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MÉXICO - UMA HISTÓRIA QUE "CHEIRA A SANGUE"

Seguiram-se enfáticas declarações de impotência: “É um grande desafio para o Estado mexicano”, disse o Presidente Peña Nieto. Na capital de Guerrero, jovens incendeiam símbolos do conluio entre o crime e o poder — como o parlamento regional. As ondas de indignação são cíclicas num país onde são normais as notícias macabras: “Foram encontrados 49 corpos, 43 homens e seis mulheres, na lama junto de uma auto-estrada que liga Monterrey à fronteira do Texas.”
Anota o correspondente do El País: “No México, há um dito que é quase um refrão: os mortos de hoje tapam-nos os de amanhã. Não há má notícia que outra pior não faça esquecer.” A violência é já um “problema de sanidade pública”, sublinha La Jornada: é a primeira causa de mortalidade de homens entre os 15 e os 44 anos.
Membros dos media fotografam o incêndio no Congresso da Cidade, em Chilpancingo, ateado pelos Guerreros Unidos, a 12 de Novembro JORGE DAN LOPEZ/REUTERS
A paisagem do México “cheira a sangue”, desde a guerra da independência, para não falar na conquista espanhola, escreveu Krauze. Meio milhão de mortos na “década sangrenta” que se seguiu à revolução social de 1911. A violência degenerou num culto da morte e de desprezo pela vida. Com uma diferença: os revolucionários e os caudilhos de 1911 fuzilavam mas não decapitavam os inimigos.
Os 71 anos de regime autoritário (1929-2000) do Partido Revolucionário Institucional (PRI) encerraram também violência, como o massacre de 250 estudantes na véspera dos Jogos Olímpicos do México, em 1968. “Mas, no regime do PRI, a política prevalecia sobre o narcotráfico. Hoje, os cartéis tendem a controlar as autoridades locais”, explica o politólogo Ernesto López Portillo. “Não podemos dizer que o crime organizado no México tenha sido enfraquecido”, apesar da detenção da grande maioria dos chefes. “Há bolsas onde o poder do crime prevalece sobre a autoridade local.” Uma delas é o estado de Guerreiro— onde fica a paradisíaca Acapulco.
O Estado não sabe o que fazer. Os “narcos” corrompem políticos, militares e polícias. Diz o historiador Lorenzo Meyer: “Max Weber determinou que a autoridade do Estado se baseia no monopólio da violência legítima. Parece que no México também se baseia no monopólio da violência ilegítima.”
Quando despertará o México da submissão ao culto da morte?     

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