Por João Quartim de Moraes
Sobre as relações que o conglomerado Itaú em particular e o capital financeiro em geral mantêm com Marina da Silva é só abrir aleatoriamente qualquer página econômica dos jornais do capital: Marina sobe nas pesquisas, a bolsa também sobe e os especuladores comemoram.
“O que é assaltar um banco comparado a fundar um banco?”
Sobre as relações que o conglomerado Itaú em particular e o capital financeiro em geral mantêm com Marina da Silva é só abrir aleatoriamente qualquer página econômica dos jornais do capital: Marina sobe nas pesquisas, a bolsa também sobe e os especuladores comemoram.
“O que é assaltar um banco comparado a fundar um banco?”
Bertolt Brecht
A antipatia pelos banqueiros, largamente difundida na população, tem uma explicação simples: eles escorcham os clientes. É notoriamente escandalosa a diferença (o “spread” na língua do capital financeiro) entre os juros que eles cobram pelo dinheiro que emprestam e o que eles pagam pelo dinheiro que tomam emprestado. Aqueles que, tangidos pela sede de consumo ou pelo peso das circunstâncias, atrasam o pagamento dos gastos com cartão de crédito são sangrados sem piedade. Funcionários e aposentados que têm rendimentos fixos e garantidos, mesmo que pequenos, são caça preferencial dos prepostos dos bancos. Graças ao sistema do crédito consignado, o risco de inadimplência tende a zero. O ganho é fácil e seguro.
Compreende-se o embaraço de Marina da Silva para explicar ao eleitorado popular a proteção que tem recebido desde pelo menos 2010 (quando disputou a presidência pela primeira vez) por parte do plutocrata Roberto Setubal, dono do banco Itaú. Os barões da imprensa e da TV, que também a protegem, sobretudo depois que o tucano das Gerais alçou voo de galinha, procuram ocultar a afinidade da candidata do ambiente (de negócios) com a alta finança, atribuindo-a à forte afeição que ela sente por Neca Setubal, irmã de Roberto.
O argumento é sentimental, mas obedece a um frio cálculo eleitoral. Marina está certa de recolher no segundo turno votação maciça da direita, somando seus eleitores aos do tucano depenado. Seu problema é recuperar parte do terreno que perdeu junto aos eleitores de centro-esquerda. A tarefa será árdua. Tem ficado claro para estes que o programa marinista é um neoliberalismo camuflado com verde desbotado e que ela muda de compromissos com a mesma facilidade com que muda de marca de dentifrício, como voltou a comprovar abandonando os GLBT para atender à exigência do pastor fundamentalista Malafaia.
A tropa de choque verde está treinada para requentar os velhos bordões do rançoso moralismo udenista e à medida que os prognósticos se tornam menos animadores, ao insulto puro e simples. A primeira grande baixaria veio da própria Marina, que na ânsia de rentabilizar o escândalo da Petrobras, declarou à Rede Globo, referindo-se ao PT:
“Um partido que coloca por doze anos um diretor para assaltar os cofres da Petrobras”. “Para assaltar”? perguntou um jornalista honrado. E comentou: “A desonestidade dessa afirmação [...]não tem limite nem para trás”. O diretor em questão, Paulo Roberto Costa, avançou em sua carreira na Petrobras durante os governos FHC e Lula. Como e quando corrompeu-se cabe ao aparelho judiciário esclarecer. Mas é preciso uma língua maldosa como a da beata verde para expelir “tamanha e perversa difamação”. Por isso, pondera o jornalista “não surpreende a facilidade com que Marina diz inverdades bondosas a seu respeito, atribuindo-se votos, pareceres e projetos no Senado que o Senado nunca ouviu ou leu. Sua agressividade tem este componente adicional: a inverdade”.
As intervenções de Marina da Silva no Senado lembram discursos jocosos em festas estudantis, quando oradores competem para ver quem diz mais besteira com palavras empoladas. O problema é que ela pensa estar falando sério ao declarar em latinório de araque: “a economia tem de ceder um pouco de espaço para a religião e a religião para as reflexões espirituais.[...] Estamos nos tornando cada vez mais o homem bellicus (sic) e deixando de ser o homem sapiens (sic)”.
Se a candidata não tem culpa da própria confusão mental (cada qual tem seus limites), suas injuriosas agressões revelam muita maldade sob o verniz de espiritualismo místico. Estimulados pelo mau exemplo e irados com as sondagens que situavam a falsa musa ambientalista bem atrás de Dilma nos meios populares (mas na dianteira entre os de mais altos rendimentos), os leões de chácara de seu dispositivo mediático rivalizaram em solércia para reverter as más notícias. Um certo Leonardo Souza, do plantel da Folha, compôs sob o título “A banqueira do PT está na cadeia” uma peça repulsiva, que começa com uma lambuzada bajulação da Neca Setúbal, “banqueira de Marina”, “socióloga e educadora” etc. Ela “anda de cabeça erguida e é festejada nos principais salões do país” (sem dúvida, a grã-finagem adora banqueiros). “E a banqueira do PT, onde está?” Repete a pergunta três vezes, em estilo de interrogatório policial: “esqueceram quem é a banqueira do PT? Pois a banqueira do PT dorme num banco de concreto na penitenciária José Maria Alkimin, em Minas Gerais”. De fato, Kátia Rabello, ex-presidente do Banco Rural, está cumprindo a pena que lhe foi imposta por uma corte onde pontificavam Gilmar Mendes e Joaquim Barbosa. Escarnecer de um preso é um expediente desprezível. Mas o plumitivo leva o deboche mais longe:
“Dilma Rousseff, se quisesse encontrar a banqueira de seu partido, teria de encarar a fila da penitenciária juntamente com os parentes e amigos dos demais detentos. As visitas sociais na unidade prisional José Maria Alkimin ocorrem de forma alternada [...]. Os visitantes, contudo, devem ser cadastrados e aprovados pelo NAF (Núcleo de Assistência à Família), no centro de Belo Horizonte”.
A raivosa caçoada não merece refutação. Cabe apenas lembrar, a propósito de Dilma Rousseff e penitenciárias, que quando ela foi presa, torturada e condenada pelos tribunais da ditadura militar, o jornal em que o rasteiro sicofanta publicou essas baixarias punha seus furgões de distribuição a serviço do Doi-codi. Não sei o que os magnatas Neca e Roberto pensam da ditadura, mas o pai deles, Olavo Setubal, não precisou disputar eleições para ser prefeito de São Paulo: chegou lá nomeado pelo regime de exceção.
Sobre as relações que o conglomerado Itaú em particular e o capital financeiro em geral mantêm com Marina da Silva é só abrir aleatoriamente qualquer página econômica dos jornais do capital: Marina sobe nas pesquisas, a bolsa também sobe e os especuladores comemoram; Dilma sobe, a bolsa baixa e os jornais dos ricos intensificam a intoxicação pessimista. Nada disso afeta, porém, o fluxo da riqueza monetária rumo aos cofres dos bancos. É o que informou o órgão que está por dentro do dinheiro: “Bancos aumentam juros” (Valor, 20/22-9-2014). Aumenta nas mesmas proporções o naco da Neca na mais-valia social.
A antipatia pelos banqueiros, largamente difundida na população, tem uma explicação simples: eles escorcham os clientes. É notoriamente escandalosa a diferença (o “spread” na língua do capital financeiro) entre os juros que eles cobram pelo dinheiro que emprestam e o que eles pagam pelo dinheiro que tomam emprestado. Aqueles que, tangidos pela sede de consumo ou pelo peso das circunstâncias, atrasam o pagamento dos gastos com cartão de crédito são sangrados sem piedade. Funcionários e aposentados que têm rendimentos fixos e garantidos, mesmo que pequenos, são caça preferencial dos prepostos dos bancos. Graças ao sistema do crédito consignado, o risco de inadimplência tende a zero. O ganho é fácil e seguro.
Compreende-se o embaraço de Marina da Silva para explicar ao eleitorado popular a proteção que tem recebido desde pelo menos 2010 (quando disputou a presidência pela primeira vez) por parte do plutocrata Roberto Setubal, dono do banco Itaú. Os barões da imprensa e da TV, que também a protegem, sobretudo depois que o tucano das Gerais alçou voo de galinha, procuram ocultar a afinidade da candidata do ambiente (de negócios) com a alta finança, atribuindo-a à forte afeição que ela sente por Neca Setubal, irmã de Roberto.
O argumento é sentimental, mas obedece a um frio cálculo eleitoral. Marina está certa de recolher no segundo turno votação maciça da direita, somando seus eleitores aos do tucano depenado. Seu problema é recuperar parte do terreno que perdeu junto aos eleitores de centro-esquerda. A tarefa será árdua. Tem ficado claro para estes que o programa marinista é um neoliberalismo camuflado com verde desbotado e que ela muda de compromissos com a mesma facilidade com que muda de marca de dentifrício, como voltou a comprovar abandonando os GLBT para atender à exigência do pastor fundamentalista Malafaia.
A tropa de choque verde está treinada para requentar os velhos bordões do rançoso moralismo udenista e à medida que os prognósticos se tornam menos animadores, ao insulto puro e simples. A primeira grande baixaria veio da própria Marina, que na ânsia de rentabilizar o escândalo da Petrobras, declarou à Rede Globo, referindo-se ao PT:
“Um partido que coloca por doze anos um diretor para assaltar os cofres da Petrobras”. “Para assaltar”? perguntou um jornalista honrado. E comentou: “A desonestidade dessa afirmação [...]não tem limite nem para trás”. O diretor em questão, Paulo Roberto Costa, avançou em sua carreira na Petrobras durante os governos FHC e Lula. Como e quando corrompeu-se cabe ao aparelho judiciário esclarecer. Mas é preciso uma língua maldosa como a da beata verde para expelir “tamanha e perversa difamação”. Por isso, pondera o jornalista “não surpreende a facilidade com que Marina diz inverdades bondosas a seu respeito, atribuindo-se votos, pareceres e projetos no Senado que o Senado nunca ouviu ou leu. Sua agressividade tem este componente adicional: a inverdade”.
As intervenções de Marina da Silva no Senado lembram discursos jocosos em festas estudantis, quando oradores competem para ver quem diz mais besteira com palavras empoladas. O problema é que ela pensa estar falando sério ao declarar em latinório de araque: “a economia tem de ceder um pouco de espaço para a religião e a religião para as reflexões espirituais.[...] Estamos nos tornando cada vez mais o homem bellicus (sic) e deixando de ser o homem sapiens (sic)”.
Se a candidata não tem culpa da própria confusão mental (cada qual tem seus limites), suas injuriosas agressões revelam muita maldade sob o verniz de espiritualismo místico. Estimulados pelo mau exemplo e irados com as sondagens que situavam a falsa musa ambientalista bem atrás de Dilma nos meios populares (mas na dianteira entre os de mais altos rendimentos), os leões de chácara de seu dispositivo mediático rivalizaram em solércia para reverter as más notícias. Um certo Leonardo Souza, do plantel da Folha, compôs sob o título “A banqueira do PT está na cadeia” uma peça repulsiva, que começa com uma lambuzada bajulação da Neca Setúbal, “banqueira de Marina”, “socióloga e educadora” etc. Ela “anda de cabeça erguida e é festejada nos principais salões do país” (sem dúvida, a grã-finagem adora banqueiros). “E a banqueira do PT, onde está?” Repete a pergunta três vezes, em estilo de interrogatório policial: “esqueceram quem é a banqueira do PT? Pois a banqueira do PT dorme num banco de concreto na penitenciária José Maria Alkimin, em Minas Gerais”. De fato, Kátia Rabello, ex-presidente do Banco Rural, está cumprindo a pena que lhe foi imposta por uma corte onde pontificavam Gilmar Mendes e Joaquim Barbosa. Escarnecer de um preso é um expediente desprezível. Mas o plumitivo leva o deboche mais longe:
“Dilma Rousseff, se quisesse encontrar a banqueira de seu partido, teria de encarar a fila da penitenciária juntamente com os parentes e amigos dos demais detentos. As visitas sociais na unidade prisional José Maria Alkimin ocorrem de forma alternada [...]. Os visitantes, contudo, devem ser cadastrados e aprovados pelo NAF (Núcleo de Assistência à Família), no centro de Belo Horizonte”.
A raivosa caçoada não merece refutação. Cabe apenas lembrar, a propósito de Dilma Rousseff e penitenciárias, que quando ela foi presa, torturada e condenada pelos tribunais da ditadura militar, o jornal em que o rasteiro sicofanta publicou essas baixarias punha seus furgões de distribuição a serviço do Doi-codi. Não sei o que os magnatas Neca e Roberto pensam da ditadura, mas o pai deles, Olavo Setubal, não precisou disputar eleições para ser prefeito de São Paulo: chegou lá nomeado pelo regime de exceção.
Sobre as relações que o conglomerado Itaú em particular e o capital financeiro em geral mantêm com Marina da Silva é só abrir aleatoriamente qualquer página econômica dos jornais do capital: Marina sobe nas pesquisas, a bolsa também sobe e os especuladores comemoram; Dilma sobe, a bolsa baixa e os jornais dos ricos intensificam a intoxicação pessimista. Nada disso afeta, porém, o fluxo da riqueza monetária rumo aos cofres dos bancos. É o que informou o órgão que está por dentro do dinheiro: “Bancos aumentam juros” (Valor, 20/22-9-2014). Aumenta nas mesmas proporções o naco da Neca na mais-valia social.
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