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VITOR RAMIL - CANTOR, COMPOSITOR, ESCRITOR - O CALOR HUMANO VEM DO FRIO


Eu me chamo Vitor Ramil. Sou brasileiro, compositor, cantor e escritor. Venho do estado do Rio Grande do Sul, capital Porto Alegre, extremo sul do Brasil, fronteira com Uruguai e Argentina, região de clima temperado desse imenso país mundialmente conhecido como tropical. (A estética do Frio)

VITOR RAMIL

 


Compositor, cantor e escritor, o gaúcho Vitor Ramil começou sua carreira artística ainda adolescente, no começo dos anos 80. Aos 18 anos de idade gravou seu primeiro disco Estrela, Estrela, com a presença de músicos e arranjadores que voltaria a encontrar em trabalhos futuros, como Egberto Gismonti, Wagner Tiso e Luis Avellar, além de participações das cantoras Zizi Possi e Tetê Espíndola.
Neste período Zizi gravou algumas canções de Vitor, e Gal Costa deu sua versão para Estrela, Estrela no disco Fantasia.
1984 foi o ano de A paixão de V segundo ele próprio. Com um elenco enorme de importantes músicos brasileiros, este disco experimental e polêmico, produzido por Kleiton e Kledir, proporcionou ao público uma espécie de antevisão dos muitos caminhos que a inquietude levaria Vitor Ramil a percorrer futuramente. Eram vinte e duas canções cuja sonoridade ia da música medieval ao carnaval de rua, de orquestras completas a instrumentos de brinquedo, da eletrônica ao violão milongueiro. As letras misturavam regionalismo, poesia provençal, surrealismo e piadas. Deste disco a grande intérprete argentina Mercedes Sosa gravou a milonga Semeadura.



 
 
 
Na passagem dos anos 80 para os 90 Vitor afastou-se dos estúdios e passou a dedicar-se ao palco, pois quase não fizera shows até então. Foi quando nasceu o personagem Barão de Satolep, um nobre pelotense pálido e corcunda, alter-ego do artista. Dividindo alguns espetáculos com esta figura ao mesmo tempo divertida e mal-humorada, mesclando música, poesia, humor e teatro, Vitor começava a consolidar seu público e a aperfeiçoar sua interpretação. São desta fase os espetáculos Midnicht Satolep e Animais (em parceria com Celso Loureiro Chaves).
No período, não só se definiu a música e postura do Vitor Ramil dos discos que viriam a ser gravados na segunda metade dos anos 90 como se apresentou o Vitor Ramil escritor, através da novela Pequod, ficção criada a partir de passagens da infância do autor, de sua relação com o pai, de suas andanças pelo extremo sul do Brasil e pelo Uruguai. A partir do lançamento deste primeiro livro, em 1995, de grande repercussão junto à crítica e recentemente lançado na França, o artista passou a ocupar-se duplamente: música e literatura.
Mas mais do que pela escritura de Pequod os anos 90 ficaram marcados para Vitor Ramil como os anos em que começou a refletir sobre sua identidade de sulista e sua própria criação através do que chamou de A estética do frio. A busca dessa “estética do frio” deu-lhe a convicção de que o Rio Grande do Sul não estava à margem do centro do Brasil, mas sim no centro de uma outra história. Neste momento, significativamente, ele deixava o Rio de Janeiro para voltar a viver no Sul.
Simultaneamente a Pequod aconteceu a gravação do cd À Beça. Tendo saído apenas como edição especial, em tiragem limitada, por uma revista de música de Porto Alegre, este disco representou seu primeiro esforço de realizar algo a partir das ideias da estética do frio. Com versos leves, cheios de coloquialidade, em melodias fluentes e inusitadas concepções rítmicas, o disco antecipava os dois próximos e mais importantes trabalhos: Ramilonga – A Estética do Frio e Tambong.
Em Ramilonga – A Estética do Frio Vitor inaugura as sete cidades da milonga (ritmo comum ao Rio Grande do Sul, Uruguai e Argentina): Rigor, Profundidade, Clareza, Concisão, Pureza, Leveza e Melancolia. Através delas a poesia de onze “ramilongas” percorre o imaginário regional gaúcho mesclando o linguajar gauchesco do homem do campo à fala coloquial dos centros urbanos. A reflexão acerca da identidade de quem vive no extremo sul do Brasil começa pela recusa ao estereótipo do gauchismo; o canto forte dá lugar a uma expressividade sofisticada e suave; instrumentos convencionais são substituídos por outros, como os indianos e africanos, nunca antes reunidos neste gênero de música. Pela contundência de suas ideias, pela originalidade de sua concepção, Ramilonga é uma espécie de marco zero na carreira de Vitor Ramil.
Tambong, seu trabalho seguinte, foi gravado em Buenos Aires, sob a produção de Pedro Aznar. Seu resultado é a confirmação da ideia de estar “no centro de uma outra história”, com a musicalidade e poesia brasileiras combinadas com as dos países do Prata a fluir naturalmente em quatorze temas cujos arranjos fazem deste um dos trabalhos mais originais da moderna música brasileira.
 
 
Estrela, Estrela
 
 
Estrela, estrela
Como ser assim
Tão só, tão só
E nunca sofrer

foi no mês que vemBrilhar, brilhar
Quase sem querer
Deixar, deixar
Ser o que se é

No corpo nu
Da constelação
Estás, estás
Sobre uma das mãos

E vais e vens
Como um lampião
Ao vento frio
De um lugar qualquer

tambongÉ bom saber
Que és parte de mim
Assim como és
Parte das manhãs

Melhor, melhor
É poder gozar
Da paz, da paz
Que trazes aqui

tambongEu canto, eu canto
 
Por poder te ver
No céu, no céu
Como um balão

Eu canto e sei
Que também me vês
Aqui, aqui
Com essa canção


A LINHA FRIA DO HORIZONTE
 A Estética do Frio - na América Latina

Dirigido pelo curitibano Luciano Coelho, o documentário musical mostra a obra e o pensamento de um grupo de cancionistas do sul do Brasil, Argentina e Uruguai, que compartilham o fato de representar em seu trabalho a paisagem e o sentimento do espaço onde vivem, ignorando as fronteiras entre os países. O brasileiro Vitor Ramil, os uruguaios Daniel e Jorge Drexler e o argentino Kevin Johansen são alguns dos artistas que, por meio de suas criações, cada um à sua maneira, refletem sobre as questões da identidade local e global permeadas pelo frio. Longe do discurso separatista e das padronizações de estilo, trata-se de um filme que mapeia esse universo do Pampa Gaúcho.
 
Admirador de Ramil, Coelho resolveu investigar a extensão do impacto das temperaturas mais baixas e dos cenários que as acompanham, na produção sonora não apenas do sul do Brasil, mas do continente. Em meio à geada, esses personagens entoam milongas ultrapassando barreiras alfandegárias para discutir, melodicamente, sobre a própria região. Uma música que durante anos foi estigmatizada por sua raiz interiorana, popular e folclórica com trejeitos, temas e sotaques até hoje usados como estereótipos, mas agora tratada de uma forma ampla e universalista.

Enquanto Ramil realiza essas reflexões, os irmãos Daniel e Jorge Drexler falam em “templadismo”, uma ideia que faz alusão ao tropicalismo e introduz um debate sobre a “estética do frio” pela ótica uruguaia. Um clima com estações definidas que, consequentemente, intervém no perfil dos seus habitantes. E, na Argentina, o músico Kevin Johansen teoriza através do termo “subtropicalistas”.
 
 

 
 

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