói menos. é o que é, evito dramas. disputar alguém com alguém é estúpido. não vejo mulheres como rivais ou inimigas, nem homens como troféus. ou é ou não. só o prazer me interessa.
ela esta descompensada. me irrita. mas não posso deixar de ver a sensualidade da cena.
você a enlouquece quando fala de mim. precisa disso para ter prazer? ela é confusa, olhos doloridos pelo ciúmes raso. que chato. ofereci água ardente de banana lá de santa fé. virou o copo! ela aceitou rápido o convite para subir, acho que sempre esperou isso. queria ver onde você deixa de ser exclusividade. enquanto subíamos as escadas, eu olhava o porte da sua morena, grande, cabelos longos, calça justa, cintura fina, bunda linda. o belo em sua versão ordinária, como você diz.
abri a porta mas fiz frente, ela entrou roçando os seios nos meus. busquei seu cheiro, e era uma mistura de cigarro, perfume e bala de cereja.
quando ela contou a você o que aconteceu daquele momento em diante, você enlouqueceu. talvez, pelo prazer de rever aquela parda deitada e nua, suada, gemendo alto, contorcida de prazer e dor, eu deixe vocês dois entrarem na meu apartamento.
eu lhe dei água ardente de banana, e contei a ela, com sofrimento de detalhes, aquele dia que você, sentado na cadeira da cozinha, experimentou da bebida na minha língua enquanto eu no seu colo me encaixava. mostrei a ela todos os lugares onde enlouquecemos, fui cruelmente naqueles pontos que a fez arrepiar, dei a ela a crueldade que foi buscar. contei as coisas que me diz. e toquei nela para explicar como você me pressiona contra a parede do corredor. seus olhos dilataram, sua boca abriu para buscar o ar que começa a faltar.
você a enlouquece quando fala de mim. precisa disso para ter prazer? ela é confusa, olhos doloridos pelo ciúmes raso. que chato. ofereci água ardente de banana lá de santa fé. virou o copo! ela aceitou rápido o convite para subir, acho que sempre esperou isso. queria ver onde você deixa de ser exclusividade. enquanto subíamos as escadas, eu olhava o porte da sua morena, grande, cabelos longos, calça justa, cintura fina, bunda linda. o belo em sua versão ordinária, como você diz.
abri a porta mas fiz frente, ela entrou roçando os seios nos meus. busquei seu cheiro, e era uma mistura de cigarro, perfume e bala de cereja.
quando ela contou a você o que aconteceu daquele momento em diante, você enlouqueceu. talvez, pelo prazer de rever aquela parda deitada e nua, suada, gemendo alto, contorcida de prazer e dor, eu deixe vocês dois entrarem na meu apartamento.
eu lhe dei água ardente de banana, e contei a ela, com sofrimento de detalhes, aquele dia que você, sentado na cadeira da cozinha, experimentou da bebida na minha língua enquanto eu no seu colo me encaixava. mostrei a ela todos os lugares onde enlouquecemos, fui cruelmente naqueles pontos que a fez arrepiar, dei a ela a crueldade que foi buscar. contei as coisas que me diz. e toquei nela para explicar como você me pressiona contra a parede do corredor. seus olhos dilataram, sua boca abriu para buscar o ar que começa a faltar.
quis saber dela se queria saber o gosto da boca que você beija. se ela queria saber o cheiro da pele que você morde. a textura dos cabelos que você puxa, as mãos que te fazem querer sempre voltar. as palavras que nos excitam. quando cheguei no seu ouvido já estávamos no desconforto favorável do sofá. a cama onde ela chorou. pois sabia que ultrapassou um limite que não poderia mais voltar. e não estou falando de você. nem de mim. mas de algo que só as mulheres sabem.
eu deveria sentir vergonha? culpa? remorso por seduzir sua namorada? aposto que você quis saber como ela gozou no sofá. na cama. no corredor. na cozinha. no banheiro. na lavanderia. quando ela me procurou novamente. o quando ela quer mais. eu jurava que não voltaria a vê-la devido seu constrangimento e confusão, mas ela quis. por uns encontros gostei de ver como a vontade dela ser uma mistura minha e sua.
eu deveria sentir vergonha? culpa? remorso por seduzir sua namorada? aposto que você quis saber como ela gozou no sofá. na cama. no corredor. na cozinha. no banheiro. na lavanderia. quando ela me procurou novamente. o quando ela quer mais. eu jurava que não voltaria a vê-la devido seu constrangimento e confusão, mas ela quis. por uns encontros gostei de ver como a vontade dela ser uma mistura minha e sua.
como todas as coisas raras, a constância me deprime.
espero que ela encontre seu colo para se confortar.
crochê varal
74 anos. mastigava há 50 o chiclete, uma lasca amarga de cordão umbilical
24 anos foi gente. o resto foi função em nome do pai, do rebento e do absurdo
15 gatos. 10 cachorros. 2 netos. 1 bisneta. 1 homem enterrado. 1 amor perdido.
1 sonho nunca vivido. 1 avental. 1s toneladas inomináveis garganta abaixo
7 ossos restaurados. 40 dentes não confiáveis. badaladas no corredor penumbrento
uma santa empoeirada cheira fritura há décadas e marca hora de oração. de novo hora do jantar. frango frito. os cachorros brigam. os netos ignoram. o chiclete quer jantar. a bisneta faz manha.
os felinos preferem o telhado
7 passos e 4 latas com roupas de molho. o joelho não quer dobrar. nem os olhos separar feijões. os pés protestam, inchados e rachados, contra os passos até o tanque. a vassoura, em sua finitude ligeira, é companheira dos calos. o sabão derrete carinho entre os dedos. mas o chiclete quer a calcinha favorita limpa. é noite de baile. será que arruma o marido rico?
7 pontos depois de 4 passos e 1 quina de armário. foi para onde encurralou o grito. "descuido" o chiclete disse no registro. 7 dias de internação para ganhar peso. tratar desidratação. hipertensão e 1 infecção de pulmão. um pacote completo de "ites". foi um descanso sem reflexão
então 1 joelho que não dobra. 7 pontos na cabeça. não contabilizáveis calos, cicatrizes, nódulos, cistos generalizados. 2 ovários muxos. 1 intestino rompido. as lembranças são um mar de merda
chiclete ignorou o gemido. fazia sua maquiagem para o baile esperança do 3º marido
a luz daquela santa fedida do corredor apagou às 07:40. 1 noite em agonia. 3 netos cada qual em um universo paralelo. 1 bisneta que assistia curiosa as mãos carcomidas em conchinhas tremerem vez e outra até parar foi sua última companhia.
resultado: 1 vida em cova rasa. 1 caixão barato. passado enterrado.
e neste agora, de futuro interessante, chiclete não havia pensado. em sua ladainha "comigo será diferente", que arrumaria um marido rico, não previa 28 animas famintos no retorno do funeral. 1 avental passou por seu pescoço sem que chiclete desse conta. 1 vassoura. depois 1 sabão, as roupas. até que o próprio tempo passou. E de 1 em 1 o final desta história não tem surpresas. é um esquema de crochê, presentes de mãe para filha
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